Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) está a desenvolver, para a indústria aeronáutica, um revestimento inteligente que, quando aplicado à fuselagem dos aviões, repara, como se de pele se tratasse, pequenas rupturas resultantes de impactos mecânicos e ambientais sofridos pelos aparelhos durante o voo. Constituído por nano-contentores com uma espessura mil vezes mais pequena da de um fio de cabelo, que libertam do seu interior moléculas ‘restauradoras’ sempre que necessário, o revestimento vai ser utilizado por um dos maiores fabricantes mundiais de aviões comerciais, a EADS. Para além da empresa proprietária da AIRBUS, que prevê estar a voar com a protecção da UA em 2013, também há grandes nomes da indústria automóvel, das plataformas petrolíferas e das ventoinhas eólicas em lista de espera para aplicarem nos seus equipamentos o revestimento revolucionário desenvolvido pelo Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos (CICECO) da UA. "A funcionalidade de auto-reparação é introduzida nos aviões através dos nossos nano-contentores que são incorporados nas tintas utilizadas no revestimento dos aparelhos", explica Mikhail Zheludkevich, coordenador da investigação do grupo da Engenharia de Superfície e Protecção Contra Corrosão do CICECO. "Com esta abordagem", garante o investigador da UA, "a segurança, a performance e a sustentabilidade a longo prazo dos aviões podem ser significativamente melhoradas". A equipa do CICECO está ainda a trabalhar num outro projecto não só a pensar na AIRBUS como também noutros gigantes da aviação europeia, caso da Alenia Aermacchi, da Bombardier Aerospace ou da Israel Aerospace Industries. Trata-se igualmente de um revestimento inteligente que, por sua vez, liberta uma solução fluorescente à volta de fissuras resultantes de impactos mecânicos ocorridos quer durante a montagem quer durante a exploração das aeronaves. Estas falhas no material têm muitas vezes tamanhos microscópicos, mas são altamente perigosas se não forem detectados em terra, já que tendem a alastrar durante o voo. A fluorescência tem a grande vantagem de, ao tornar visíveis a olho nu a localização das falhas do material, evitar que o avião siga viagem com uma imperfeição não detectada pelas equipas de manutenção. Para além disso, o tempo que o aparelho fica em terra para ser vistoriado com segurança é drasticamente reduzido, o que para as empresas de aviação representa uma melhor rentabilização dos aparelhos. O CICECO prevê que dentro de quatro anos este revestimento inteligente com sensores de impacto mecânico possa já estar a sobrevoar os céus do planeta. Os dois projetos da UA, cujos investigadores liderados por Mikhail Zheludkevich estão na vanguarda mundial do desenvolvimento de nano-contentores para revestimentos inteligentes, resultam da participação da academia nos projectos MUST e SARISTU, do 7.º Programa-Quadro da União Europeia, onde estão também presentes outros 80 nomes maiores quer da investigação quer do sector industrial do velho continente. Com o patrocínio da União Europeia, o MUST e o SARISTU têm por objectivos melhorar a competitividade da indústria europeia através do desenvolvimento de revestimentos inteligentes. Diário de Aveiro |