25 ANOS DE UMA INSTITUIÇÃO QUE SE FAZ DE VIDAS… REFEITAS

“Foi o melhor período da minha adolescência. Fizeram-me sentir que era gente. Que era importante. Que tudo ia correr bem. Foi quando tive alguém que me desse carinho, que me chamasse à atenção e se importasse comigo. Foi isso que me deu força e me fez ganhar coragem para continuar em frente. E ter um futuro”. As palavras escorrem do coração de Rosa, ao mesmo tempo que as lágrimas se formam nos seus olhos. É a primeira vez que se emociona. Já falou do “pior momento” da sua vida, quando, aos 9 anos, lhe roubaram a infância. Obrigaram-na a trabalhar. Impediram-na de ver os pais. E ainda lhe deixaram “chagas e cicatrizes” que a acompanharam desde então. Porém, são as marcas dos cerca de dois anos que passou no, então, Centro de Acolhimento e Emergência Infantil de Aveiro, que a levam às lágrimas. Rosa “não era assim”, garante. “São as hormonas”, justifica, enquanto espreita pela enésima vez o sono do “anjo em forma de filho”, que tem ao seu lado, e “para a vida”, desde há três meses.
A história dos 25 anos da instituição – que entretanto deixou cair o termo “Emergência” do seu nome – faz-se de vidas refeitas. De vitórias de gente que entrou na vida a perder. E que deu a volta. A maioria terá dado a volta, acreditemos. Rosa deu a volta. Hoje, aos 37 anos, é uma mulher de sorriso fácil. Que se emociona, sim, mas que mesmo isso deve, em parte, aos cerca de dois anos que passou junto a quem a ajudou a sentir-se gente. Já lá vão quase 25 anos.
Voltemos essas duas décadas e meia e mais uns meses atrás. No dia 7 de Maio de 1990 o Centro de Acolhimento Infantil (CAT) de Aveiro recebia a primeira criança da sua história. Desde então, tornou-se o vaso onde as raízes de inúmeras crianças desprotegidas, abandonadas ou negligenciadas se voltaram a ligar à vida. Onde foram beber os valores que as fortaleceram, recebendo uma luz que começou por as guiar para um novo caminho. É isso que se festeja aqui. Esses 25 anos que, amanhã, têm o ponto alto das comemorações. Desengane-se, não cantar dar os parabéns a ninguém. Passamos directamente para os agradecimentos. Em forma das tais vidas recuperadas. Como é dia de festa, vamos abrir os presentes de três vidas com um passado que ganhou um futuro incondicional, no CAT. Onde se aprende que “tudo vai correr bem”.


Diário de Aveiro


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