Na passada, sexta-feira, iniciaram-se em Atenas os Jogos da XXVIII Olimpíada dos tempos modernos. A globalização do desporto do nosso tempo obriga e impõe que o mundo inteiro foque a sua atenção neste mega evento desportivo que, durante 16 dias, decorrerá na capital grega Atenas. Assim também foi durante quase dois milénios no antigo mundo helénico. As diferenças e as semelhanças foram brilhantemente explicadas e demonstradas em fabulosos documentários televisivos que tive a sorte de poder ver na RTP durante a semana que terminou. À capital grega convergiram e já competem milhares de atletas, oriundos de todos os continentes. A procura da glória eterna ou o quase encontro com os deuses como nos antigos tempos, deu origem, na idade moderna, à procura da excelência dos dotes físicos a par da conquista de marcas extraordinárias e vitórias fantásticas. Mas importa não esquecer o verdadeiro espírito olímpico. Esse, que está enunciado na carta olímpica e que tendemos a esquecer com a mediatização das marcas alcançadas, com a globalização dos patrocínios, com a espectarularidade e fausto das cerimónias de abertura e com a contabilidade funesta das medalhas alcançadas. O Olimpismo tal como enunciado e aceite por todos preconiza uma filosofia de vida baseada na exaltação e desenvolvimento harmonioso do corpo, da vontade e do espírito, coloca como meta fundamental a educação humana, assenta no valor do esforço e da dedicação como bom exemplo e valoriza o respeito por valores éticos fundamentais. A amizade entre as nações, a manutenção da paz e da harmonia e a libertação de preconceitos éticos são também valores enunciados na mesma carta. Não me parece que estejamos na era moderna de materialismo imbuídos do espírito inicial dos jogos. Mas essa parece ser uma sina que nem os antigos gregos souberam ultrapassar, pois os jogos muitas vezes eram quase bárbaros. A barbárie moderna é talvez a droga do dopping ou a vontade de fazer dinheiro através de não jogar limpo, porque o mercantilismo e o comércio em volta dos atletas sempre existiram e a recompensa, em dinheiro ou comendas, é assim desde os jogos olímpicos antigos. A outra praga moderna é a afirmação política através dos jogos. Foi assim durante a Alemanha Nazi, assim foi regra com os antigos países comunistas e assim será para todo o sempre. Está na natureza da conquista do poder pelos humanos. A única coisa que os antigos gregos faziam e que ainda está ao nosso alcance é parar as guerras durante os jogos. Eu sei que eram só 15 dias, mas tinha graça e poupava muitas vidas humanas. Mas deixemo-nos de filosofias e rejubilemos com a medalha de prata do nosso ciclista Sérgio Paulinho. Gostei de ver, sábado passado, a sua perfomance e reafirmação do seu grande sentido táctico irrepreensível. Para mim, os JO sempre serão os jogos dos atletas singulares e por isso eu vibro com o esforço individual de modalidades como o ciclismo, a natação ou o atletismo. As citadas modalidades e outras que exigem verdadeiros esforços sobre-humanos no seu treino diário e uma capacidade de sofrimento notável para se poder alcançar o direito de participar nos jogos devem ter o seu momento de glória nos Jogos Olímpicos. Esperemos para ver e tenhamos alguma fé nos nossos atletas e não nas nossas vedetas.
António Granjeia Administrador do Jornal da Bairrada Diário de Aveiro |
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