Achei, na altura, acertada a decisão do Presidente da República ao empossar este governo do Dr. Santana Lopes. Escrevi-o no editorial do JB na sua edição 1748 : “Pelo menos assim o novo governo da coligação não tem desculpas para não governar e a oposição poderá avaliar o seu trabalho no final do mandato, propondo então alternativas para a governação de Portugal” Não poderia imaginar que um discretíssimo ministro que quase ninguém conhecia, pudesse ter uma despedida tão estrondosa e bombástica e com isso provocar uma crise de identidade e liderança no governo. Deveremos somar a este triste facto a querela sobre como os partidos da coligação se irão apresentar a eleições em 2006, mesmo que esta discussão seja patrocinada pelos opositores do actual PM. Estas questiúnculas e dissensões, quer se queira quer não, vão minando o Governo de Portugal, e retirando margem de manobra ao Presidente da República. A partir de agora, vamos presenciar um aumento da pressão política de toda a esquerda parlamentar e cível sobre o governo e o Dr Jorge Sampaio. Basta avaliar que, depois da demissão do ministro, Sócrates, Louçã e o novel SG do PCP, Jerónimo de Sousa, já se atiraram, com unhas e dentes ao Governo e travaram-se de razões com o Dr. Sampaio. O Dr. Santana Lopes e os seus amigos ministros deram-lhes essa oportunidade. Se juntarmos a estes factos as declarações de Cavaco Silva, no fim-de-semana, o Dr. Santana só pode esperar complicações. Também neste âmbito Santana Lopes está a ficar isolado. Neste momento, não tem candidato a Presidente da República e Cavaco Silva começa claramente a jogar na sua aparição como figura de messias salvador, aproveitando a sua imagem como anterior primeiro-ministro. Criticando à direita, obtém apoios circunstanciais à esquerda. Evidenciando a incompetência dos actuais políticos no activo, abre espaço ao seu retorno e prepara a sua candidatura a Belém. Mas Cavaco, ao aparecer desta forma, prepara-se também para o eventual desconforto de ter que avançar, mesmo que os dirigentes do seu partido o apoiem, contrariados. Estas contrariedades parecem-me ser o resultado do Dr. Santana ter ficado deslumbrado com o facto de poder vir a ser 1º ministro e ter formado um governo de amigos, e não o de ter procurado um governo mais consistente. Está à vista no que deu. Estes, citando o dito popular, devem ser os tais “amigos de Peniche”. Também me parece claro que ou Santana Lopes domina as suas hostes no partido e no governo ou Sampaio juntará argumentos suficientes para vir dizer aos portugueses ter dado uma oportunidade ao Governo, mas que este a falhou. E desta vez só restarão eleições antecipadas. António Granjeia* *Administrador do Jornal da BairradaDiário de Aveiro |