INICIATIVA REALIZOU-SE NO PASSADO SÁBADO

A ceia serrana, que desta vez se realizou, no último sábado, na aldeia serrana de Sernada, no concelho de Águeda, já foi partilhada em tempos por 700 pessoas. Agora, 22 anos depois, apenas 150 sobem à serra para provar os sabores e paladares genuínos, característicos das aldeias viradas para as colinas do Rio Alfusqueiro.

“A diminuir”

Francisco Silva, fundador da Ceia Serrana, explicou, no último sábado, à noite, que “o número de convivas, que se junta à volta da mesma mesa, tem vindo a diminuir, drasticamente, nos últimos quatro anos”.

Aponta como causa a recessão que o país vive e, em particular, o elevado índice de desemprego que se regista no concelho de Águeda, agravado, recentemente, pelo fecho de várias empresas”.

Entretanto, Francisco Silva, metalúrgico de profissão, amante de tudo aquilo que é serrano, diz que lutará com unhas e dentes, para que a tradição se mantenha, confidencializando mesmo que “quantos menos participantes a ceia tiver, mais se pode implementar o verdadeiro espírito da partilha à volta da mesa”.

“Com cem pessoas podemos fazer uma partilha de tarefas entre todos, agora com 500 é impossível”, refere o fundador da ceia, salientando que a primeira ceia teve 15 pessoas e que todos os anos é realizada numa aldeia serrana diferente.

“Núcleo de fiéis”

Por sua vez, Manuel Farias, presidente da Associação Etnográfica “Os Serranos” e responsável pela iniciativa, salienta que “há um núcleo de fiéis, cerca de 150, que começa a implementar, de forma perfeita, o culto da generosidade e que nunca deixará cair o evento”.

Explica ainda que “a generosidade começa pelo dono da casa, José Vidal, onde se realiza a ceia que se predispõe a fornecer parte da ementa e termina em todos aqueles que têm de trazer os pratos e garfos de casa para comer”.

“É um gosto de quem vive na serra, ama e transforma as ceias num verdadeiro ritual de degustação divina”, sublinha Manuel Farias.

Caixa

Ementa

A ementa tem a simplicidade e a força da tradição serrana. Assim que os convivas começaram a chegar, dirigiram-se para a adega, onde provaram o mel da casa, acompanhado de cebola ou maça azeda, suavizados pelo vinho novo.

A seguir, depois de terem sido encaminhados para as mesas espalhadas pelo pátio de entrada, foi servido o escoado (batatas, couves, bacalhau, e a sardinha amarelecida da salgadeira), regado com azeite novo e alho, e tudo acompanhado pelo vinho tinto caseiro.

Para o final ficaram os rojões e a chouriça serrana que foram saboreados com nabiças novas. As rabanadas e a aletria acompanharam o café final.

Pedro Fontes da Costa
pedro@jb.pt
Diário de Aveiro



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