Neste ano sexto do terceiro milénio Queria dizer o que foi o primeiro Que na ampulheta do tempo se esvaiu Como grão de areia sem destino. Ele foi testemunha de mil progressos e aventuras Fantásticas descobertas Façanhas, guerras, mortes e desventuras. Milénio, em que do homem o génio Conquistou novas alturas. Pisou na lua, entreviu o solo dos planetas Ultrapassou o som Conquistou a força do átomo Codificou o Genoma e o DNA Fez avanços impossíveis na Genética Descobriu o computador, e na Ciência Atingiu alturas nunca ultrapassadas. Milénio de progresso e de glória Como outro nunca houve em toda a História. Milénio de desgraças Guerras cruentas e holocaustos Perseguições, sadismo? Em toda a parte o génio floriu: Na técnica, na ciência, na poesia e nas artes. Fizeram-se guerras “santas” Em nome do “Príncipe da Paz” Pintado nos estandartes Flutuando ao vento junto das fogueiras Em nome de Deus. Derramou-se o sangue dos inocentes. Mataram-se milhões de crentes e não crentes... O cardo do ódio envenenou O hoje e o tempo que há-se vir. Em Jerusalém, a raiva é tanta Que a Cidade Santa está prestes a explodir. Milénio de descobertas e conquistas De civilização que ainda perdura. Levou-se o Evangelho ao negro E empenhou-se a honra No negócio da escravatura. Milénio de abnegação e bondade De pureza de espírito e santidade Do que é bom e perdura No coração do homem E torna divina a sua aventura, sobre a crosta retalhada E de sangue regada do planeta. Quando chegará a hora da profecia Em que se juntam o humano e o universal? Será este o milénio da destruição final? Que o digam os sábios e eruditos E os que falam com Deus todos os dias E benzem com azeite das almotolias Os que padecem as dores do mundo E pagam em metal legal As profecias? No cômputo do tempo esta ansiedade persiste Se saber que o futuro não chegou E que o passado não mais existe. Vivemos a hora da nossa hora. A hora da eternidade. Nós somos as dores do milénio.Manuel Calado* *Jornalista nos EUADiário de Aveiro |