O nome Henri Castelli poderá não dizer muito, mas o nome Pedro Assumpção, da telenovela brasileira "Belíssima", que passa na SIC, é bem mais conhecido do público português e será, este ano, o rei do corso carnavalesco mais brasileiro de Portugal - o da Mealhada. A presença do actor brasileiro, na edição de 2006, do Carnaval da Mealhada, foi apresentada, na última terça-feira, dia 24 de Janeiro, na sede da Associação de Carnaval da Bairrada. São aguardados cerca de 30 mil visitantesÁlvaro Miranda, presidente da direcção da Associação do Carnaval da Bairrada, revelou ainda que ao lado do rei, e à semelhança de anteriores edições, estará a rainha, este ano, Vanessa Santos, eleita Miss Bairrada 2005, que irá fazer-se acompanhar das respectivas damas de honor. A festa - que se prevê muito animada - começa na sexta-feira, dia 24 e só terminará na terça-feira de Carnaval, dia 28. Ao longo de cinco dias, Álvaro Miranda admite que o programa elaborado irá arrastar à capital do Leitão vários milhares de visitantes. Assim, nos dois dias de corso (Domingo Gordo e Terça-feira de Carnaval), a Associação de Carnaval da Bairrada, organizadora do evento, acredita que, se o bom tempo o permitir, o sambódromo Luís Marques irá receber cerca de 30 mil visitantes que poderão assistir ao desfile pelo mesmo preço do ano passado (seis euros). “Aqueles que optarem por um lugar sentado, na bancada, terão de desembolsar mais três euros”, acrescentaria Álvaro Miranda, sublinhando também o facto de, este ano, haver mais uma escola a desfilar. Serão seis, o que se traduz em mais de dois mil figurantes que, no sambódromo, vão desfilar, intercaladas com grupos de rua/crítica, também já habituais neste corso, dando uma outra dimensão e brilho ao Carnaval da Mealhada. Temas para todos os gostosCom início previsto para as 15.30 horas, no corso de 2006 a escola de samba “Grés Real Imperatriz” irá apresentar-se numa alusão ao “Império Islâmico”, enquanto que o “Grés Batuque” optou por um tema mais ecológico “Reciclagem”. O Grupo de Samba “Sócios da Mangueira” vai desfilar ao som da “Magia” e a escola de Samba Juventude de Paquetá seleccionou como tema “o Rock & Roll - o sonho ainda não acabou”. “Samba sabor a chocolate” foi a escolha do Grés “Amigos da Tijuca”para o corso que, como já avançámos, irá contar com a participação de uma nova escola “Gres Samba no Pé, de Sepins, Cantanhede, que desfilará ao som de “O enigma do Faraó”. A encerrar o corso, o carro do rei, ou seja, o momento mais aguardado por todos que, acotovelando-se, tentarão fotografar ou “sacar” um autógrafo ou até mesmo um beijo ao artista brasileiro. 180 mil euros Com um orçamento de 180 mil euros, o corso mealhadense irá contar também com o habitual subsídio camarário -75 mil euros, no entanto, Álvaro Miranda avançou ainda que “no caso das condições climatéricas se apresentarem adversas e impedirem a saída do corso, a autarquia poderá contribuir com um subsídio complementar de 25 mil euros”. Mas Álvaro Miranda e os seus pares acreditam que S.Pedro irá ser generoso, permitindo que os foliões bairradinos e visitantes se deliciem com os belíssimos carros e indumentárias que se encontram já na recta final de confecção, até porque já falta menos de um mês para o Carnaval. Em jeito de brincadeira, Álvaro Miranda referiu também à comunicação social presente que “como o rei “morreu” no início da telenovela, irá, agora, ser “ressuscitado” no Carnaval da Mealhada" que continua a ter como padrinho o não menos conhecido actor brasileiro Óscar Magrini, que interpreta o papel de Júlio César, na telenovela New Wave, também da SIC. Programa atractivo e diversificadoÀ semelhança de anos anteriores, também o Circo Victor Hugo Cardinali marcará presença. Aliás, este circo é já presença obrigatória no Carnaval da Mealhada uma vez que a Câmara Municipal aproveita a quadra para trazer todas as crianças (mais de duas mil) que frequentam as escolas do concelho e todos os idosos ao circo. Mas, como o Carnaval da Mealhada não se limita aos dois dias dos desfiles, a organização preparou um programa muito atractivo e diversificado, que durará cinco dias. Assim, na sexta-feira, dia 24, a Tenda Gigante, instalada no sambódromo, vai ser palco da apresentação das seis escolas de samba e da actuação do Grupo Pagode Roda de Samba. A festa terminará, pela madrugada dentro, ao som dos Dj’s convidados. No dia seguinte, sábado, dia 25, a festa faz-se ao ritmo do reportório dos TV5, terminando a noite, já a altas horas das madrugada, ao som dos Dj’s convidados. Acrescente-se ainda que, só neste dia, a entrada na tenda gigante, que receberá também as tasquinhas gastronómicas, será paga (5 euros) devido ao espectáculo dos TV5, enquanto que nos restantes dias é totalmente gratuita. No domingo, o desfile começa às 15.30 horas. O corso promete levar a multidão ao rubro com o frenesim do samba, acompanhado pelo sempre espectacular Circo Victor Hugo Cardinalli. Neste dia à noite, a tenda gigante receberá duas escolas de samba (Real Imperatriz e Juventude de Paquetá), um grupo de pagode “Sambaê” e os DJ’s. Na segunda-feira, dia 27, será a noite tropical com a escola “Samba no Pé”, o grupo de pagode “Samba Lêlê” e os DJ’s. No dia de terça-feira, após o grandioso desfile a tenda gigante receberá, após as 22.30 horas, “queimar” as últimas horas de folia e diversão ao som das escolas “Amigos da Tijuca” e “Sócios da Mangueira”, mas também do grupo de pagode “Sambaê” e DJ,s convidados. Tradicional é também o famoso vinho da Bairrada. Assim, a Festa do Vinho voltará a estar presente no sambódromo. Como nas anteriores edições, esta oferta gratuita de vinho da região, em pipos localizados estrategicamente ao longo do corso, só é possível graças ao patrocínio das Caves Messias e da Adega Cooperativa da Mealhada. Algum Historial do Carnaval da Mealhada (CAIXA) À semelhança do que acontecia em outras terras bairradinas, o Carnaval não passava despercebido entre as gentes do Concelho da Mealhada. Vivem ainda algumas pessoas, embora já com idade avançada, recordando com saudades os Entrudos do seu tempo de infância ou juventude, com as rusgas de mascarados, as engenhocas partidas de Carnaval, os jogos próprios da quadra carnavalesca, exibidas por foliões nas ruas e nos bailes, as cartas anónimas com brincalhonas declarações de amor e os apupos nocturnos e os entremezes de rua como formas de crítica a situações sociais e comportamentos pessoais menos aceitáveis para todos os padrões da época. Não falta também quem se lembre, pelo menos na Mealhada e em Sernadelo, da Festa do Galo, na manhã de Domingo Gordo, que consiste num desfile dos alunos de cada escola ou de cada turma até à casa da sua professora ou do seu professor para lhe oferecerem um galo. Esse galo era transportado num pequeno carro, muitas vezes construído expressamente para o efeito, engalanado com serpentinas e flores de mimosa. Era este, essencialmente o Carnaval. A pouco e pouco, a tradição foi cedendo lugar à modernidade e ás formas de viver o Carnaval. Primeiro, segundo informações do Dr. Breda Carvalho, surgiu um cortejo carnavalesco em 1914, na Mealhada. Depois foram os festejos de 1957 e 1958. Em 1957, com um pequeno cortejo carnavalesco em que a principal componente era o grupo dos Escoceses e um desafio de futebol cómico entre os ditos Escoceses e jogadores do Grupo Desportiva da Mealhada.
Em 1958, com outro pequeno cortejo e uma garraiada cómica, em praça de touros desmontável, dentro do campo de futebol da Mealhada. Como estrela destas festas o Exmo. Sr. António José de Oliveira, o Macaca, que foi o líder dos Escoceses, em 1957, e palhaço - toureiro na garraiada de 1958. Em 1970, um pequeno grupo de mordomos da festa de Santa Ana, com Luís Marques à cabeça, deliberou organizar na Vila da Mealhada uns festejos de Carnaval modernos, de grande envergadura, à semelhança do que então se fazia em Ovar. Constariam esses festejos da chegada do rei, de garraiada cómica e baile nocturno, no Domingo Magro, e de cortejos e bailes no Domingo Gordo e na Terça-feira de Entrudo. Como atractivo principal da festa foi garantida a participação de grande parte dos Estudantes Brasileiros da Universidade de Coimbra, com os seus ritmos de Samba. A população da Mealhada aderiu à ideia e os festejos fizeram-se. No Domingo e na Terça-feira de Entrudo de 1971, respectivamente nos dias 21 e 23 de Fevereiro, a Vila da Mealhada encheu-se de gente, vinda de todo o lado para ver os cortejos. Os Índios do Macacu, com o já referido António José de Oliveira, ou Macaca, como era conhecido deliciaram a assistência com os seus carros alegóricos, cómicos ou de critica e os brasileiros magnetizaram novos e velhos, com o seu samba, nos cortejos e bailes. Estava demonstrado que o Carnaval da Mealhada tinha pernas para andar. E andar, melhorando de ano para o ano, até 1975. Absorvidos pelas tarefas locais do processo de transformação política iniciado com a resolução do 25 de Abril de 1974, a maior parte dos membros da Comissão do Carnaval ficou sem tempo livre para a organização dos festejos carnavalescos. Por isso estes não se realizaram em 1976 e 1977. Ressurgiram em 1978, novamente com Luís Marques à cabeça, mas com algumas diferenças em relação às edições anteriores. Os estudantes brasileiros deixaram de frequentar a Universidade de Coimbra e, como consequência obviamente não puderam mais participar nos festejos carnavalescos da Mealhada. Em sua substituição formaram-se alguns grupos de samba Mealhadenses, incipientes ainda, é certo, mas já, com a noção do essencial da técnica, da dinâmica e do espírito de samba. Foi também neste ano que se acrescentou aos cortejos de Domingo e Terça-feira de Entrudo a chamada Festa do Vinho, com distribuição gratuita desta bebida aos espectadores dos cortejos, e foi rei do Carnaval, pela primeira vez, um actor de uma telenovela brasileira. Esse actor era Jaime Barcelos, o Dr. Ezequiel, da telenovela Gabriela, em exibição no canal 1da RTP. Como bom bebedor e folgazão a figura do Dr. Ezequiel adequava-se perfeitamente ao Carnaval da Bairrada e à festa do vinho que dele fazia parte. O sucesso da presença deste artista deu ânimo à Comissão do Carnaval para assegurar a presença de outros actores nos festejos do Carnaval dos anos seguintes, prática que se vem mantendo até hoje. Com o decorrer dos anos, o número dos grupos de samba cresceu e cada um passou a dispor de mais componentes. Cresceu também a qualidade das suas interpretações musicais e coreografias, bem como o nível dos trajes que envergam.
Catarina CercaDiário de Aveiro |