ESSES FALSOS ISLAMITAS APENAS DESGASTAM A IMAGEM...

Já passou um tempo razoável de histérica demagogia em que o mundo ocidental entrou por causa de uns desenhos que, por muito mal intencionados com que tenham sido produzidos, não passaram disso mesmo, de uns desenhos, para que possamos fazer um juízo mais desapaixonado.

Primeiramente, a questão foi claramente empolada, revisitada, trabalhada, manipulada, para que pudesse ser despoletada, como se de uma verdadeira bomba relógio se tratasse, na altura mais conveniente aos olhos de alguns pretensos defensores do Islão.

Conhecedores da forma como os média ocidentais funcionam e reagem, sabedores que os atentados no Irão já são rotineiros e que só incomodam os americanos, que estão em casa, instruídos nas fraquezas de espírito de quase todos os políticos ocidentais preparam milimétricamente esta operação.

Esses falsos islamitas apenas desgastam a imagem de tolerância dum Islão moderado com quem, durante séculos, convivemos e cujos povos também fazem parte da nossa herança cultural.

Não é normal que um desenho dito humorístico ganhe as proporções que tomou. Não é vulgar que uma publicação desconhecida ganhe tanto mediatismo, desajustadamente. Só, na era dum consumismo mediático exagerado e sem regras, isso pode acontecer. As televisões e alguns jornais, ditos de referência, passam em horário nobre ou publicam alguma da informação, não pelo seu intrínseco valor jornalístico ou de denúncia, mas, sim, pelo seu valor de audiência ou entretenimento. Por isso, não se estranha a desproporção da publicidade. Os cartoons deixaram de traduzir uma opinião de alguém para se tornaram no suporte de um espectáculo televisivo à escala mundial.

Mas também não é razoável que o medo dos atentados tenha proliferado nas mentes dos políticos europeus, mais preocupados com a segurança material do que com a segurança dos valores que pretensamente dizem defender. Não é pois racional que perante o terrorismo e as ameaças contra o mundo ocidental, se escolha a complacência e a cedência como estratégia para uma eventual salvaguarda dos nossos bens e cultura.

José Maria Aznar, ex-primeiro-ministro de Espanha, referenciou este facto numa recente conferência afirmando; “genericamente e essencialmente na Europa, houve uma reacção duvidosa correspondente ao medo, sendo que as suas reacções às acções violentas dos extremistas islâmicos foram pouco mais do que razoavelmente mornas." Na excepcional lição que proferiu Aznar, disse ainda; “a tolerância é o respeito pela lei e a diferença entre as teocracias Islamistas e os regimes democráticos ocidentais é a existência da tolerância, que advém da liberdade de opinião. Quem se sente desrespeitado recorre aos tribunais, não incendeia embaixadas”

Foi este tipo de atitude complacente, aliada à crise de valores humanistas e cristãos, própria da cultura ocidental e ao desenraizamento, muitas vezes voluntário de comunidades de emigrantes na Europa, que provocou ou induziu os recentes distúrbios em França.

Muitos outros pensadores ou políticos partilham desta visão no mundo ocidental e não são por isso cabos de guerra ou amantes dos conflitos belicistas. Um deles, António Barreto, escreveu em 11 de Abril de 2004 no público; ” Sou ocidental, considero que a dita civilização do mesmo nome é a principal obreira, nos tempos modernos, da liberdade e da dignidade do indivíduo, sendo também a que, nos últimos séculos, mais contribuíu para o desenvolvimento da cultura e das ciências. Penso também que, mau grado horrores recentes conhecidos, pertencem a essa área do mundo praticamente todos os exemplos de vida decente. Sei que esta civilização está sob ameaça séria, dos seus próprios defeitos, com certeza, mas sobretudo dos seus inimigos, que a querem simplesmente destruir e conquistar.”

António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada
Diário de Aveiro



Portal d'Aveiro - www.aveiro.co.pt