Um grupo de cidadãos apresentou em Aveiro, a recém-criada comissão de utentes da A29 e A17, que contesta a colocação de portagens naquelas auto-estradas e pretende "mobilizar os descontentes" para levar o Governo a rever a decisão. ”Criar desemprego” O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, anunciou, em 18 de Outubro, a introdução de portagens nas auto-estradas sem custos para o utilizador (SCUT) do Norte Litoral, Costa da Prata e Grande Porto. Mas logo surgiu um grupo que se prontificou a contestar a introdução das ditas portagens. Segundo Miguel Bento, um dos dinamizadores da iniciativa apresentada, a comissão é constituída por um grupo de pessoas que vive em municípios atravessados pela A29 (Porto-Estarreja) e A17 (Aveiro-Mira) ou que as utiliza por razões profissionais, e que não tem alternativa para as suas deslocações. "Com esta medida - a introdução de portagens - o Governo deita por terra milhares de votos de eleitores do distrito que votaram no PS, que na campanha eleitoral assumiu que não ia colocar portagens nas SCUT", comentou Miguel Bento. Quanto aos estudos que serviram de base à decisão governamental, a comissão de utentes contrapõe com "a crise sentida de forma óbvia e clara" na região. É que "vivemos num distrito que tem cada vez mais dificuldades e a colocação de portagens vai indirectamente criar mais desemprego e possivelmente levar ao encerramento de mais empresas", disse. A comissão deu ainda a conhecer que tem blogue (A17eA29semportagens.blogspot.com) onde são prestadas informações sobre as actividades do grupo de utentes e disponibiliza um abaixo-assinado de protesto pela colocação de portagens naquelas duas vias. "Mas não vamos ficar fechados num blogue da Internet, vamos para a rua", frisou, adiantando que ainda estão em estudo diversas iniciativas de protesto. Transportes Públicos uma realidade inexistente Miguel Bento referiu ainda que num momento em que cada vez mais as pessoas têm que ir trabalhar, estudar, ou mesmo participar em actos culturais, em concelhos longe dos seus locais de residência, a rede de transportes públicos é absolutamente incipiente. Pois, pense-se numa deslocação de Aveiro para a Feira, de Estarreja para Ílhavo, de Vagos para Ovar, e obrigatoriamente se percebe que não há outra alternativa senão ir de carro. “Cada vez temos menos horários de comboios da CP, menos carreiras regulares de autocarros, a Linha do Vouga continua ao abandono”, acrescenta um dos elementos da Comissão de utentes da A29 e A17. 109 - “O Trânsito não consegue romper” Ivar Corceiro, outro elemento da comissão, residente em Aveiro e a trabalhar em Espinho, deu o seu exemplo pessoal e acentuou que a EN 109 não serve de alternativa. Justifica que usa diariamente a A29 e, pelas suas contas, com portagens, o percurso entre Aveiro e o Porto obrigará a gastar mais 100 euros por mês. "A EN109 foi desmembrada para construir a A29 e tem alguns troços que já são de gestão municipal, com centenas de passadeiras e dezenas de semáforos", afirmou Ivar Corceiro. "Fazendo o percurso pela 109 temos de atravessar ruas sem passeios, com perigo para os peões, e zonas onde circulam crianças, como em Avanca e em Esmoriz", salienta. Segundo a comissão de utentes, o percurso não se faz em menos de duas horas e, "em dias de feira em Espinho e Estarreja, o trânsito não consegue romper". “Fomos demasiado castigados” Quem também não concorda com a introdução de portagens na A17, é a presidente da Junta de Freguesia de Ouca que tem na sua freguesia uma das saídas da A17. Maria de Jesus Oliveira afirma que “a povoação de Ouca já foi castigada, severamente, durante a construção da A17, e agora ainda querem introduzir portagens”. Maria Oliveirarecordao doloroso tempo em que a A17 foi construída e que os lençóis freáticos ficaram afectados, deixando muitas pessoas sem água. “Situações que ainda não foram, em alguns casos, repostas”. A autarca refere ainda que “muitas pessoas utilizam aquela via quando vão para Aveiro, por tal não faz nenhum sentido que tenham que pagar, até porque as alternativas existentes não são boas”. Já Manuel Carvalho, presidente da Junta de Freguesia da Palhaça, freguesia que também é servida pela A17, diz que a sua terra “vai ser bastante afectada, uma vez que utilizam aquela via para se deslocarem para Aveiro ou mais rapidamente para a Praia de Mira”. “Não nos podemos esquecer que a construção de uma saída da A17 em Ouca, que confina com a Palhaça, só veio melhorar a rede de transportes e agora querem colocar portagens, indo contra aquilo que o próprio governo disse que nunca faria”. Acrescente-se que a maioria dos autarcas que confinam com a A17 já mostraram publicamente estar contra a introdução das portagens.Diário de Aveiro |