1. Já lá vão muitos dias desde o alegado rapto da menina inglesa Madeleine no Algarve.
De então para cá os esforços da investigação judiciária atingiram níveis nunca antes vistos em Portugal, todos na preocupação de encontrar “rasto” a fim de recuperar a filha do casal McCann.
A entreajuda multiplicou-se, populares e comunidades vivem a inteira compaixão e cooperação, tanto no esforço procurador como no conforto caloroso para com quem sente o coração “partido” com uma perda inqualificável.
O aberto sentido da fé que alimenta a esperança do casal, numa dimensão partilhada em comunidade, é testemunho vivo de que para não desistir de acreditar é necessário deixar-se refrescar na fonte existencial da esperança. Vivendo horas de incerteza, este lado do mundo aguarda com ansiedade e expectativa, a todo o momento, o encontro familiar com um final feliz. E se o final não for o esperado?
Fica a consciência de que todas as forças se moveram, fica a certeza da paz infinita que vem (no possível) acalmar a guerra quê se sente no coração? 2. Desde já, ficará a grande lição de que uma vida, cada vida humana, merece todo o esforço deste mundo para ser resgatada, recuperada, para a dignidade que a habita.
Toda esta imensa onda de solidariedade tanto testemunha como exige a inteira coerência no cuidar da segurança e protecção dignificante de cada pessoa humana que vive neste mundo, especialmente na situação mais frágil como a pessoa criança, a pessoa idosa, a pessoa em formação?
Se é louvável todo o esforço neste caso que se tornou mediático, o mesmo empenho tem de ser desenvolvido com cada Maddie que é vítima das maiores crueldades humanas; são milhares, são milhões, são redes de tráfico de crianças, de mulheres, de órgãos, de?; é o mesmo escândalo, é o mesmo desespero que aguarda o mesmo empenho.
Com tantos satélites de comunicações, após todas as promessas científicas repletas de soluções para as grandes questões da Humanidade, afinal, impressiona como no mundo actual as redes do crime internacional convivem com o dia-a-dia social. 3. Têm sido algumas nestes dias as palavras sobre o papel da instituições em toda esta problemática.
Por vezes assistimos a posturas de discursos diplomáticos, pré-formatados, de pessoas com responsabilidades na sociedade que demonstram cabalmente estarem fora do jogo da realidade da vida; até mesmo em relação ao que aconteceu e tragicamente acontece todos os dias; ou andarão tão comodamente fora do mundo que nem de alguns “números perturbadores” de indignidade têm conhecimento?
Nessa passividade diplomática cresce todos os dias a distância entre as pessoas concretas nos seus problemas e a dura realidade, avoluma-se (neste contexto) o fosso entre o chamado crime inteligente e os vazios legais da lei institucional e da justiça típica no seu peso, tudo enquanto o mundo passa...
No esforço, que se procura realizar, de agilizar procedimentos, com qualidade e personalização (por isso acompanhando o “tempo presente” diário), estará hoje um dos desafios determinantes das instituições sociais, políticas, religiosas; quando não passam a ser insignificantes perdendo a capacidade de acompanhar a vida, sendo vistas como facultativas pois exteriores e descomprometidas com a realidade, daí muita da generalização da indiferença actual. 4. Na mediática Maddie estão todas as crianças desaparecidas, raptadas e abusadas que ficam no silêncio. No sofrimento e na prece de seus pais estão presentes as angústias de muitos milhares de famílias.
Como sabemos, o que menos interessa nestas circunstâncias é gerar o pânico da insegurança; mas é incontornável esta ferida dolorosa que se multiplica continuamente e que toca bem fundo na incapacidade humana de viver a liberdade respeitadora. Se nos sentimos satisfeitos porque, apesar de tudo Portugal (à escala do mundo) é um país seguro, a verdade é que o longe hoje mais que nunca está perto.
Mundo global, (tanto alegrias como) preocupações globais. Nesta conjuntura, talvez o sinal mais preocupante é imensa “rede de redes” que continuamente interagem e preparam estes novos crimes contra a humanidade.
Como responder? Será que, na ausência da verdadeira liberdade humana, teremos de fazer deste mundo um gigantesco big brother, com fiscalizadoras câmaras de filmar por todo o lado? Para ir à raiz do problema teremos que investir mais em compreender as razões que levam pessoas humanas a cometer tais crueldades contra os seus “irmãos”.
Tarefa infindável mas essencial. Que todas as Maddies regressem ao seu lar; que todos os pais abracem os seus filhos e dêem VIDA ao tempo em que estão com eles!...
Alexandre Cruz* *Centro Universitário de Fé e CulturaDiário de Aveiro |