NADA FOI COMO DANTES. O DIRECTOR TINHA RAZÃO.

Janeiro de 1989 marcava uma viragem no JB. Jornal da Bairrada passava a semanário.

Na altura o meu pai, director à época, e hoje afastado por doença, escreveu no editorial da edição 957: "O nosso jornal passará, pois, a aparecer semanalmente, na casa dos nossos assinantes. Só assim, na verdade, servido pelo dinamismo e a competência do nosso querido amigo Armor Pires Mota, escritor, poeta, jornalista distinto e sabedor, que assume a responsabilidade da chefia da redacção, temos a certeza de que tudo quanto possa interessar ao desenvolvimento da Bairrada e das suas gentes terá, aqui, o devido relevo e adequado tratamento"

Coincidiu esta mudança com a colaboração permanente do Armor com o JB.

Nada foi como dantes. O director tinha razão.

Paulatinamente, mas com a certeza de quem sabe e conhece, mudaram-se logótipos e cabeçalhos, introduziu-se a cor, colocaram-se mais e melhores fotos, transfiguraram-se os títulos para mais ambiciosos e vistosos, alteraram-se conteúdos, criaram-se novas rubricas, melhoraram-se as notícias, tornando-as mais actuais, deu-se mais espaço às colaborações e aos colaboradores, lançou-se uma verdadeira página desportiva, enfim, reinventou-se tudo.

A revolução operada foi fantástica, se a avaliarmos, à época e à luz das dificuldades de então. As mudanças resultaram em pleno e o jornal cresceu muito, ganhando novas colaborações, "resmas" de assinantes, muitos e grandes amigos e outros desconfortados críticos, fruto dum novo jornalismo também mais acutilante. Mas a evolução não parou no tempo, e foi possível com a colaboração de todos e sob a sua liderança, fazer sempre mais revoluções, que culminaram com o último grafismo do jornal, um marco indelével, no que de bom se faz na actual imprensa regional. Tudo isto foi fundamentalmente obra de um homem - o Armor Mota.

O amigo Armor decidiu agora, após duas décadas de serviço ao JB, gozar a sua merecida reforma, para se oferecer, entre outras coisas ao seu amor de sempre e que também o fez ligar-se ao nosso jornal - a escrita em poesia e prosa. Por isso, nos comunicou, há tempos, que, depois de efectuada a última remodelação do seu JB, gostaria de deixar a chefia da redacção.

Naturalmente, que compreendo, com pena, a sua decisão, até porque tive a oportunidade de viver e sentir o entusiasmo, a visão e o saber avocados pelo meu pai e de presenciar a dedicação constante, a vivência apaixonada dum verdadeiro bairradino às causas da sua região e aos valores pelos quais sempre se bateu.

Armor Mota deixa a chefia da redacção, mas não abandona o Jornal da Bairrada.

Vai continuar a contribuir, como correspondente essencialmente de Oiã e Águas Boas, mostrando-nos como é importante a pequena grande notícia de cada lugar na região. Irá, para além disso, ter uma coluna de opinião semanal, onde nos brindará com o seu indomável espírito jornalístico.

Armor,

Nesta hora, emocionada para mim, triste para todos, sentimos por si uma admiração enorme e reconhecemos na sua teimosia uma virtude.

Obrigado por tudo o que nos deu.

Até à crónica da próxima edição.

António Granjeia*
*Director do Jornal da Bairrada

Diário de Aveiro



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