A MEDIDA SURGE DIAS DEPOIS DE UMA IDOSA TER MORRIDO

A triagem de doentes na urgência do Hospital de Aveiro vai ser alterada a partir de hoje, com o reforço de clínicos gerais, mas ainda não está definido o número de profissionais que estarão de serviço.

A medida surge dias depois de uma idosa ter morrido numa maca do Hospital enquanto aguardava ser vista por um médico.

Segundo disse hoje à Lusa Teresa Bugalho, chefe da equipa de urgências, os doentes referenciados com a cor amarela na primeira triagem que é feita pelos enfermeiros (urgência intermédia) passam a ser vistos por um clínico geral antes de serem encaminhados para os especialistas, se for caso disso.

A medida entrou em vigor às 8 horas de hoje.


"O sistema receberá ajustes conforme as necessidades", explicou Teresa Bugalho, justificando a alteração ao esquema de triagem com "a vontade do Hospital de funcionar bem".

Especialista em medicina interna, Teresa Bugalho refere que a maioria de doentes que tem atendido são triados com as pulseiras vermelha, laranja e amarela(os mais urgentes) e que da experiência que tem do movimento na urgência do Hospital de Aveiro, a maioria dos utentes corresponde à cor amarela(urgência intermédia), sendo já poucos os que são classificados com as pulseiras verde e azul(de menor gravidade).

No entanto, tem havido picos de procura, que segundo Teresa Bugalho se explicam em parte com o facto de se agudizarem as doenças respiratórias no Inverno e recentemente chegaram a haver dias com 600 doentes a dar entrada naquele serviço.

O movimento "anormal" tem provocado "excesso de espera" em relação ao tempo de atendimento definido para cada cor, no processo de triagem adoptado(Manchester), situação que já havia sido detectada e levantada em reuniões internas, antes da morte da idosa enquanto aguardava por ser vista.

A vítima, Albertina Mendes, de Vale Maior, Albergaria-a-Velha, foi triada com a cor amarela às 14:00 e deveria ter sido vista por um médico no espaço de uma hora, mas acabou por ser encontrada morta com paragem cardio-respiratória pelas 17:45, sem ter sido observada.

Aludindo ao caso, a Comissão de utentes do Hospital emitiu um comunicado em que pede esclarecimentos e conclui que o mesmo "é susceptível de criar graves apreensões nas populações que têm no hospital infante D. Pedro a unidade de referência para as suas horas mais difíceis".

Para aquela comissão, "desmente as teorias de que processos de triagem (por mais apurados que sejam), associados à utilização de sistemas informáticos, já implementados no Hospital, resolverão todos os problemas".

"Pela parte da Comissão de Utentes do Hospital Infante D. Pedro, não podemos deixar de associar este triste acontecimento aos avisos que oportunamente lançamos, quanto às consequências da obsessão economicista do Governo na Saúde. Menos meios a funcionar, menos pessoal, menos serviços, teria que ter maus resultados.

Falam-nos em maior movimento que o habitual, no serviço, nesse dia. Quantos desses casos não poderiam ter sido atendidos em Serviços de Atendimento Permanente ou Serviços de Urgência, entretanto fechados, como é o caso do SAP de Albergaria-a-Velha, localidade de onde era natural a doente?", interroga o comunicado, subscrito por Cláudia Pereira em nome da comissão.


Diário de Aveiro



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