A Confraria dos Enófilos da Bairrada viveu, no sábado, um XXX Grande Capítulo selado por "questões de fidelidade". Numa altura em que se assinala o 30º aniversário da sua fundação, a par dos 30 anos de criação da Região Demarcada da Bairrada, o presidente da direcção, Fernando Castro, acentuou a fidelidade às suas raízes "da Região Vinhateira da Bairrada, demarcada em 1979, mas com origens que se perdem na memória dos séculos", e que, "ano após ano, vai construindo a sua história". O porta-voz da Confraria enalteceu os viticultores bairradinos, "que investem centenas de milhões de euros nos seus mais de 9 mil hectares de vinhedos, em equipamentos e adegas e empregando milhares de pessoas". "Fazem-no porque acreditam sem complexos na região, no seu nome e não querem que ele desapareça" e estão "sempre dispostos a acompanhar as exigências da evolução, ainda que ditada por leis, mas desde que elas não ponham em causa a fidelidade à sua condição de bairradinos", sublinhou Fernando Castro. Em 2009, a Confraria promete estar atenta à evolução das medidas que o Governo pretende levar a cabo com vista à reorganização do mapa das regiões vitivinícolas e das respectivas entidades certificadoras, processo que se arrasta há anos e que tem suscitado acesa polémica, por pôr em causa interesses importantes da Bairrada. Fernando Castro apelou, pois, "à tão necessária coesão, que tornará a região mais forte, mais conhecida e mais respeitada". Numa altura em que todos os esforços são bem-vindos, a Confraria bairradina fez de 12 homens novos defensores dos vinhos da região, onde quer que se encontrem. Brancos sem a fama que merecem. Em nome dos confrades entronizados naquela noite, o brasileiro Dráusio Barreto mostrou-se "honrado por ter sido admitido nesta Confraria de pessoas tão ilustres e de tanto respeito". Imprimindo forte emoção ao seu breve discurso, Dráusio Barreto lembrou "os laços excepcionais de amizade que unem os brasileiros ao povo português" e confiou que aquela noite lhe evocaria para sempre o sentimento de saudade, "de uma noite agradável, passada com pessoas camaradas, gentis, que nos receberam tão bem". De hospitalidade falou também o convidado de honra, Jonathan Nossiter. O autor e realizador do filme Mondovino, exibido em 2004, e do livro com o mesmo nome, saudou Luís Pato, responsável pelo prefácio do seu livro. Um produtor bairradino que conheceu no Brasil e que considera "um grande embaixador da Bairrada". Na língua de Camões com pronúncia de Vera Cruz, mencionou também Gabriela Abrantes, das Caves S. João, que lhe trouxe "a expressão do vinho e a generosidade". Por fim, o confrade honorário da noite dirigiu algumas palavras ao proprietário da cadeia de hotéis Alexandre de Almeida: "mostrou-me que generosidade vem junto de talento, exprimiu um talento familiar e de viticultor", disse de Alexandre de Almeida, anfitrião numa noite comemorada no Palace Hotel do Buçaco. Dos vinhos da região, destacou os Brancos Bairrada, que "talvez não tenham a fama que merecem". "A emoção que este vinho me transmitiu foi profunda, é totalmente diferente de todos os vinhos que provei. São vinhos que têm a memória de um lugar." E porque de memórias e tradições se fez também este Grande Capítulo, os vinhos Bairrada dividiram atenções com "o fiel amigo". A ementa onde o bacalhau foi rei "pretende simbolizar a nossa fidelidade e homenagem às tradições gastronómicas da região, que não pôde deixar de ser influenciada pela sua proximidade ao porto bacalhoeiro de Aveiro", explicou Fernando Castro, acrescentando ainda que, mais uma vez, se comprova "que os nossos vinhos da Bairrada conseguem estabelecer uma harmonia perfeita com os diversos pratos e ser o seu ideal complemento". "Abençoado sejas, Vinum Baerradinum." Oriana Pataco oriana@jb.pt Diário de Aveiro |