Decorre no tribunal de Aveiro o julgamento do processo "Face Oculta". À chegada, o advogado do principal arguido, o sucateiro Manuel Godinho, mostrou-se convencido de que irá conseguir a absolvição e acredita que o recurso para pedir a nulidade das escutas telefónicas pode fazer regressar o processo à estaca zero.

“Penso que este recurso tem consistência, é um recurso sólido, com fundamento e fundamentação e espero que seja decidido favoravelmente. Claro que isso vai criar consequências terríveis a este processo e poderá, no limite, levar à própria anulação. Não é bom para ninguém, mas não é nenhuma tragédia. É assim que funciona o Estado de Direito”, afirmou o causídico Artur Marques aos jornalistas. O “Face Oculta”, caso de alegada corrupção e outros crimes económicos, envolve mais de 30 arguidos, incluindo o antigo ministro socialista Armando Vara, que à entrada para o tribunal remeteu não se quis estender em declarações. “Há uma certa veia romancista da parte da acusação. Peço desculpa, sei que há uma grande expectativa, sei que vendem muitos jornais com a minha presença neste processo, mas há um lugar próprio para discutir estas coisas e é aí que quero discuti-las: no tribunal”, afirmou aos jornalistas que o aguardavam. De acordo com os investigadores, a rede de influências de Manuel Godinho incluía titulares de cargos governativos, políticos, administradores e quadros de empresas públicas, chefias e funcionários dos serviços de finanças, membros de executivos camarários e funcionários municipais e até membros das forças de segurança. No total, são arguidas neste caso 35 pessoas e duas empresas.