José Penedos nega qualquer acesso do filho a informação privilegiada sobre a REN nos concursos a favor do sucateiro Manuel Godinho. Ouvido no julgamento do processo Face Oculta, o ex-presidente da REN foi confrontado com questões sobre essa relação pai/filho e o empresário de Ovar.

À saída do tribunal, não escondeu o incómodo. Entre muitas questões, o procurador do Ministério Público (MP) estranhou que o gestor tenha considerado “compatível” manter nos fornecedores da eléctrica empresas que tinham como advogado Paulo Penedos, seu filho, “quando, ainda por cima, tratava de assuntos consigo”.

O antigo secretário de Estado da Defesa e Energia, escusou-se a beliscar uma relação familiar “de grande qualidade” que não deseja ver “exposta a título de reality show”.

“O nosso presidente”, como chegava a ser tratado pelo filho nas escutas, nomeadamente com o empresário Manuel Godinho, recusou fazer exercícios “de hermenêutica” quando o seu nome era invocado.

O procurador questionou se o responsável de uma empresa “de referência” não deveria “abster-se completamente, de qualquer pergunta” de negócios, por conflito de interesses. “Num mundo livre de qualquer sépsia é provável, no mundo real há conversas, que não dão informação específica”, justificou em sua defesa.

Recebeu, em mão, uma carta da O2, da empresa de Godinho, já que o filho pedia ao seu cliente para que fossem seguidas as regras “by the book”. As insistências de Paulo Penedos valeram-lhe um aviso do pai. “Não me metas mais nisso, estão-te a usar”, advertiu numa escuta.

José Penedos, acusado de corrupção e participação em negócio, apenas confirmou ter seguido o desmantelamento da central da Tapada do Outeiro. O MP aponta favorecimentos ainda nas remoções da central de Alto Mira, de 22 unidades de transformação e gestão de resíduos na Subestação de Setúbal.

O gestor tinha segunda categoria mais elevada na lista de prendas de Godinho, embora desconhecesse, garantiu, a origem das duas pelas que lhe foram apreendidas em casa.