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12-05-2011

“Falta de competitividade é um dos problemas mais graves do país”



O jornalista económico e docente universitário, Camilo Lourenço, foi o orador convidado pelo Jornal da Bairrada para o 2.º Jantar-Conferência subordinado ao tema “Vencer a crise”.
A uma atenta plateia de mais de 150 empresários, Camilo Lourenço falou, na noite da última sexta-feira, no Hotel Paraíso, em Oliveira do Bairro, da despesa pública insustentável do país, da responsabilidade da classe política na actual crise, do comportamento da banca, da falta de competitividade, de iniciativa e de empreendedorismo de um país que está a braços com uma das mais graves crises de sempre.
Numa linguagem simples, o orador falou ainda da necessidade de acrescentar valor ao produto nacional, assim como defende o estímulo ao vencimento variável, como forma de aumentar a produtividade e baixar o absentismo ao trabalho.
Quanto às medidas anunciadas pela Troika, diz não serem suficientes, assim como entende que a ajuda de 78 mil milhões de euros não irá chegar.

Falta de competividade, fraca exportação, custos de produção elevados, salários acima da produtividade, má gestão, elevada taxa de absentismo ao travalho foram alguns dos problemas elencados por Camilo Lourenço, durante o 2.º Jantar-Conferência, promovido pelo Jornal da Bairrada. O Hotel Paraíso, em Oliveira do Bairro, foi o palco escolhido para o evento que reuniu, na noite da última sexta-feira, uma atenta plateia de empresários da região que responderam afirmativamente ao convite do Jornal da Bairrada.
Apoiado por vários gráficos comparativos, Camilo Lourenço foi, ao longo da noite, fazendo uma análise das várias situações que conduziram o país ao estado actual, bem como elencou alguns dos aspectos importantes a ter em conta para o futuro.
O orador apontou a falta de competitividade do país como um dos seus problemas mais graves. De resto, desde 1996 em diante, o défice da conta corrente (exportações vs importações) não parou de crescer. Passou de 3% até atingir os 13%. “Não conseguimos vender no exterior em condições de equilibrar com o que importamos”, sublinhou, destacando ainda que depois de uma década no Euro, o país continua a não ser competitivo, ao contrário da Alemanha, por exemplo, que baixou em 10 anos os custos unitários de produção. “Enquanto a Alemanha reduziu custos de produção em 8%, nós aumentámos em 10%”, referiu.
Por outro lado, defendeu ser necessário acrescentar valor ao produto nacional, nomeadamente qualidade, que é determinante para que o produto passe a valer mais. Aos empresários deixou ainda a indicação de que o país tem vindo a cometer outro erro crasso. “Durante 15 anos aumentámos salários acima da produtividade”. De facto, o aumento dos salários acima da produtividade contribuiu para o agravamento do défice actual, o que tornou igualmente a situação “insustentável”.
Camilo Lourenço defendeu, em Oliveira do Bairro, que se deve estimular o vencimento variável, “um dos instrumentos mais fabulosos para estimular a produtividade”, assim como avançou que o problema de absentismo ao trabalho é, acima de tudo, um problema de gestão, pois “é preciso motivar as pessoas para que elas não faltem”.
“A baixa produtividade em Portugal não tem nada a ver com baixa de salários mas sim com maus gestores, porque não criam mecanismos para segurar as pessoas a fazer o seu trabalho”, acrescentou.
Quanto às medidas anunciadas pela Troika, o convidado do Jornal da Bairrada diz não serem suficientes, nomeadamente no corte da despesa.

78 mil milhões não vão chegar. Sublinhando que o acordo é bom no sentido geral, afirmou que o aspecto mais importante é o facto de ser dado ao país tempo para reduzir o défice. Por outro lado, foram disponibilizados 12 mil milhões de euros para a banca se capitalizar, se necessário, aspecto importante também realçado.
“Acredito que os quatro maiores não irão necessitar (BCP, BES, PBI, Santander Totta). A Caixa Geral Depósitos vai necessitar por causa da aventura chamada Banco Português Negócios”, adiantou.
Camilo Lourenço admitiu também que os 78 mil milhões de euros de ajuda a Portugal não vão chegar, até porque diz existirem “segredos” no que foi dado a conhecer sobre as contas públicas. “Os senhores da Troika foram enganados e o governo, eleito nas legislativas de 5 de Junho, irá descobrir lixo debaixo do tapete”, acrescentou. Daí, o seu receio que no segundo semestre se venha a confirmar que os 78 mil milhões são insuficientes para as necessidades do país.
Camilo Lourenço, que prendeu a atenção da plateia do primeiro ao último minuto, acrescentou ainda que o facto de Portugal viver acima das suas posses, levou a que os mercados financeiros (investidores) passassem a desconfiar do país. Uma situação agravada pelo facto de também a banca ter deixado de ter dinheiro para se financiar no estrangeiro.
O jornalista e docente universitário referiu-se ainda ao fecho de cada vez mais empresas, incluindo boas empresas que deixam de ter linha de apoio à tesouraria nos bancos, devido à escassez de moeda. “Empresas boas que precisam de linhas de crédito e neste momento não as conseguem. E depois dizem (os políticos) que é necessário incentivar a exportação”.

Público participativo. No período aberto a questões do público, Camilo Lourenço disse que neste desafio de recuperação estão envolvidos homens e mulheres, depois de Emília Abrantes, presidente da ACIB lhe ter perguntado “qual o lugar das mulheres neste desafio” . “O que conta é a cabeça”, disse o orador, que foi instado por Acácio Oliveira, ex-chefe da Repartição de Finanças de Oliveira do Bairro, a falar do papel da economia paralela no contexto actual. Camilo Lourenço admitiu que esta tende a subir quando se aumentam os impostos e que é certo que a economia paralela está a aumentar. Por isso, defende ser necessário fazer um grande esforço e ser competitivo do ponto de vista fiscal, situação que “demorará 20 anos a fazer e com gente séria”.
Questionado sobre as consequências de uma eventual saída da Grécia do Euro, Camilo Lourenço defendeu que, quando se faz uma União Monetária nenhum país pode sair: “Se a Grécia sair a União Monetária acaba, porque os países vão saindo uns a seguir aos outros”.
Em Oliveira do Bairro, defendeu ainda que o aumento do IMI é um erro. “Estar a penalizar as pessoas pelo IMI é só para meter dinheiro nas Câmaras Municipais. Levaram as pessoas a comprar casas, deram incentivo fiscal, deduções fiscais e IMI e agora fazem isto”. Por isso, admite que o número de famílias que vai deixar de poder pagar prestações vai aumentar e a banca irá igualmente ter um problema acrescido.

Esclarecer empresários. António Granjeia, director do Jornal da Bairrada, começou por afirmar que o país não se pode “amedrontar com uns tempos menos benditos e sobretudo, com a desgraça congénita da qualidade dos nossos líderes”, responsabilizando a classe política em grande parte pelo actual estado em que o país se encontra.
Aos cerca de 150 convidados presentes, defendeu que “iniciativas como esta podem contribuir para o esclarecimento dos empresários, ajudar na formação de opiniões e concorrer para motivação de mais portugueses em fazer ouvir a sua opinião”.
“Temos, como missão complementar à informação, proporcionar aos nossos leitores e concidadãos a possibilidade de participarem em eventos informativos, culturais e recreativos”, dando, assim conta da importância da iniciativa na conjuntura actual.
Recordando o 1.º Jantar-Conferência, que teve como oradores Nogueira Leite e Armando França, lembrou que o então escutado, na altura, “já apontava para a tragédia de que ouvimos o primeiro-ministro não falar terça-feira e o ministro das finanças tardiamente explicar na quinta-feira”.
O director do Jornal da Bairrada criticou o facto da 3.ª República “estar a transformar-se num Estado Fiscal que sobrevive dos impostos que saca aos contribuintes e que são absolutamente desproporcionados à sua capacidade contributiva”.
“A carga fiscal está próxima dos 40% (e vai aumentar), transformando-se numa nova forma de opressão, embora providencie as liberdades cívicas. O Estado continua sem ter preocupação alguma em limitar a despesa pública, que quase duplicou nos últimos seis anos, à base de empréstimos e obras megalómanas não suportados na riqueza produzida”, acrescentou, dizendo que “talvez este pacote de austeridade forçada possa reduzir a nossa crónica incapacidade de apenas ouvirmos ditadores, sejam os internos sem visão estratégica, ou os externos com ganas de neo-colonialistas”.
António Granjeira revelaria ainda, em primeira mão, que o Jornal da Bairrada vai, este ano, avançar ainda com a 1.ª Grande Gala do Desporto Bairradino.


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