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03-05-2012

Desiludido com a justiça portuguesa



“Nunca mais quero voltar.” Apesar da tenra idade (22 anos), Rafael Pinheiro já sabe bem aquilo que não quer para a sua vida. Voltar às origens está (pelo menos para já, dizemos nós) fora de questão.
Tinha apenas dois meses quando saiu de Mogofores, Anadia, com os pais. O destino era o Luxemburgo, na procura “de uma vida melhor”. E assim foi. Em 14 anos, construíram casa em Portugal, compraram outra lá fora e juntaram algum dinheiro. Depois, venderam a casa do Luxemburgo e voltaram para a sua terra. Rafael tinha 14 anos e jamais esquecerá aquele fatídico 2004.
Em julho desse ano, Rafael Pinheiro viria a sofrer danos irreversíveis na sequência de um acidente durante um concerto dos TV5, na Moita, em que um espetáculo de pirotecnia acabaria numa inesperada explosão. “Perdi um bocado de um dedo, perdi metade de um músculo na perna. E até hoje eles não pagaram por isso. Continuam a atuar normalmente, como se nada fosse. E eu, desde 2004, ando a pagar a um advogado, mas a Justiça em Portugal é assim”, lamenta Rafael.
Como se não bastasse aquele infortúnio, o jovem de Mogofores estava em Portugal contrariado. E, em 2007, foi alertando os pais das suas intenções: “disse-lhes que, mal fizesse 18 anos, voltaria para o Luxemburgo.” E lá partiram, de novo, os três.

“Ir a Portugal, só de férias”

Solteiro, sem filhos, Rafael Pinheiro mora em Differdange, onde tem um apartamento. Tirou um curso de comércio e trabalha numa central de betão. “Trato das encomendas e consigo tirar um salário relativamente bom. Já consegui comprar um apartamento, troco de carro a cada dois/três anos, coisas que sei que, se estivesse em Portugal, não conseguiria fazer.”
Dificuldades de adaptação no Luxemburgo garante que não houve. “Todos me ajudaram”, frisa. Saudades, só da família que deixou em Portugal e que visita todos os anos. De resto, do país que o viu nascer o que guarda é desilusão. “O apoio do Estado, a organização, a justiça são bem diferentes no Luxemburgo.” Ir a Portugal, só de férias. A quem cá está, diz apenas: “se tiverem oportunidade de emigrar, não hesitem”.
Oriana Pataco


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