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07-06-2012

Estudo da UA confirma boa capacidade de trabalho dos portugueses.


Um estudo da Universidade de Aveiro garante que portugueses têm boa capacidade de trabalho. É uma investigação que abre caminhos para ...

Um estudo da Universidade de Aveiro garante que portugueses têm boa capacidade de trabalho. É uma investigação que abre caminhos para aumentar a produtividade e diminuir o absentismo. É o maior estudo alguma vez realizado em Portugal sobre a capacidade dos portugueses para o trabalho.

A investigação realizada pela Universidade de Aveiro, com financiamento da FCT, envolveu 4162 trabalhadores, do norte a sul do país, e, para além de avaliar a perceção que cada indivíduo tem da sua capacidade para responder às exigências do trabalho, foi ainda mais longe e concentrou-se também no estudo dos fatores psicossociais que influenciam os trabalhadores, tais como exigências cognitivas e emocionais, recompensas, significado do trabalho, conflito trabalho-família, stress e saúde geral.

A investigação da UA, liderada pelo psicólogo Carlos Fernandes, esteve no terreno entre 2008 e dezembro de 2011 e utilizou dois instrumentos internacionalmente reconhecidos e recomendados pela Organização Mundial de Saúde: o Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT), que atesta a perceção que os trabalhadores têm da própria capacidade para desempenharem as suas funções laborais, e o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ), que permite aos trabalhadores apontarem as condições psicossociais que os rodeiam.

Os instrumentos utilizados foram, antes do estudo avançar para o terreno, adaptados para a realidade portuguesa pela equipa de investigação. «Finalmente temos disponíveis em língua portuguesa, e adaptados à nossa realidade, dois instrumentos internacionalmente aconselhados para uso de profissionais ligados à saúde ocupacional, à medicina no trabalho e à psicologia das organizações», aponta Carlos Fernandes, investigador responsável pela investigação.

«Estes instrumentos permitem que, na posse dos dados, os técnicos deem as diretrizes necessárias aos empresários, dirigentes e até responsáveis políticos de modo a que estes ajustem as condições de trabalho dos trabalhadores no sentido de diminuírem o absentismo, aumentarem a produtividade e evitarem reformas antecipadas», explica o docente da UA.

Portugueses têm boa capacidade para o trabalho

Os questionários foram aplicados a trabalhadores distribuídos por seis setores de atividade: saúde, educação, comércio e serviços, indústria, administração pública e forças policiais. A investigação conclui que o ICT dos portugueses é de 40,42 (numa escala de 7 a 49) o que corresponde a uma boa capacidade para o trabalho.

«Os portugueses possuem, em média, boa capacidade para o trabalho. Contudo, se formos ver em termos de divisão de categorias temos 2,2 por cento da população portuguesa com pobre capacidade para o trabalho, cerca de 20 por cento com moderada, temos 44,7 por cento com boa e 33,2 por cento com excelente capacidade para trabalhar», aponta Pedro Bem-Haja, assistente da investigação.

As forças policiais com 41,29 pontos em 49 possíveis, concluiu o estudo, é o setor com maior capacidade para o trabalho em Portugal. Segue-se o setor da indústria com 41,07 pontos e o do comércio e serviços com 40,91. A administração pública atingiu 40,67 pontos e a saúde 39,45. O ensino, como 38,91 pontos em 49, é o setor em estudo onde os trabalhadores têm menor capacidade para o trabalho.

Entre homens e mulheres, os resultados demonstram que o género masculino possui em média maior capacidade para o trabalho, cerca de 41 pontos em 49 possíveis, o que representa boa capacidade para o trabalho. O género feminino obteve 39,76 pontos, valor que também se situa no setor da boa capacidade para o trabalho.

No que toca à idade, os investigadores concluíram que, à semelhança dos resultados atingidos em estudos internacionais, a capacidade para o trabalho vai descendo com o avançar da idade. «Perante as análises vemos que a capacidade máxima para o trabalho acontece entre os 25 e os 29 anos. Aos 45 há uma viragem descendente importante até atingir um mínimo aos 65 anos», aponta Pedro Bem-Haja.

Mulheres sentem mais exigências e insegurança

Através do COPSOQ, os investigadores concluíram que os homens, em relação às mulheres, têm no local de trabalho mais influência, mais reconhecimento, mais apoio dos superiores, mais sentido de grupo e de comunidade, percecionam a chefia com mais qualidade, sentem mais justiça e respeito, têm uma perceção de si como mais auto eficaz e sentem mais satisfação.

Por outro lado, as mulheres referem terem mais ritmo de trabalho, mais exigências emocionais, maior insegurança em relação a ficarem desempregadas, mais burnout, mais stress e mais sintomas depressivos. «Temos uma comparação com claro prejuízo para as mulheres», evidencia a assistente de investigação Vânia Amaral.

Ao nível da comparação por idade, aponta Vânia Amaral, «vemos que o grupo de trabalhadores com menos de 38 anos [homens e mulheres] tem mais carga e ritmo de trabalho, mais exigências cognitivas ao nível da atenção constante, tem mais conflitos de papéis laborais [não sabem exatamente quais são as suas responsabilidades], tem mais insegurança no posto de trabalho e mais stress. No entanto sentem mais confiança e apoio dos colegas». Em contraponto, os trabalhadores com mais de 38 anos sentem que têm mais influência no trabalho, maior clareza e transparência dos papéis desempenhados, mais recompensas, mais sentido de comunidade, mais justiça e respeito, retiram mais significado naquilo que fazem mas também têm mais problemas em dormir.

Quando comparados os trabalhadores entre os seis setores de atividade em estudo, conclui-se que são os trabalhadores do comércio e serviços que mais temem ficar desempregados e que na área da saúde é onde existem maiores exigências emocionais, uma maior previsibilidade nas tarefas a desempenhar e onde os trabalhadores atribuem mais significado às funções que desempenham.

No setor do ensino há maiores exigências quantitativas, maiores exigências cognitivas, maiores conflitos do papel laboral, mais stress, mais burnout, mais sintomas depressivos e maior conflito entre o conciliar do trabalho e da família.

O ensino é também o setor que revela mais possibilidades de progressão na carreira, maior influência no tipo de tarefas que se pode desempenhar e também maior confiança nos colegas. Por outro lado a administração pública é o setor que revela mais recompensas no sentido do reconhecimento e mais autoeficácia. A polícia é o setor que revela maior sentido de comunidade de grupo, mais apoio tanto dos colegas como da chefia, mais justiça e respeito, mais transparência no papel e mais satisfação no trabalho.

A equipa do psicólogo Carlos Fernandes contou com uma equipa de investigadores da Universidades de Aveiro (Anabela Pereira), Coimbra (Vitor Rodrigues), Minho (Jorge Silvério) e Técnica de Lisboa (Teresa Cotrim), bem como três bolseiros de investigação (Vânia Amaral, Alexandra Pereira e Catarina Cardoso) e um assistente de investigação (Pedro Bem-Haja).

Texto: UA

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