Desenha e "dá à luz" bicicletas por medida, qual alfaiate das duas rodas. Chama-se Dinis Ramos e a paixão pelas bicicletas fê-lo meter mãos à obra, que é como quem diz, mãos no guiador e pés nos pedais. Licenciado em Design na Universidade de Aveiro, o Dinis - Noca para os amigos - começou por construir bicicletas à sua medida. O projecto pessoal rapidamente ganhou velocidade. Depois de publicar as fotos das suas primeiras sete máquinas no Facebook e em fóruns internacionais para amantes das duas rodas, a arte e o engenho do artesão fizeram furor. Hoje, Noca é abordado por muita gente para fazer uma bike única. E os pedidos já são tantos que o designer já teve de negar alguns, nomeadamente os que lhe pedem um fabrico em série. Porque só tem duas mãos e porque não abdica da vontade de que cada bicicleta seja uma obra única e irrepetível. Os pedidos por bicicletas personalizadas chegam de Portugal sim, mas também de Nova Iorque, Barcelona e Bilbau, cidades onde a relação com as bicicletas é elevada à categoria de religião. "Está cada vez mais difícil dizer que não às pessoas", confessa Noca. O antigo aluno da UA arrisca-se cada vez mais a ver o que inicialmente começou por ser um passatempo a ocupar-lhe o tempo inteiro. A paixão pelas bicicletas cresceu do berço ou não fosse ele da Gafanha da Nazaré, uma terra onde a bicicleta é (por enquanto) um meio de transporte generalizado entre os habitantes. Há quatro anos atrás, na garagem dos pais, construiu a sua própria bicicleta. O passatempo rapidamente ganhou contornos viciantes. O prazer que sentiu ao pedalar a primeira bicicleta que projectou e concebeu foi "mil vezes maior" do que o que sentia ao pedalar "numa bike comprada em loja" e igual a tantas outras. "Por isso comecei a fazer as minhas próprias bicicletas", lembra. "Nas primeiras obras de duas rodas focou-se mais na personalização dos quadros e no acrescentar de componentes escolhidas a dedo. Não isso não lhe chegava. Começou então a estudar geometrias de quadros. "E quando dei por mim estava a escolher tubos para dar corpo a uma geometria que tinha definido", conta o artista. Começou a partilhar o resultado tanto no Facebook como em sites, fóruns e blogs internacionais dedicados aos aficionados das bicicletas. "Isso começou a despertar curiosidade e amigos começaram a pedir-me para eu lhes fazer uma bike ao gosto deles", conta Noca. Aceitou o desafio mas com os pés bem assentes nos pedais. "No fundo, eu tenho também que gostar da ideia que me mostram. Só assim é que me consigo apaixonar pelo projeto e começar a trabalhar nele". Todas as peças e componentes das bicicletas que saem da oficina caseira são escolhidas a dedo. E os tubos de aço e de alumínio para dar forma aos quadros são soldados pelo mestre Valdemiro, um dos últimos construtores de bicicletas de Ovar, a quem tem encomendado essas missões. Depois de ter as peças todas, Noca enclausura-se na oficina para montar o puzzle que, quando completo, é absolutamente original. Até as tintas são criadas por adição gota a gota de modo a atingirem uma tonalidade irrepetível. Já agora, original é também a linha de t-shirts que o Noca criou a pensar na indumentária dos ciclistas – e já há muitos vestidos com elas pelo mundo fora - e para dar asas a outra paixão que estampa no tecido: o desenho. "Esta minha ‘fome’ por novos projectos faz com que ande sempre entretido com a construção de uma bike. E quando acabo uma sinto-me como uma criança que recebe um brinquedo novo", reconhece Noca cujo tempo para trabalhar como designer por conta própria, dentro do universo da identidade e comunicação, lhe começa a faltar. Mas como uma criança não se contenta apenas com um brinquedo, também Noca quer mais e mais bicicletas. Ou não fosse o seu lema "um homem nunca tem demasiadas bicicletas mas sim pernas a menos". |