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01-04-2003

Museu do vinho da Bairrada um próximo passo


Vinhos

MUSEU DO VINHO DA BAIRRADA UM PRÓXIMO PASSO Luíz Costa No núcleo báquico da minha “biblioteca” existem duas obras que me dão um prazer muito especial: “The Book of Wine Antiques” pelas suas belas imagens, já se vê, e “Objets du Vin à Collectionner”. Prazer por duas razões, principalmente, pelo seu sentido estético que, a meu ver, deve andar sempre ligado ao vinho e a tudo que o rodeia (quantas vezes anda a quilómetros), e pelo espírito de coleccionador que facilmente se adivinha nos seus autores. Espírito de coleccionador que é essencial na preservação de um determinado património de que nos vamos ocupar hoje aqui. De facto, fala-se muito na preservação do nosso património (algumas vezes, em boa verdade, um falar de papagaio), mas poucos desenvolvem acções que concorram para o preservar. No sector do vinho, eu diria até que muitíssimos poucos. Todavia, nos países civilizados – aqueles, onde, além do mais, não se fazem campanhas anti vinho – sente-se a preocupação ou, melhor dizendo, o gosto e a sensibilidade pela guarda e estudo de variadíssimas peças que o passado nos legou, pois são também um pouco da nossa história e da nossa cultura. No presente caso, interessam-nos apenas os tais “objets du vin”, num sentido lato, as coisas do vinho. E por quê ? Vejamos. O edifício onde irá ser instalado o Museu do Vinho da Bairrada está na fase final de construção. Um parêntesis para deixar aqui um bem haja a quem prometeu, e está a cumprir, levar esta carta a Garcia. Contudo, depois de pronto, há que lhe dar vida, começando por preencher os seus espaços, guarnecer as suas salas, com peças que serão a sua razão de ser. Para tal, todos nós, bairradinos do sector do vinho, teremos o dever de nos desdobrar em acções de procura ou pesquisa de peças que possam interessar ao nosso Museu. Desde a pequena podoa, também usada na vindima, à grande prensa de vara dos nossos avós, de um popular almude de madeira à rica peça de talha barroca, duma simples caneca de grossa porcelana, gasta pelo roçar no balcão de pedra, até ao “decanter” de cristal fabricado pela Vista Alegre no século dezanove, dum modesto postal ilustrado à tela de um bom pintor que, porventura, se tenha enamorado pela Bairrada, tudo isto poderá ter interesse. Tem com certeza, e muito. O que agora vamos sugerir, caberá a um bom especialista de museologia e não a nós, claro está. Todavia, para incentivar este género de procura e ajudar os possíveis pesquisadores, vamos imaginar que, a avaliar pelos museus do vinho, que há por esse mundo, o nosso Museu poderá vir a ter, como sectores principais – além de uma biblioteca, arquivos de documentação fotográfica, escrita ou outras – poderá vir a ter, dizíamos, uma secção didáctica, especialmente direccionada aos mais jovens, uma secção de arqueologia agrícola e industrial, uma outra de artes decorativas e da pequena peça relacionadas com a vinha ou o vinho, e ainda aquela que será a mais nobre e a que poderíamos chamar de arte tratando, ou evocando, o vinho. Será muito ? Será uma ambição fora da nossa medida ? Não. Até talvez seja altura de sonharmos um pouco mais. Lembremo-nos que só dos simples saca-rolhas há um pequeno, mas bonito e bem concebido, museu em Ménerbes, no sul da França. Assim, para ganharmos ânimo, evoquemos aqui o belo exemplo da ilustre figura que foi o Barão Filipe de Rothschild que, com a colaboração de sua mulher, realizou no Chateau Mouton o mais impressionante museu de arte relacionada com o vinho, de todo o mundo. Terá apenas a área do nosso Museu, talvez até um pouco menos, mas tem muito mais visitantes que a maioria dos grandes museus do nosso País. Vamos, pois, todos nós, dar uma ajuda para localizarmos o “tesouro”, o das peças com interesse para o Museu do Vinho da Bairrada. Também aqui valerá a pena voltar a lembrar que, afinal, todas as grandes viagens começaram, e ainda começam, com um simples passo. (21 Mar / 15:25)

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