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01-04-2003

Restaurante: O luxo e o lixo


Aveiro

nsumo Por trás de um restaurante de luxo pode estar cozinha com lixo A apoiar um restaurante de luxo está muitas vezes uma cozinha com lixo, revelou uma equipa da inspecção- geral das Actividades Económicas (IGAE) após uma operação surpresa em estabelecimentos hoteleiros da Torreira, Murtosa, acompanhada hoje pela Agência Lusa. «Há restaurantes de muitas estrelas com cozinhas em mísero estado«, disse o chefe da equipa, o inspector Fernando Isidoro, no final de uma manhã por entre tachos e pratos a pedir reforma, cozinhas com condições higiénicas entre o aceitável e o sofrível e alimentos condenados pelos próprios inspectores a acabar num caixote de lixo. A operação na Torreira enquadrou-se num plano nacional, a desenvolver ao longo deste Verão, para vistoria aleatória de estabelecimentos em localidades mais procuradas por turistas, sobretudo zonas balneares e termais. Esta actividade do IGAE, que envolve 200 inspectores em todo o País, incide fundamentalmente nas condições higiénicas e sanitárias das cozinhas, qualidade e segurança dos alimentos servidos na restauração, condições de operacionalidade dos equipamentos e afixação de preços de bens e serviços. «Privilegiamos nestas inspecções tudo o que possa perigar a saúde pública«, disse o inspector da IGAE. Segundo Fernando Isidoro, este conjunto de inspecções «não pode ser entendido como mera caça à multa, antes como uma acção didáctica, num esforço para mudança de mentalidades«. Algumas das ilegalidades detectadas nem sempre decorrem de desconhecimento de aspectos pontuais da lei ou de dificuldades económicas dos proprietários dos restaurantes, mas de uma predisposição para investir apenas, ou sobretudo, no que é visto pelo cliente, a sala de jantar. Aos proprietários de um restaurante e de uma churrasqueira da Torreira, onde a Agência Lusa pôde acompanhar as vistorias, vão ser levantados autos de notícia sobretudo devido a deficiências das cozinhas, informou o inspector. Talheres e câmaras frigoríficas oxidados, caixotes de lixo sem pedal, alimentos por resguardar, lâmpadas sem protecção, janelas sem mosqueiros foram infracções detectadas na cozinha do restaurante. Em contraponto, a sala de jantar apresentava um aspecto irrepreensível. Na churrasqueira, havia pratos e panelas deteriorados, uma entrada de ar no tecto sem rede de protecção e alguns alimentos depositados, sem qualquer protecção, numa arrecadação em mau estado. Foram ainda detectados atropelos à lei nas ementas e na afixação de preços, faltando também avisos anunciando a proibição de venda de bebidas alcoólicas a menores de 16 anos. Os proprietários escudaram-se em dificuldades económicas e na promessa de realizarem obras oportunamente, mas os inspectores mantiveram o registo das anomalias, para posterior aplicação de coimas, e ordenaram a destruição de alguns alimentos. Mantiveram, contudo, o tom pedagógico, explicando pormenorizadamente o que deveriam fazer para corrigir as situações. O chefe da brigada considerou que as infracções observadas são preocupantes, mas menos graves que as detectadas noutras vistorias em estabelecimentos mais requintados. «Há restaurantes de muitas estrelas com cozinhas em estado bem pior«, assegurou o chefe da equipa, explicando que a IGAE é obrigada, por vezes, a pedir a intervenção da delegação de Saúde ou dos serviços veterinários. No restaurante de uma estalagem, os inspectores foram recebidos com desconfiança pelos funcionários e a Agência Lusa ficou no +hall+, à espera do gerente que nunca mais chegava. «São situações normais. A maior parte dos funcionários sabem que podemos entrar, mas às vezes resistem, temendo represálias da entidade patronal«, frisou o inspector. Meia hora depois, após inspeccionar as duas cozinhas do estabelecimento, a brigada regressou ao +hall+ e Fernando Isidoro teve uma palavra tranquilizadora para o jornalista: «Aqui pode almoçar à vontade«. Lusa (22 Jul / 8:59)

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