Imagine uma profissão que o obriga a acordar à uma ou duas horas da madrugada, com apenas um dia de descanso por semana – ou nenhum, mesmo – e muitas vezes sem direito a férias. Bem-vindo à realidade das padeiras de Vale de Ílhavo, a quem cabe produzir diariamente o pão tradicional (pada) que leva o nome desta localidade do município ilhavense a vários pontos da região – e não só.
Actualmente, são pouco mais de uma dezena as que se mantêm no activo e temem não conseguir passar o testemunho às novas gerações. No fim-de-semana em que o município ilhavense lhes presta homenagem, com a realização da Rota das Padeiras – que se prolonga de hoje até domingo – o Dário de Aveiro foi conhecer as vivências e as rotinas de algumas destas mulheres que trabalham enquanto todos dormem.
O primeiro ponto de paragem é, precisamente, a casa da “decana” das padeiras de Vale de Ílhavo – é a mais velha de todas as que mantêm a cozer e a vender pão. Francelina Rocha tem 71 anos de idade, “53 ou 54” dos quais passados a amassar e a cozer o pão de Vale de Ílhavo, sem direito a férias. Iniciou-se na actividade bem jovem, “a servir para uma senhora” e, só mais tarde é que se estabeleceu por conta própria. Deita-se às 20 horas, um horário que a impossibilita de ver “as novelas da noite”, para acordar, de segunda a sábado, às 3.15 horas.
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