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01-04-2003

Papa na Guatemala salva condenados à morte


Pluralidade

Mais de um milhão de quilómetros Papa na Guatemala salva condenados à morte Daniel Rodrigues “Quero expressar a minha alegria por estar pela terceira vez entre vós como peregrino do amor e da esperança nesta querida terra Guatemalteca, e dou graças a Deus por me ter permitido a canononização de uma personagem tão querida e tão admirada por vocês - o irmão Pedro São José Betancur, filho da ilha Canária de Tenerife que, imbuído de um grande espírito de missionário, veio para Guatemala onde se entregou ao serviço dos mais pobres e necessitados”. Estas foram as primeiras palavras que proferiu o profeta deste século, João Paulo II, ao chegar ao martirizado país de Guatemala, onde tanta gente tem sido martirizada ao longo dos anos, muitas vítimas da guilhotina, da condenação à morte. E seria esta a nota tónica do Papa da Paz e da Vida, que levou os responsáveis daquele país a concederem a vida a quem já estava na fila da morte. E a abolição da pena de morte, tantas vezes solicitadas por João Paulo II e tantas vezes negada por estes mesmos ou outros responsáveis, vai entrar em letra viva de vida. Milagre para a humanidade anda a fazer este Papa pelo mundo! Que milagres são precisos mais para que, quando partir para o ALEM, seja colocado nos altares, não para apanhar aranhas (ou cocas, como dizem na minha provinciana, mas sã terrinha), mas ser uma memorial presença de que vale a pena lutar pelo bem dos outros, numa sociedade em que há cada vez mais pobres e cada vez aumenta o universo de ricos e riquíssimos! Impressionante, histórico, misterioso o correr de um Papa pelo mundo inteiro. Segundo rezam as estatísticas João Paulo II ao visitar em Setembro, pela segunda vez terras da sua terra, a Polónia, completará (tudo leva a crer que sim) a centésima viagem à roda do globo terrestre. São mais de um milhão de quilómetros percorridos, em 24 anos, visitas apostólicas iniciadas em 1979 na República Mexicana. Há mesmo quem adiante curiosidades das distâncias percorridas que são o triplo da terra à lua. E nada e ninguém detém o operário Karol Wojtyla de parar com as rotas que ele traçou ou vai traçando. E o vigor é de tal ordem que impressiona todo o mundo quer sejam católicos, ateus, agnósticos ou fundamentalistas. É a força de um homem, de um Papa que vive martirizado, mas não desesperado, com uma fé e esperança de transpor montanhas nestes conturbados tempos em que vivemos. Já tivemos a dita de estarmos bem perto dessa figura inesquecível: a primeira vez foi quando, como jornalista, fiz a cobertura do Sinodo dos Leigos. Durante três semanas, sentimo-lo muito perto, embora as burocracias do Vaticano sejam rigorosas, mesmo para jornalistas, e muitas vezes impiedosas. De tal maneira que levou o meu atrevimento a escrever, nas vésperas do regresso a Portugal, uma carta insurgindo-me com certas atitudes. O Santo Padre respondeu-me através de Secretário de Estado, abençoando-me e dando-me, com delicadeza de uma grande alma, razão ao meu desabafo, algo de esperança, referindo-me que só não deu seguimento ao meu pedido por a carta lhe ter chegado já com o batalhão de jornalistas a deixar o Vaticano. Era um pedido para a classe jornalística... Essa carta amiga, esse documento, define um Papa aberto ao mundo. A segunda vez foi na Praça de São Pedro, aquando da beatificação do primeiro cigano. Na celebração que vivi muito pertinho, senti algo de misterioso, de atractivo. O seu olhar, olhando-nos, fascina-nos, interpela-nos. O seu tremer, mesmo visto muito pertinho impressiona, mas interroga, não preocupa, mas anima a caminhar cada vez mais nas rotas certas, à procura do bem de todos. A terceira vez foi quando tive a sorte de ser enviado, como jornalista, a acompanhar essa figura branca a terras de Fidel de Castro. Que recordações tenho dos dias que passei, acompanhando-o e vivendo com aquele povo humilde, com os obreros! Quanto me apetecia ficar com aquele povo, porque “o leva-me contigo no avião, leva, tocou-me profundamente”. Cuba, ficou no coração do Santo Padre e nos corações de milhares de jornalistas que o acompanharam. Ficou em Cuba. E o milagre naquele país vai-se fazendo e o Santo Padre não desarma, nem em Cuba e nem em qualquer parte do mundo, e não desiste de continuar a dar ao mundo uma lição de solidariedade, de profundo humanismo, de rigor nas pegadas seguidas por Pedro ou Paulo. Esta viagem - missão que Sua Santidade fez ao Canadá, marcará de novo esse mundo jovem que anda à procura, à procura e vai encontrando caminhos, alguns em noites escuras sem muitos vislumbrarem rotas de paz, de tranquilidade. O Santo Padre aposta caminhos. A visita à Polónia, em Setembro, será, com certeza, o grande marco sensibilizante de um Papa que foi operário na sua terra, que ajudou a virar o mundo e, agora, com certeza, vai repousar e quem sabe arranjar ainda mais força para outros mundos, outros mares, quem sabe se outros planetas! Parece que a João Paulo II nada o detém, só a própria morte que ainda é incerta, o vencerá corporalmente. E não vale a pena que gentes da Cúria ou não andem a fazer, porventura, campanhas, embora bem intencionadas, mas que não serão as do Espírito Santo. Foi interessante há dias o programa de gregos e troianos, da Júlia, alegre, mas muitas vezes com um certo atrevimento, essência de um jornalista, a discussão travada durante horas sobre o SIM ou NÃO de renunciar. O NÃO venceu de longe. Mas como aquela plateia de crentes e não crentes e atrevidos, reagiu! Apareceram muitos homens e muitas mulheres, algumas de linguagem simples, que meteram num chinelo os teólogos, até alguns que receberam o Santo Ministério. Cativou a maneira como essa gente simples falava do Santo Padre, do “nosso Pontífice”. Depois do Canadá, veio o México, Guatemala. Depois, em Setembro, será então, a Polónia. E depois da 100ª viagem que virá? Eis a pergunta que por enquanto não tem resposta. Talvez o Santo Padre a tenha já! Veremos! O mundo ainda não vai acabar! (8 Ago / 11:53)

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