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01-04-2003

Regresso à liberdade após 12 anos na cadeia faz-se com 50 euros


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Regresso à liberdade após 12 anos na cadeia faz-se com 50 euros«b Cinquenta euros (10 contos) foi quanto José Carlos B.M. recebeu sábado à saída da cadeia de Vale de Judeus para enfrentar a liberdade e o desemprego, após cumprir uma pena de 12 anos por arrombamento. Aos 43 anos, este antigo mecânico de automóveis queixa-se de que, durante os últimos anos de reclusão, não pode praticar sequer a sua profissão porque em Vale de Judeus as oficinas de reparação de viaturas estão fechadas há mais de seis anos. Com vista a obter uma reciclagem profissional antes de sair em liberdade, José Carlos pediu há mais de um ano à Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP) que o transferisse para uma outra cadeia que tivesse oficina automóvel, mas, apesar de meter os papéis, não obteve resposta. «Julgo que estaria apto a trabalhar numa oficina automóvel se tivesse alguma formação, coisa que não tive na cadeia«, disse à Agência Lusa, realçando que os 50 euros não chegam para manter um homem em liberdade muito tempo. Com o Bilhete de Identidade caducado há 10 anos, bem como a carta de motorizada (50 centímetros cúbicos), José Carlos não recebeu nenhum outro apoio financeiro, nem sequer senhas para transportes públicos. Revoltado com a falta de apoio da reinserção social, o ex- recluso diz que vive agora à custa da mãe (reformada), mas que a situação não pode prolongar-se por muito tempo, pois «a reforma não chega para os dois«. Se não fosse a mãe, confessa, não tinha alternativa senão voltar a cometer um crime e regressar à cadeia, pois o apoio dado pelo Instituto de Reinserção Social (IRS) é «irrisório«, pois o valor que lhe foi entregue equivale «a menos de mil escudos por cada ano de prisão«. Na cadeia chegou a trabalhar como faxina de ala, auferindo 12 contos/mês, verba que mal dava para o tabaco, alguma comida comprada na cantina e uma ou outra saída precária (deslocação temporária a casa). A meta deste ex-recluso é arranjar emprego. O ideal seria voltar à mecânica automóvel, mas está também disposto a trabalhar nas obras ou em qualquer outro serviço, pois arranjar emprego, com cadastro, não é fácil em Portugal, conforme relata. «Basicamente o que procuro é trabalho mas sei que isso é difícil por causa dos antecedentes criminais«, salienta, dizendo estar pronto a receber ajuda da Assistência Social ou do IRS, se esta alguma vez se consumar. José Carlos começou a trabalhar numa oficina automóvel aos 14 anos, tendo sido preso pela primeira vez aos 19 por assalto à mão armada. O regresso à liberdade ocorreu em 1989, mas no ano seguinte voltaria a ser preso e enviado para o Linhó (Sintra), antes de ser transferido há uns anos para Vale de Judeus. Ao todo, passou 23 dos 43 anos na cadeia. Fonte da DGSP referiu à Lusa que quando chegou ao final da pena José Carlos tinha seis euros no seu Fundo de Reserva e um euro no Fundo Disponível, importâncias que não pode levantar porque tem uma dívida que está em contencioso com o estabelecimento prisional relacionada com peças de roupa. Os 50 euros dados pelo Instituto de Reinserção Social foram uma primeira ajuda ao ex-recluso, cuja assistência em liberdade cabe a este instituto. Lusa (20 Ago / 9:38)

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