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01-04-2003

A Terra está a abrandar e um dia os dias terão 1.200 horas


Ciências

Astronomia A Terra está a abrandar e um dia os dias terão 1.200 horas Num cenário futurista mas inevitável, segundo dados científicos comprovados, no futuro, daqui a milhões de anos, os dias na Terra terão 1.200 horas em vez das 24 que comandam o quotidiano do planeta. Na escola aprende-se que a Terra demora 24 horas a rodar sobre si própria, no conhecido movimento de rotação que dá origem ao dia e à noite, e que um ano é o tempo que o planeta demora a percorrer a sua órbita em torno do Sol. Enquanto uns tomam o pequeno almoço os outros ainda vão a meio do sono, e, à medida que a Terra vai girando, passa a ser noite onde antes era dia. No entanto, há muito que os cientistas sabem que está a registar-se uma perda de velocidade no movimento de rotação da Terra. «É muito lenta, estando actualmente situada nos 0,002 segundos por século«, explicou, em declarações à Agência Lusa, Rui Agostinho, vice-director do Observatório Astronómico de Lisboa. «Como a Terra está a abrandar, o dia (as tais 24 horas) está a ficar mais comprido«, indicou. Segundo o astrónomo, estudos científicos já comprovaram que há milhares de milhões de anos a rotação da Terra era de 400 voltas num ano, em vez das 365 que se verificam actualmente. «Recorrendo a registos paleontológicos, como fósseis de corais com mais de 100 milhões de anos, foi possível constatar que a rotação da Terra está a abrandar. De 400 dias por ano, já só temos 365,25«, continuou. Todas as razões apontadas como explicações para este fenómeno desembocam numa constatação: a Terra está em constante mudança interna, numa dinâmica influenciada por tudo o que a rodeia: o Sol, a Lua, e, em menor escala, os outros planetas. A força gravítica existente entre a Terra e a Lua, uma espécie de atracção e constante medição de forças entre os dois planetas, origina aquilo que os cientistas denominam por «forças das marés«, explicou Rui Agostinho. «Devido ao movimento das marés (movimento das águas do planeta por atracção gravítica da Lua), a Terra está sujeita a um binário de forças contrárias ao seu movimento de rotação, o que provoca o seu abrandamento«, disse. Além disso, continuou, o movimento das águas sobre o fundo dos oceanos e das plataformas continentais gera calor, devido ao atrito, que é irradiado, o que representa uma perda de energia do próprio planeta. «Essa perda de energia é de 0,002 segundos por século«, disse. Que o movimento de rotação da Terra está a abrandar já não é propriamente novo, tendo sido mesmo objecto da atenção do filósofo Kant, no século XVIII. «A catalogação de estrelas é feita com precisão pelos astrónomos há muito tempo. Trata-se de medir a hora a que determinado astro passa nos meridianos dos vários observatórios de forma periódica«, disse o investigador, que também desenvolve trabalhos nesta área. A partir daí começaram-se a constatar atrasos, algo que foi ganhando substância com o aperfeiçoamento dos instrumentos de medição. «Se bem que os relógios atómicos (anos 50,60) tivessem vindo precisar essa constatação, já desde a década de 30 que se tem por certo um abrandamento da velocidade da Terra«, referiu. «Está a acontecer à Terra o mesmo que aconteceu à Lua, ainda que nesta última o fenómeno tenha ocorrido num espaço de tempo mais curto, já que na relação de atracção existente entre os dois planetas a Terra tem mais força porque a sua massa e tamanho são maiores«, explicou. «A Terra exerce uma força de maré na Lua 20 vezes superior à força de maré da Lua na Terra«, acrescentou. «A Lua demora 27,5 dias a dar uma volta sobre si própria, o mesmo tempo que demora a sua volta de translação, ou seja, a volta que faz em torno da Terra«, disse, acrescentando que é por isso que «vemos sempre a mesma face da Lua«. «Os movimentos de rotação e translação da Lua estão sincronizados hoje em dia, mas nem sempre foi assim, a rotação primordial da Lua era mais rápida mas pelo efeito das forças de maré foi retardando até ficar síncrona«, continuou. Acontecendo o mesmo com a Terra, o que teoricamente é possível e se está a verificar, o planeta vai, ainda que num futuro longínquo, a milhares de milhões de anos de distância, ficar sincronizado com a Lua. Porém, como a perda de energia do sistema Terra-Lua está também a levar ao afastamento gradual da Lua (cerca de 4 cm por ano), a translação da Lua e a rotação da Terra sincronizarão com um período superior aos actuais 27,5 dias. «A Terra demorará cerca de 50 dias (de 24 horas) a dar uma volta sobre si própria, o que significa que o novo dia durará cerca de 1.200 horas«, calculou o astrónomo. Neste cenário de filme de «ficção científica« teríamos cerca de 7 «dias novos« durante o ano inteiro, ou seja, de um lado da Terra cerca de 25 dias (de 24 horas) consecutivos só de sol, e do outro cerca de 25 dias consecutivos só de noite, disse. (1 Out / 9:47)

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