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01-04-2003

Filosofia do Medo


Crónica da América

Crónica da América A Filosofia do Medo Manuel Calado * Ao longo da história, a guerra, com todas as suas violências e sangrias, tem sido uma actividade admirada e reconhecida. A paz é boa, é cantada pelos poetas, e Cristo foi até crismado como «Príncipe da Paz«. Mas os políticos e estadistas, são decerto de opinião de que a guerra e a violência quando na altura própria, não são totalmente más… Mas também não são totalmente boas… A guerra justa, a da resistência a uma invasão ou ocupação, não é terrorismo, mas patriotismo. E muitas vezes há desvios de concepção, na aplicação da força. Há aqui, nesta nossa América, terroristas que , fanatizados com a sua verdade religiosa ou política, não receiam lançar mão da violência e de ataques terroristas. Como aqueles contra clínicas, e matam médicos e enfermeiras, absolutamente convencidos de que estão prestando um serviço a Deus. Há a NRA (National Rifle Association), essa associação dos amigos das armas, que tratam uma pistola ou metralhadora, com o mesmo respeito com que tratam uma imagem de Cristo, ou os santos da sua devoção. E o mais bárbaro exemplo de violência ao serviço de Deus, foi o ataque terrorista de 11 de Setembro. E nesse caso, não se tratou de terroristas que matam e se escondem, como aquele que está matando pessoas no estado da Virginia, mas de terroristas mais temiveis, que sacrificam os próprios corpos, juntamente com os corpos das suas vítimas. Esta é a violência elevada à quinta potência do fanatismo religioso e político. Porque quando política e religião se juntam, fazem uma mistura explosiva. E foi por essa razão que os pais da patria Americana, tiveram a sabedoria de separarem estas duas forças. O que é política é política, o que é religião, é religião. Mas , por paradoxal que pareça, neste princípio de século, os nossos cristãos da direita radical, estão fazendo uma campanha através do país, para dar à política um cunho religioso. E se os liberais não estiverem atentos, verão este país de liberdade, dividido ao longo das linhas das crenças religiosas. E os candidatos politicos, serão escolhidos, não pela sua competência, mas pela crença que professam. É isto que se passa nas nações islâmicas que conseguiram instalar governos de cariz religioso, e a Constituição passou a ser a sua Bíblia, o Corão. Esta breve locubracão sobre a guerra , a violência e o terrorismo religioso, veio a propósito de uma fotografia que vi recentemente no frontespício duma gazeta Americana local . A foto dizia respeito a um soldado, David Lewis Gifford, da vizinha vila de Dartmouth, que se bateu na Guerra civil Americana e que, 137 anos depois, vai ter a sua estátua em bronze, num parque daquela vila. Sabe-se que o soldado cometeu actos de bravura, salvando vários companheiros, pelo que foi condecorado com a Medalha de Honra. O que me chamou a atenção, foi este costume de homenagear os homens que estiveram ligados à Guerra. Nestes últimos 137 anos após a Guerra Cívil, é provável que tenham nascido em Dartmouth outros homens que se distinguiram, como professores, poetas, escritores , homens de ciência e outros. Mas é o soldado que andou na guerra que merece honras de bronze na praça pública. Isto não é crítica, e creio que o soldado Gifford merece todo esse reconhecimento. É apenas o constatar que os homens ligados às obras da paz , continuam a ser preteridos por aqueles que estiveram ligados à Guerra. E como estamos em vésperas de mais uma saga guerreira, tudo isto dá que pensar. Que afinal, o príncipe, o «Cordeiro da Paz«, provàvelmente estava errado, quando colocou a paz acima da guerra. «Errado«, por ter pensado muito à frente do seu tempo. Infelizmente, ainda não chegou o tempo em que os homens possam viver em paz e concórdia. E a Guerra e a viloência, têm ainda uma missão a desempenhar, nas enigmáticas, misteriosas e dramáticas relações entre os humanos. Suspeito que estas falas não são politicamente muito corretas, porque a vida e o pensamenrto humano,nao são estradas planas e fáceis de percorrer,mas sim atalhos complicados e cheios de curvas,e bem aventurados aqueles que têm o dom de ver à primeira vista. Mas como eu não sei mais, faço estas estúpidas perguntas .E tudo isto, a propósito da violência que por aí vai, e da que se espera em breve.Porque tenho mêdo, e não acredito muito na justiça à lá cowboy, feita pelo pistolão de cinco tiros, nas pradarias e desertos do Texas ou do Arizona. * Correspondente do Jornal da Bairrada na América (24 Out / 10:24)

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