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01-04-2003

Anorexia e bulimia


Saúde

Saúde Anorexia e bulimia Ao longo da história, os padrões de beleza feminina têm mudado radicalmente. Há 15 mil anos, num desejo de representar a beleza e fecundidade femininas, o homem pegou em pedra e esculpiu uma Vénus de Willendorf de obesidade mórbida. Há apenas um século, Renoir pintava as adolescentes do seu tempo com 10-12 Kg a mais, para as favorecer. Durante grande parte da história da humanidade, a mulher desejou-se curvilínea. No entanto, a partir dos anos 50-60, o ideal de beleza começou a mudar drásticamente. A magreza, no mundo ocidental passou a ser sinónimo de juventude, de sucesso e de saúde, tendo esta mudança de valores manifestado-se inclusive nos brinquedos: de bonecas com forma de bebés gordinhos e crianças robustas passou-se a bonecas “adolescentes” de corpo muito delgado, pescoço “de cisne”, e, paradoxalmente, peito volumoso. A ideia veiculada pela duquesa de Windsor “Nenhuma mulher é demasiado rica nem demasiado magra” ganhou raízes profundas. Esta pressão social e publicitária que se faz sentir na nossa sociedade por uma figura cada vez mais delgada, para determinados jovens especialmente vulneráveis, torna-se irresistível. Consequentemente, a frequência de transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia nervosas tem vindo a aumentar, tendo triplicado nos últimos 25 anos Estes transtornos alimentares não são algo de novo. Datam da idade média os primeiros relatos de uma doença misteriosa que transformava a pessoa que a padecia e que se caracterizava por uma grande perda de peso a partir de uma dieta de fome auto-imposta. Diz-se, por exemplo, que Liduina de Shiedam, uma santa do século XIV, viveu durante anos alimentando-se “apenas com pedacinhos de maçã do tamanho de hóstias”. Existe igualmente uma lenda medieval de uma Santa Wilgefortis que jejuou e rezou a Deus, rogando-lhe que lhe tirasse a beleza para assim afugentar a atenção dos homens. Ao fim de algum tempo, o seu rosto e o seu corpo começaram a cubrir-se de pêlo, tornando-se a santa protectora das mulheres que se queriam livrar da atenção masculina. A primeira descrição clínica de anorexia foi feita por Morton em 1694 tendo o nome de anorexia nervosa sido utilizado pela primeira vez por Sir William Gull, em 1873. A anorexia é uma doença psiquiátrica de consequências graves. Para desenvolver uma anorexia não basta querer perder peso. Apesar de 80 a 90% das mulheres não estarem satisfeitas com o seu peso, apenas 1% desenvolve anorexia. Ninguém decide ser anorética. O desenvolvimento de uma anorexia nervosa “exige” a conjugação a determinada altura de determinados factores predisponentes (como são ser do sexo feminino, estar na adolescência ou inicio da idade adulta, apresentar transtornos emocionais e uma personalidade com determinadas características, viver conflitos familiares e estar sujeita a pressões socioculturais) com determinados factores precipitantes (como podem ser o facto de ter iniciado uma dieta, de ter sofrido mudanças corporais rápidas ou aumentado de peso, experimentado fracassos a nível social ou uma situação de morte ou doença de um familiar...). A anorética, regra geral, é uma pessoa inteligente, perfeccionista, com altos padrões de exigência pessoal e com alto sentido de responsabilidade, tudo isto associado a uma baixa auto-estima. Valoriza excessivamente a força de vontade para controlar o peso e a forma corporal. Essa força de vontade é vista pela jovem como um sinal de valor pessoal, pelo que, quando não consegue perder peso sente que não teve força suficiente, que não vale nada. Anorexia significa falta de apetite. No entanto, na anorexia nervosa, pelo menos incialmente não há falta de apetite, há sim um medo terrível de ganhar peso. Para estas jovens há sempre peso para perder. Apresentam uma percepção errada do seu corpo de tal forma que, por exemplo, uma anorética de 1,70 m com 39 Kg quando se olha ao espelho continua a ver-se gorda. Para ela as refeições são uma guerra e a mesa um campo de batalha. São jovens hiperactivas que dormem pouco e tentam esconder a sua magreza usando roupas largas. Algumas recorrem a laxantes e ao vómito. As consequências desta fome auto-imposta são desastrosas. Associada a uma perda de peso substancial (25% ou mais do peso inicial), surgem problemas como ausência de menstruação (amenorreia), surgimento de pelo (lanugo) no corpo, bradicardia, intolerância ao frio, queda de cabelo e descamação da pele, obstipação, osteoporose, anemia e deficiências nutricionais e menor capacidade de defesa contra infecções oportunistas. As complicações da anorexia nervosa podem conduzir inclusive à morte, que, em 8% destas doentes surge por outra causa : o suicídio. (continua...) Carla Isabel Silva Simões Nutricionista (6 Jan / 9:52)

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