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01-04-2003

Programadores condenam postura «irresponsável« de algumas autarquias


Cultura

Cultura Programadores condenam postura «irresponsável« de algumas autarquias A Associação de Programadores Culturais (APC) acusou hoje muitas autarquias de prosseguirem uma política «irresponsável« de recuperação de casas de espectáculos, não as pensando em função da utilidade específica a dar-lhes. «São gastos milhares de euros em trabalhos a mais, porque se vem a constatar que a recuperação dos espaços, nos moldes em que foi feita, impede a concretização de determinada programação«, denunciou João Aidos, vice-presidente da direcção da APC. Em declarações à Lusa a propósito do 6/o Encontro Nacional de Programadores Culturais, que decorre sexta-feira e sábado em Aveiro, o co-organizador do evento disse ser «básico« que os projectos para reabilitação de um espaço cultural devem preparar- se com a colaboração de arquitectos de cena e articulados com os projectos de animação previstos, «o que não acontece na maior parte das vezes e revela irresponsabilidade«. «É evidente que uma cidade de média dimensão não pode ter um teatro para cada arte, mas tem de o preparar para lhe dar condições mínimas de utilização nos espectáculos que pensa programar«, justificou. Segundo João Aidos, as câmaras municipais respondem já hoje pelo grosso da oferta cultural em Portugal, mas muitos vereadores dos respectivos pelouros assumem ainda uma postura «de regedor« também na programação, impondo critérios de duvidosa eficácia quanto ao objectivo de cativar ou mesmo fixar públicos. «É frequente acordar-se um espectáculo só porque chegou a sessão de câmara uma oferta nesse sentido e o preço é convidativo«, ilustrou. Sem contestar que é aos eleitos que compete definir as grandes linhas da política cultural dos municípios, João Aidos defende, contudo, que os vereadores dos pelouros culturais devem apoiar as suas escolhas em conselhos consultivos, na opinião da própria sociedade civil e na experiência dos programadores culturais. Foi precisamente na perspectiva de os sensibilizar para estes problemas que os mais de 300 vereadores da cultura dos municípios portugueses foram convidados para o encontro de programadores. «A cultura está na moda e muitos autarcas acham que a sua promoção lhes dá relevância política, mas é preciso é preciso aproveitar a onda de forma correcta«, alvitrou. Contudo, o programador cultural reconhece que há já bons exemplos autárquicos, exemplificando com o caso de Santa Maria da Feira ou Vila do Conde, que alicerçaram a sua estratégia em alguns acontecimentos-âncora, que funcionam como motor da cultura local e até como promoção turística da localidade. Em Portugal há cerca de 100 programadores culturais, mas só metade estarão ao serviço das autarquias. Na definição de João Aidos, um programador cultural é alguém ligado às artes do espectáculo, que pode ter formação académica na área, mas a que e exigida sobretudo «muita sensibilidade«. A estratégia da sua actuação deve assentar numa programação pensada em função de públicos-alvo previamente definidos (por exemplo, os estudantes do ensino superior, numa cidade com universidade) e também na formação de novos públicos, desde logo com grandes apostas para as crianças. João Aidos considera, contudo, errada a tentação de oferecer acesso gratuito aos espectáculos, o que, na sua perspectiva, favorece uma desvalorização do produto. «Se é impensável oferecerem convites para o futebol ou para o cinema, porque hão-de oferecer-se ingresses para um evento cultural?«, questiona o programador, salvaguardando o caso das crianças, que deverão pagar preços simbólicos. Além disso, para João Aidos, a oferta cultural não pode alhear- se de uma estratégia de marketing agressiva e «jogar« com as ofertas em rede, que tornam acessíveis espectáculos muito caros. (13 Mar 03 / 14:27)

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