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21-02-2004

Arguido diz que era


Oliveira do Bairro

O arguido em julgamento em Oliveira do Bairro por envolvimento numa "mega-fraude", que entre 1998 e 2000 terá burlado 400 empresas, remeteu para o advogado Dória Vilar e outros arguidos a responsabilidade dos factos de que é acusado.
Carlos Guerreiro está a ser julgado em processo autónomo do principal, que envolveu uma vintena de arguidos, prolongou-se por quase um ano e ficou concluído a 31 de Julho de 2003, com o Tribunal de Oliveira do Bairro a fixar uma pena de 16 anos de cadeia para Vítor Ilharco, considerado o mentor das burlas, à base de letras incobráveis.
A decisão de julgar Carlos Guerreiro em separado ficou a dever- se ao facto de o arguido ter sido capturado pela Polícia Judiciária já quando o julgamento principal se aproximava do fim.
Carlos Guerreiro é acusado de 712 crimes, um dos quais de associação criminosa, 15 de burla qualificada consumada, 338 de burla qualificada tentada e 358 de falsificação de documentos.
No processo principal estavam em causa 4.901 crimes, desde burla qualificada a falsificação de documentos e associação criminosa.
Carlos Guerreiro foi ouvido hoje durante várias horas por um colectivo de juízes presidido por Paulo Valério, a quem rebateu o teor da acusação que lhe é feita, procurando dar a entender que era "um pau mandado", como o próprio disse.
"Era um simples motorista que fazia o que me mandavam. As letras foram entregues ao Dr. Dória Vilar, que tinha a chave do escritório, e eu nunca as assinei, imitando a assinatura de alguém", declarou ao tribunal Carlos Guerreiro, aludindo às letras incobráveis que terão sido usadas para burlar um elevado número de empresas, em pretensas exportações para a Guiné-Bissau.
O arguido negou também que fosse o autor de vários faxes relativos a pedidos de preços e encomendas e, quando confrontado com um dos exemplares, disse que estava demasiado bem escrito para ser da sua autoria.
Explicou também que por vezes era de facto ele que escrevia os faxes, mas sem cabeçalho e endereço, que eram depois visionados e enviados por outros.
Quando confrontado com a existência nas escutas telefónicas de um telefonema que teria recebido na empresa, em resultado de um desses faxes, Carlos Guerreiro criticou a forma como as escutas foram feitas pela Polícia Judiciária, cuja anulação requereu por considerar que a PJ seleccionou o que quis e que houve "protecção de certas pessoas".
Carlos Guerreiro queixou-se de que a forma como foi tratado pela polícia mudou depois de ter "apontado essas pessoas". Disse que foi transferido para "um buraco na PJ de Coimbra" e que só ao fim de duas tentativas de suicídio é que foi colocado no estabelecimento prisional regional.
Manuel Dória Vilar, antigo advogado de Carlos Silvino no processo de pedofilia da Casa Pia de Lisboa, que hoje esteve na assistência, foi outro dos envolvidos neste caso.
No processo terminado a 31 de Julho, Dória Vilar foi condenado a dois anos e meio de prisão, com pena suspensa por três anos, por co- envolvimento na mega-burla comercial.


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