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27-02-2004

Cientista português estuda Parkinson na Suécia...


Saúde

Um jovem cientista português, fundador da Criestaminal, a empresa de Coimbra que preserva as células estaminais de recém-nascidos, foi estudar para a Suécia por falta de condições para prosseguir a investigação em Portugal. Nascido em Cantanhede há 27 anos, Gonçalo Castelo-Branco, licenciou-se em Bioquímica na Universidade de Coimbra e está há quatro anos e meio fazer um doutoramento em Biomedicina no Instituto Karolinska, em Estocolmo. Depois de terminar a licenciatura, o cientista não encontrou em Portugal laboratórios onde pudesse fazer o tipo de investigação em que estava interessado, na área das doenças neurodegenerativas. Após uma longa pesquisa, escolheu a Suécia, que apesar de longe de casa, superou, pelas condições oferecidas, todas as outras opções. Ao contrário do que estava à espera, Gonçalo Castelo- Branco afirmou à Agência Lusa que "a adaptação não foi muito difícil, embora os suecos sejam um pouco frios", o que dificulta a entrada de estrangeiros na sua "esfera social". A língua - Gonçalo não fala sueco - também não foi um entrave porque "é raro encontrar alguém que não fale inglês", por isso, "no dia-a-dia, não saber sueco não faz grande diferença". O mais complicados são mesmo os dias de Inverno, por serem "muito escuros", uma vez que anoitece por volta das 14:00 locais (13:00 em Portugal). Gonçalo valoriza "a componente mais prática" do ensino sueco em relação a Portugal, o que acaba por proporcionar "um maior contacto entre professor e aluno". Nos cursos científicos, há "mais experiência prática, mas teoricamente, o nível de aprendizagem é semelhante a Portugal", disse. Quanto à investigação, uma das maiores diferenças passa por "um forte investimento por parte do Governo sueco, o que permite ter um bom nível de financiamento dos projectos e excelentes meios técnicos". Contudo, o jovem cientista considera que, nesta matéria, "há já sinais no bom sentido em Portugal", onde a situação está melhor do que há alguns anos. Gonçalo Castelo-Branco tem consciência que o investimento em investigação na Suécia não se compara ao dos Estados Unidos, mas mesmo assim considera que "é, sem dúvida, um dos melhores a nível da Europa". Em Estocolmo, o Gonçalo faz parte de um grupo científico que investiga "como transformar em laboratório células estaminais neuronais em neurónios dopaminérgicos", que podem depois ser transplantados em doentes com Parkinson. O cientista diz que já se fazem há 20 anos em Lund, sul da Suécia, transplantes com células fetais dopaminérgicas com resultados positivos. Ou seja, estas células ao serem colocadas nos doentes de Parkinson vão substituir as que morrem, reduzindo os sintomas como a rigidez e os tremores, explicou. Como a aquisição das células fetais dopaminérgicas (em fetos abortados) levanta vários problemas técnicos e éticos, a equipa onde Gonçalo trabalha está a estudar o modo de transformar células estaminais neuronais em neurónios dopaminérgicos. Gonçalo Castelo-Branco é também um dos fundadores da Crioestaminal, uma empresa que permite isolar e criopreservar durante 20 anos as células estaminais do sangue do cordão umbilical, que podem depois ser utilizadas no tratamento de diversas doenças, não só do recém-nascido, mas também dos seus familiares. O cientista português termina o doutoramento em Setembro, mas admite ficar em Estocolmo mais uns anos. Contudo, confessa que o seu sonho, que pretende concretizar, é regressar a Portugal e criar condições na Crioestaminal para continuar a sua investigação.

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