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20-05-2004

Universitários africanos em Portugal querem tratament


Aveiro

Os alunos africanos do ensino superior em Portugal querem ser tratados por igual no acesso à saúde e alojamento e no valor das bolsas, questões que vão debater no I Fórum de Estudantes dos PALOP em Aveiro.

No encontro, que decorre quinta e sexta-feira em Aveiro, os alunos africanos vão debater os problemas comuns e procurar vincular os governos nacionais e de acolhimento a resolvê-los através da assinatura da "Carta de Aveiro", que visa actualizar os acordos bilaterais, referentes à Educação e Ensino Superior.

São diferentes as situações de universidade para universidade e o grau de dificuldade varia conforme a cidade onde estudam.

Isso mesmo explicaram à Lusa Neguesse Pina e Luís Silva, da comissão organizadora, dando como exemplo o acesso ao Sistema Nacional de Saúde.

Nas cidades pequenas conseguem obter o cartão de utente, enquanto nos grandes centros urbanos o mesmo lhes é negado.

"Passamos aqui cinco anos e por vezes é necessário ir à consulta externa, o que não é fácil", refere Luís Silva, estudante de Cabo Verde, lembrando ainda que têm de pagar os medicamentos por inteiro porque não são comparticipados.

"O que queremos é que fique regulamentado o acesso ao Serviço Nacional de Saúde, para que não dependa do funcionário que está a atender", acrescenta Neguesse Pina, oriundo de São Tomé.

As propinas são outra das preocupações, até porque há grandes disparidades nas bolsas de estudo e, hoje em dia, já são mais os alunos que estão em Portugal por sua conta a estudar do que os bolseiros.

"Não queremos um tratamento preferencial, mas apenas o apoio para os que não podem pagar, como os nossos colegas portugueses carenciados, através dos serviços de acção social", esclarece Neguesse Pina.

É que, descreve, o governo português determinou que o valor das bolsas deverá ser igual ao salário mínimo, mas há instituições portuguesas que concedem bolsas de valor inferior.

Quanto aos bolseiros dos países de origem o cenário não é melhor, porque a verba que alguns atribuem não contempla o próprio valor da propina e também aí pretendem que haja uma só bitola: que todas as bolsas, tanto atribuídas pelo governo português como pelos seus países de origem, tenham como base o salário mínimo português, porque é face ao custo de vida em Portugal que têm de viver o dia-a-dia.

Pior estão os que enfrentam atrasos nas respectivas bolsas, tendo de pedir dinheiro emprestado ou fazer pequenos trabalhos para sobreviver. Cabo Verde tem as bolsas em dia, a Guiné não as atribui e Angola e São Tomé têm atrasos.

Nos alojamentos cada caso é um caso: os bolseiros dos governos nacionais não podem concorrer às residências universitárias, mas já o podem os que têm bolsas da Cooperação Portuguesa. Mesmo esses nem em todas as cidades, sendo-lhes vedado, por exemplo, em Viseu.

"Em Santarém, até se passa uma situação caricata, pois deixam-nos concorrer, mas são desalojados caso apareça um estudante do programa Erasmus ou português que precise", relatam.

Ir às causas do insucesso escolar é outra das questões que pretendem ver analisadas e que associam à dificuldade de integração dos estudantes africanos, queixando-se de que a receptividade entre os colegas nem sempre é a melhor.

"Porque é que não somos praxados, se pertencemos à mesma academia?", questiona Neguesse Pina, dando conta que nas semanas académicas são, por regra, marginalizados.

Luís Silva reporta-se mesmo às actividades lectivas: "salvo quando há mais estudantes PALOP na turma, temos dificuldade em arranjar grupos de trabalho e cada um chega a ter de fazer sozinho o "trabalho de grupo" que é pedido pelo professor.

Para os governos nacionais também têm recados, sobretudo a pensar num eventual regresso, depois de concluírem o curso em Portugal.

"É triste os nossos países investirem cinco anos na nossa formação e depois verem quadros qualificados fixarem-se fora. Há que criar incentivos para o regresso", observam.

Uma medida que consideram bem vinda, é o estabelecimento da obrigatoriedade das empresas estrangeiras terem alguns quadros superiores nacionais, tal como já acontece com a exigência de terem uma percentagem de participação nacional no capital das empresas.


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