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13-10-2004

À procura de êxito com 500 dólares no bolso


Bairradinos no mundo

Hélder Pinho, de 38 anos, natural de Oiã, mas residente em Amoreira do Repolão, emigrou para a América em 1986, logo após ter casado com Arménia de Pinho, também residente em Amoreira do Repolão, hoje inspectora de uma empresa de acessórios de automóveis. Saiu do país apenas com 500 dólares no bolso para procurar uma melhor vida e na esperança de um dia poder garantir um melhor futuro aos seus filhos. “FOI DIFÍCIL O AFASTAMENTO” Hélder Pinho, funcionário de uma empresa de construção, residente nas proximidades de Danbury, Estado de Connecticut, conta que a ideia de emigrar ainda demorou algum tempo a amadurecer. No entanto, sublinha que como os seus sogros estiveram emigrados e sua esposa também tinha residido em New Bedford e por isso já conhecia a América, resolveram partir. “Em bom tempo, resolvemos viajar para a América, mas agora confesso que foi difícil o período inicial devido ao afastamento dos meus pais. Sou muito agarrado à família e por isso é sempre muito difícil partir quando existem estes elos familiares”. Hélder Pinho diz que entende, perfeitamente, que seria impensável em Portugal ter conquistado uma vida como a que agora desfruta e a possibilidade que tem em assegurar aos seus filhos um futuro com muita estabilidade e acima de tudo com muita qualidade. “SEM PERPECTIVAS DE REGRESSO” Depois de vários anos emigrados, Hélder afirma que o tempo ainda não lhe permite antecipar um regresso, mas as perspectivas apontam para uma permanência definitiva naquela zona até porque os seus filhos já têm alguma idade e começam a criar raízes profundas na América. “Emigrar também tem o chamado reverso da medalha que é ficarmos agarrados ao nosso segundo país. Mas estou convencido que, um dia, a nossa vida será feita entre os dois países, talvez seja a forma de lidar com estas adversidades e nunca nos afastarmos de quem cá deixamos”. Mas, mesmo com a incerteza do seu regresso, desabafa e salienta que chegou a vender a casa com a vontade expressa de regressar a Portugal, mas o seu filho, de 13 anos, fez-lhe ver, numa outra perspectiva, o seu regresso. Assim como construiu uma casa em Amoreira do Repolão. Afirma ainda que todos os emigrantes que têm filhos, que são criados na América e depois seguem os seus estudos, muito dificilmente conseguirão ausentar-se do país. “É uma vida nova que as crianças têm e que, saindo daqui, representaria o mesmo que imigrassem para Portugal. Acho que os filhos não devem passar pelas dificuldades que nós passámos. Aliás, seria um contra-senso, pois nesse caso tínhamos emigrado em vão”. “MANTER AS ORIGENS” Hélder Pinho para não esquecer as suas origens e para manter as tradições culturais portuguesas, faz parte de um rancho folclórico português e frequenta os clubes das associações portuguesas, como, de resto, é um hábito partilhado por muitos dos emigrantes. “Sempre que possível deixo bem vincada a marca de Portugal neste país que também ajudámos a crescer”. Mas é com alguma mágoa que comenta que a emigração portuguesa está praticamente parada: “Já não é como antigamente. Agora, somos invadidos pelos brasileiros, chilenos, e, sobretudo, pelos povos cuja língua é o espanhol”. Continua a acreditar que apesar de tudo aquilo que se diz, a América é e será um grande país onde as oportunidades continuam a existir. “É um país que tem particularidades que o faz diferente de todos os outros”. “MATAR SAUDADES” Hoje em dia, estar longe de Portugal já pode ser combatido, através do telefone, já que os preços das chamadas são muito reduzidos, acrescentando que nunca se pode esquecer da importância do Jornal da Bairrada. É um mensageiro precioso que “todas as semanas nos traz as boas novas da nossa terra”. Apesar de toda as páginas serem lidas com carinho, é a necrologia que merece mais atenção da parte do casal Pinho. “É nesta página que ficamos a saber quem morre na nossa zona. Parece ridículo, mas a verdade é que a necrologia tem muita importância para quem está longe do país. “É no Jornal da Bairrada que encontramos energia para matar as saudades”. Pedro Fontes da Costa pedro@jb.pt

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