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28-10-2004

Banda cada vez mais idosa, mas cada vez mais nova


Fermentelos

A Banda Marcial de Fermentelos, que também dá pelos carinhosos nomes de Banda Velha e de Ramboia, festejou, no último sábado, dia 23, mais um aniversário a somar ao longo estendal de anos - precisamente 136 - sob o signo da juventude e da renovação.

Fazendo o balanço da época, o presidente da direcção, Rodrigo Massadas, afirmou que “foi um ano maravilhoso”.

OBRAS EM MARCHA

Como ritualmente previsto, não foram esquecidos os que partiram, músicos e maestros, no último sábado, com missa em sufrágio de suas almas e romagem ao cemitério.

Mas como não há presente sem passado nem futuro sem presente, foi homenageado, durante o concerto, um dos mais emblemáticos dirigentes e aficionados da Banda Marcial, Ulisses de Carvalho. Homenageado com a interpretação de uma peça, de autoria do seu maestro, Luís Cardoso, precisamente intitulada “Ulisses”, o que mereceu farto-aplauso. Era a grande surpresa da tarde.

Concerto, que terminou em apoteose com os “parabéns a você”.

Algum tempo depois, era o tempo de convívio a continuar a mesma festa, com um jantar no salão que, logo se notou, está maior. A nova direcção meteu mãos à obra e surgiram novos melhoramentos que resultaram na ampliação deste mesmo salão, aumentando a capacidade para cerca de mais cem pessoas. O que parecia grande, um luxo, veio, com o tempo, a verificar-se pequeno e enganara-se quem assim o afirmou na altura da inauguração.

Simultaneamente foi ampliado o auditório e o novo espaço vai ser transformado em várias salas de música, igualmente um anseio antigo. Tudo isto, fruto da coesão sentida dos dirigentes e vem enriquecer e prestigiar a Banda. Agora, resta concluir as obras - o objectivo imediato.

A escola de música é frequentada por 25 alunos, ensino totalmente gratuito e é uma garantia da continuação e sobrevivência da Banda Marcial, enquanto a Banda dispõe de 64 executantes e a Orquestra Ligeira (Olbama), 20.

No salão de festas, mais amplo, decorreu o jantar em ambiente de festa e confiança no futuro.

Na mesa, em cima do palco, os presidente da direcção e Assembleia Geral da Banda, Rodrigo Massadas e Adolfo Roque, presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal de Águeda, Nair Barreto, e Amílcar Lemos Dias; ainda outros políticos, os vereadores, Pinto Galvão e Jacinta Almeida; presidente da Direcção do Conservatório de Música de Águeda, Augusto Gonçalves, e o maestro, Luís Cardoso.

“O SENHOR DOS MILAGRES”

Festa de banda sem a partitura solene das palavras não é festa.

Ainda que, com palavras breves, convicção da missão cumprida com enormes êxitos, o que faz com que a Banda Marcial esteja a viver, a nível artístico, um dos bons e mais altos momentos da sua longa história e de muita confiança no futuro, pois nada lhe falta para manter neste patamar as exibições, senão mesmo melhorá-las, Rodrigo Massadas havia de afirmar, em resumo, que “este foi um ano maravilhoso”.

Muito graças ao empenho e saber de Luís Cardoso e fez uma declaração de amor ou paixão eterna à “sua” banda: “havemos de morrer aqui porque é a nossa casa”.

“A Banda Marcial é uma história bonita que há-de continuar através dos tempos”, assim começou a sua intervenção o presidente da Junta de Freguesia, Amílcar Lemos Dias, que adiantou que “nunca mais terei a coragem de chamar-lhe velha, quando há uma renovação total”. Avançou mesmo que “o Senhor dos Milagres está no maestro” e que “nada é velho desde que seja renovado”.

Teceu mesmo um voto: que “todos ajudem esta Banda a continuar em frente”. Ao mesmo tempo que deixou “uma pequena lembrança da JF”, não sem antes desabafar: “tenho pena de não ser dez vezes mais”.

Por sua vez, Nair Barreto, presidente da Câmara de Águeda, realçou que fazer 136 anos “é um momento que marca” a colectividade, os músicos, os amigos, “o que traz um acréscimo de responsabilidade ao maestro e músicos”.

A Banda Marcial “mostra uma tenacidade inquebrantável, o que levou a superar as dificuldades que atravessaram no seu caminho”, acrescentou.

Realçou ainda o que considerou “um momento pedagógico”, que se prendeu com a homenagem a Ulisses de Carvalho, através da execução de uma peça, da autoria de Luís Cardoso, “o que mostrou que não é só músico, é um maestro excelente”.

A autarca avançou mesmo que a Banda Marcial “está bem entregue” nas mãos de Rodrigo Massadas e Luís Cardoso, “jovens fantásticos”, mas que, evidentemente contam com os músicos que muito dão de si.

Abordou ainda a necessidade da criação do museu para albergar partituras que são verdadeiras relíquias, muitos instrumentos antigos, que fazem memória e história, um espólio muito rico de uma banda que é também “lugar de afectos”, (refira-se aos namoros que ali se geram e fortalecem), realçou Nair Barreto.

A Banda Marcial “cresce, cresce”: tem sala de festas ampliada, mecenas e gente de longe que ajudam a realizar os projectos, grava Cds, (vai gravar mais dois: um, compreendendo originais de compositores de Fermentelos - Cândido Santos, Carlos Marques e Luís Cardoso, todos filhos da Banda Marcial - e o segundo, com o repertório que esta banda toca pelas romarias), faz renovação de fardamento, tem escola de música, não se limita a ter músicos já formados, antes os vai formando. Todavia, ressalvou que “eu gosto das minhas cinco bandas da mesma maneira”, para rematar: “A Câmara orgulha-se do vosso trabalho, podem contar com ela em qualquer momento”.

DINAMISMO E JUVENTUDE

Adolfo Roque começou o seu discurso por afirmar que fora impossível estar ali Nuno Pinto da Costa e o Minguelhas que estiveram na Banda Marcial, exactamente no dia em que o dirigente do FC do Porto, fez o contrato com o Jardel.

“Tem 136 anos, mas não está velha”, foi como Adolfo Roque definiu o momento da Banda Marcial, “o que significa dinamismo e juventude” achando-se no bom caminho, no caminho seguro do futuro “não só pela juventude, mas também pelo reportório moderno”. Aliás, o maestro, ao renovar, “fez um desafio a todos nós”, que devemos, à maneira de empresas, jogar na inovação para que o país tenha futuro”.

Dentro de um espírito de preservação das tradições e raízes culturais próprias, longe da globalização.

Tal como os ranchos, as bandas “têm um papel determinante” na preservação nos nossos valores e padrões, de modo que mantenhamos a nossa identidade que é necessário ir passando aos jovens, havia de acrescentar ao seu reciocínio.

O presidente da Assembleia Geral da Banda em festa fez também um voto: “que a Banda continue mais idosa, mas cada vez mais jovem, desafiando tudo e todos”.

Armor Pires Mota


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