A Associação Rota da Bairrada está a completar uma década de existência.
Com dois Espaços Bairrada (um na Curia e outro em Oliveira do Bairro) e uma loja online, esta associação, liderada por Jorge Sampaio, vice-presidente da autarquia anadiense, prepara-se para, em 2017, abrir mais um Espaço Bairrada, na cidade de Aveiro.
Em paralelo, diz, o próximo ano será decisivo para recolocar e redesenhar a marca Bairrada no panorama nacional, dando-lhe mais força: “2017 será um ano de grandes desafios no sentido de sustentar, dar força à marca Bairrada”, sublinha em entrevista a JB.
Convicto de que de hoje a Bairrada é “uma região mais forte, mais dinâmica, mais jovem e inovadora, que sabe conciliar a inovação com a tradição”, faz ainda um balanço muito positivo do trabalho realizado pela Rota da Bairrada “naquilo que é unir a região e os diferentes players à volta de um mesmo projeto.”
A Rota da Bairrada está a completar uma década de existência. Que balanço faz?
O balanço é extremamente positivo porque a Rota surgiu do projeto de revitalização da antiga Rota dos Vinhos. Não é fácil pegar num projeto que existe, adaptá-lo e convencer as pessoas de que um novo modelo é melhor. Esse trabalho foi feito durante três anos (entre 2003-2006), até ao arranque efetivo da Rota da Bairrada.
O grande trabalho desta associação tem muito a ver com aquilo que é unir a região e os diferentes players da região, de várias áreas, à volta de um mesmo projeto. Este é um projeto que tem unido à sua volta, os municípios, os produtores vitivinicultores, a restauração, a hotelaria e todas as entidades ligadas ao turismo.
Este foi o grande contributo que a Rota da Bairrada deu ao longo destes 10 anos para este espírito de região. Depois, o facto de se ter implementado e fortalecido a marca, Bairrada. A Rota da Bairrada pegou nesta marca implementou-a na região e levou-a fora de portas. O resultado disto tudo é um pouco o que hoje temos na região – uma região mais forte, mais dinâmica, mais jovem e inovadora, mas que consegue e sabe conciliar a tradição.
Mas a Rota da Bairrada teve uma humilde participação nisto tudo. Este foi um trabalho feito muito pelos nossos agentes económicos, em especial pelos nossos produtores, pelos nossos municípios (com intervenções fantásticas no território), e pela nossa Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) que tem trabalhado cada vez mais nesta matéria. Aliás, desde que Pedro Soares entrou para a CVB trabalhamos de forma completamente sincronizada, muito mais articulada em todas as ações que se fazem.
Quais as principais conquistas da Rota da Bairrada?
A união da região. A criação deste conceito de região é, sem dúvida, o mais importante. Havia a marca Bairrada, que era associada aos vinhos e ao leitão, mas conseguimos nestes 10 anos criar um conceito de região mais abrangente, tanto dentro como fora de portas. Somos muito a qualidade e os excelentes vinhos que temos, mas também muito o leitão da Bairrada e a sua restante gastronomia, mas somos mais – uma região.
Com quantos associados começou a Rota da Bairrada e quantos são hoje os associados?
Os números cresceram muito. Começámos com 23 associados, hoje são 52. Com uma vantagem: crescemos bastante nos associados produtores, mas crescemos muito também nos associados da restauração, sobretudo nos últimos anos, o que para nós é uma conquista muito grande. A restauração é um meio primordial para a promoção dos nossos vinhos e conseguimos que a nossa região olhe mais para os nossos produtores e para os nossos vinhos.
Quando nasceu o portal da Rota da Bairrada, era feito um apelo no sentido de que fossem os agentes a “alimentarem” continuamente o portal, inserindo informação diversa. Que avaliação faz desse trabalho?
Estes processos nem sempre são fáceis. Entendo que os nossos produtores, restaurantes, hotéis são agentes económicos e a vida deles é focada naquilo que é a faturação. Hoje em dia os mercados obrigam a uma atenção constante por parte dos nossos agentes económicos – vender vinhos, alojamentos e refeições. Por vezes, não é fácil que eles tenham este cuidado de irem às ferramentas que estão à sua disposição e consigam eles próprios lá introduzir informação. Temos vindo a lutar muito nisto porque o portal é uma ferramenta fantástica. Contudo, a Rota da Bairrada tem uma pessoa que diariamente ali vai colocando informação de relevo e de nos substituirmos aos nossos agentes neste trabalho. Mas, de facto, uns dão mais importância do que outros a esta ferramenta.
Como está a loja online? Tem tido muita adesão?
Sim, tem havido uma forte adesão. Foi lançado este ano e estamos a trabalhar na área da promoção e divulgação deste espaço online. Foi uma agradável surpresa. As pessoas que visitam os nossos espaços, sobretudo de outras regiões do país e estrangeiro, sentem que têm aqui uma forma de poderem, através desta ferramenta, continuar a adquirir os produtos de que gostaram. As vendas na loja online têm crescido todas as semanas e vamos lançar em 2017 uma forte campanha de promoção e divulgação deste espaço online. Foi uma aposta completamente ganha. Um passo que teríamos de fazer e está a ser um sucesso.
Relativamente ao setor vinícola, a Rota da Bairrada já integra a totalidade dos produtores da região?
Não. Dos dados que temos serão cerca de 100 os produtores inscritos na CVB, mas o nosso número de associados tem vindo a aumentar muito.
A Rota da Bairrada é uma entidade que promove a Bairrada como destino de enoturismo. E somos um exemplo para várias regiões, naquilo que é a separação clara na promoção de vinhos (a cargo da CVB) e aquilo que é a promoção do destino Bairrada, no enoturismo que cabe à Rota da Bairrada fazê-lo. Contudo, somos parceiros.
Temos essa separação bem feita e isto quer dizer que nem todos os produtores têm aptidão para receber turistas ou terem uma visão do que é o enoturismo, logo nunca teremos todos os produtores da região como associados. Tem de haver uma vontade do produtor para esta componente do turismo que é o enoturismo. Mas os mais importantes produtores da região nesta área do enoturismo estão quase todos na Rota.
Este ano crescemos muito já que a alteração nos Estatutos da Rota da Bairrada veio permitir que mesmo aqueles que não têm instalações para receber turistas podem usar as nossas instalações (Espaços Bairrada) para receber os seus turistas e seus clientes.
Creio que no próximo ano vamos consolidar a nossa proximidade com este tipo de produtor. Veja que temos produtores de menor dimensão com vinhos de uma qualidade incrível, fantástica, mas sem espaço destinado ao enoturismo ou para receber turistas.
E o número de associados da restauração, tem aumentado?
Sim e este aumento deixa-me muito satisfeito. Hoje, são os próprios agentes que vêm ter connosco. Começámos a Rota da Bairrada com o princípio que – quem quer entrar no comboio entra, mas o comboio tem que ser posto em andamento. Não se podiam adiar mais estas questões da Rota da Bairrada. Foi assim em 2006. Depois, passámos por uma fase em que fomos ao encontro das pessoas, falar com elas mostrando a importância do projeto. Hoje, felizmente, já estamos numa fase em que são os agentes a pedir para entrar. Isso deixa-nos muito satisfeitos. Em 2017 temos o objetivo de ter aqui um trabalho mais forte na área da hotelaria, à semelhança do que fizemos em 2015/16 com a restauração.
A CVB reelegeu recentemente Pedro Soares como presidente. Que relação é que a Rota da Bairrada tem com a CVB?
A relação é fantástica. O Pedro Soares foi uma lufada de ar fresco na região e na CVB. Tem feito um trabalho extraordinário naquilo que é a defesa e a promoção da região e dos seus produtos. Hoje, a Rota da Bairrada e a Comissão Vitivinícola trabalham diariamente em articulação. Raro é o dia em que não conversamos sobre os projetos. Depois, temos a particularidade de quando um sugere uma ideia, o outro diz para se fazer ainda mais. Há, portanto, um desafio constante entre a Rota da Bairrada e a Comissão Vitivinícola. Isto tem contribuído muito para o que tem sido o crescimento e evolução da nossa região.
O turismo é cada vez mais importante para a região da Bairrada. Qual é o seu peso na região?
Sentimos, de modo geral, que tem havido um crescimento de turismo e do enoturismo na região. Tem havido um crescimento enorme nas visitas às adegas da região, até porque estamos entre dois importantes polos – Aveiro e Coimbra.
Portugal e a região têm de apostar no turismo – esta é a área de futuro para o país. Só quando nos convencermos disto e trabalharmos em condições no turismo (não andar a mudar de políticas a cada quatro anos, sempre que há eleições) e virmos que este é estratégico para o país, ganharemos muito mais com o turismo.
Há aqui também um trabalho a outra escala (Rota de Vinhos de Portugal – a que presido) em que estamos, neste momento, a montar um observatório de enoturismo com o Turismo de Portugal para que no futuro possamos ter dados concretos das visitas às adegas.
Hoje, o facto da Rota da Bairrada ter a presidência da Rota dos Vinhos de Portugal é o reconhecimento pelas outras regiões do trabalho que tem sido desenvolvido pela Rota da Bairrada, ao longo destes 10 anos. Somos a primeira região a presidir à Rota dos Vinhos de Portugal.
Tem sentido o apoio necessário por parte das câmaras municipais?
As oito câmaras municipais contribuem muito para aquilo que é o projeto Rota da Bairrada. Primeiro, no que é o apoio institucional (não é só câmaras municipais), temos a felicidade de ter o envolvimento dos oito presidentes de câmara no projeto Rota da Bairrada, ou seja, temos tido o cuidado de periodicamente reunir com os oito presidentes de câmara, com o presidente do Turismo do Centro de Portugal e com a CVR. E é no seio deste grupo que vários projetos são discutidos.
As câmaras municipais, com as suas ações, cada uma delas, têm contribuído para o todo que é a promoção da Bairrada.
Catarina Cerca
(entrevista na integra na versão em papel)
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