É um facto, que me parece incontestável, - a classe política e a acção que ela exerce gozam de baixa cotação na opinião pública do país. É de justiça dizer que há muita gente competente e séria no mundo político e que caminhos andados e decisões tomadas, ao longo de décadas, mostram a importância da acção política, quando orientada por gente com capacidade e competência e uma séria e inegável dedicação à causa pública. Para o descrédito a que, lamentavelmente, se chegou e que ameaça trazer surpresas consequentes nas próximas eleições, não se pode assacar a culpa apenas a um órgão da soberania. Todos se entrelaçam nestas relações de causa e efeito. As suas diversas intervenções assim o foram denunciando ao longo do tempo, que, afinal, nem é tão longo como isso. Porém, agora que muito pode ser visto, no canal da televisão que mostra e relata o que faz no Parlamento e pela assistência nas galerias, frequentemente cheias crianças e jovens, ao mesmo tempo que os jornais e os demais canais televisivos mostram e ampliam mais as picardias, que as coisas de interesse, a Assembleia da República e os deputados que a constituem, parecem ter parte importante no conceito pouco elogioso que o povo guarda dos políticos. No tempo de fazer e desfazer as listas dos futuros deputados, quando apanho a jeito algum responsável partidário, com presumível influência no processo, costumo perguntar-lhe se, antes de pensarem e de indicarem nomes, se lêem os artigos da Constituição sobre a missão da Assembleia e o que se espera dos que a compõem. Não é missão simples, ao representar todos os cidadãos, exercer, com qualidade e competência, a função política e legislativa, vigiar pelo cumprimento da Constituição, fiscalizar e apreciar os actos do Governo e da Administração, não sob uma óptica meramente partidária, mas do bem comum e do interesse nacional. Sem juízos sobre pessoas concretas, pode ficar a ideia de que há candidatos aos quais parecem interessar mais os artigos que se referem aos seus direitos e regalias. Esta ideia vem ao de cima ao tentar perceber as razões que presidiram à feitura das listas. Os destroços que ficam pelo caminho, ainda que um tanto manipulados por jornalistas não isentos, mostram, por vezes, a predominância de interesses e favores pessoais, traduzidos em nomes vazios de esperança, arranjos alheios ao que o país espera e precisa, guerras pessoais internas, amuos não contidos, ameaças proferidas, elogios e rebeliões, tudo consoante o vento soprou a favor ou contra. Os que vêem na política uma saída fácil para a sua vida ou um pedestal esperançoso para as suas ambições, acham-se sempre capazes de ser deputados, na esperança de encontrar aí um ponto de apoio para outros voos, impossíveis pelo caminho do mérito pessoal. A honestidade tem de ser qualidade comprovada para quem se dispõe a fazer da acção política um caminho para a sua vida. Ela requer lucidez, sentido de serviço, vivência solidária, capacidade de doação, coerência de vida, conhecimento da realidade. O tempo vivido e o modo como se viveu é um teste a verdade de tudo isto. Poder ser deputado não é um direito, mas um reconhecimento. Neste, a ambição não dispensa a competência e os favores políticos e pessoais não substituem a capacidade requerida. O cerne do desenvolvimento e do progresso harmónico de um país está mais na Assembleia da República que em qualquer dos outros órgãos da organização do poder político. Será que os eleitores estão convencidos desta realidade? |