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23-05-2018

'Espaços de Memórias' celebrou o património e povo severense.



Durante dois dias, Sever do Vouga celebrou o seu património e refletiu sobre a importância da memória na construção e preservação da identidade local. O projeto cultural, “Espaços de Memórias”, concebido pelo Centro das Artes e do Espectáculo e pelo Museu Municipal, reuniu especialistas e comunidade. A programação percorreu diferentes locais do concelho, nos dias 18 e 19 de maio, contribuindo para a descentralização da cultura.

“Dois equipamentos culturais uniram esforços e organizaram um programa com diversas ações que levaram a Cultura a diferentes pontos de Sever do Vouga, o que permitiu (re)descobrir o nosso território. Durante dois dias, o património e o povo severense foram celebrados através destas jornadas culturais que estreitaram a relação afetiva entre as pessoas e o território. Juntos, recuperamos e construímos «Espaços de Memórias»”, afirma o vice-presidente da Câmara Municipal, Almeida e Costa, que se mostrou satisfeito com os resultados da iniciativa.

O primeiro dia, 18 de maio, foi dedicado à partilha de conhecimentos. No palco do Centro das Artes e do Espectáculo, profissionais da Antropologia, História, Arqueologia, investigadores e artistas participaram numa conversa informal que proporcionou uma visão mais alargada sobre o que é a memória coletiva e a importância da sua preservação na construção da identidade de um território. Na sessão de abertura, Gertrudes Branco, em nome da Direção Regional de Cultura do Centro, elogiou o trabalho que o Município tem desenvolvido na defesa e salvaguarda do património, referindo o encontro como mais um exemplo de boa prática.

A importância da narrativa oral na transmissão das memórias entre gerações e a necessidade de recolher, tratar e arquivar essas mesmas memórias, disponibilizando-as para as gerações futuras foram alguns dos assuntos abordados no encontro. O aproveitamento hidroelétrico de RibeiradioErmida enquanto caso de estudo para a importância da tutela na preservação das memórias e da antropologia na salvaguarda do património imaterial também foi debatido. Recorde-se que, durante a construção da barragem, foram descobertas cerca de 20 mil peças arqueológicas datadas do Paleolítico, que estão a ser estudadas e, em breve, farão parte do espólio do Museu Municipal de Sever do Vouga. Ainda no âmbito da construção da barragem, foi feita uma recolha exaustiva das histórias, saberes e tradições da comunidade ribeirinha que deu origem a um relatório técnico que, em breve, será transformado em livro.

No primeiro painel “A preservação das memórias na construção de uma Identidade”, aarqueóloga Alexandra Cerveira Lima, da ACOA (Amigos do Parque e Museu do Coa) trouxe o exemplo do “Arquivo de Memórias”, um projeto desenvolvido na região do Côa e que aproxima gerações. Sobre “O papel da tutela na salvaguarda das memórias no âmbito dos EIA-Estudos de Impacto Ambiental”, a arqueóloga e investigadora Gertrudes Branco afirmou que, no caso de Sever do Vouga, “o aproveitamento hidroelétrico de Ribeiradio-Ermida veio trazer um importantíssimo conhecimento".

A manhã terminou com a visão dos profissionais das Artes e do Espectáculo sobre “O papel da intervenção artística na salvaguarda das memórias sociais e coletivas e ajuda na construção da identidade local”, com a participação da coreógrafa Sofia Silva e do dramaturgo Fernando Giestas.

Durante a tarde, Sónia Filipe, arqueóloga da reitoria da Universidade de Coimbra e com origens familiares no concelho, partindo da sua experiência pessoal, fez uma viagem pelo “território como espaços de memórias, testemunho e herança cultural”, questionando ainda “o papel dos movimentos associativos na construção da(s) identidades(s) locail(is)”. Seguiu-se a intervenção do antropólogo Hugo Morango que falou sobre o papel da “Antropologia na salvaguarda do património imaterial”, dando como exemplo o caso da Barragem de Ribeiradio-Ermida. O encontro terminou com uma tertúlia sobre o “Património Cultural” que contou com os testemunhos dos arqueólogos Jorge Lopes e Daniel Matos e do investigador de História Local António H. Tavares.

Após a partilha de conhecimentos, celebrou-se o segundo aniversário do Museu Municipal de Sever do Vouga. Os participantes foram recebidos pela coreógrafa Leonor Barata que, numa visita guiada invulgar, deu a conhecer as diferentes salas e espaços do equipamento cultural. Seguiu-se a inauguração da exposição de Renato Pinto, jovem severense que, através do desenho, interpretou oito elementos patrimoniais do concelho.

No dia seguinte, os “Espaços de Memórias” percorreram a freguesia ribeirinha de Couto de Esteves. A manhã foi passada na Casa da Cultura, numa animada conversa sobre um tempo que não regressa, mas que pode ser revivido através da narrativa oral. Os moderadores Mário Silva, investigador de História Local, e Hugo Morango, antropólogo, avivaram as memórias das anciãs, D. Silvina, de 84 anos, e D. Maria do Carmo, de 96 anos, que partilharam as vivências e as histórias de antanho. Os testemunhos foram recolhidos pelo Museu Municipal que já iniciou um processo de recolha e tratamento do património imaterial de Sever do Vouga.

Com o objetivo de descentralizar a Cultura e proporcionar a (re)descoberta do território, a Aldeia dos Amiais, que integra a rede de Aldeias de Portugal, foi palco de uma visita afetiva orientada pela coreógrafa Leonor Barata. Música, poesia e dança indicaram o caminho de uma aldeia marcada por histórias e vivências que se cruzam e que fazem daquele lugar um espaço único.

À noite, foi inaugurada a exposição coletiva de artes visuais e escrita “Memória(s)”. O Centro das Artes e do Espectáculo desafiou os severenses a dialogarem com as suas memórias. Ideias, sensações e impressões foram materializadas através de mais de duas dezenas de trabalhos originais que podem ser vistos até o dia 30 de junho. A programação encerrou com a celebração da cultura portuguesa através da voz do cantautor Fausto que apresentou o espetáculo “A Trilogia” e lotou o Centro das Artes e do Espectáculo.

A iniciativa “Espaços de Memórias” insere-se no Ano Europeu do Património Cultural 2018 e decorre no âmbito do programa “Cultura em Rede - Região de Aveiro”, financiado pelo Centro2020, que visa afirmar a Região de Aveiro como um destino turístico cultural, através dos recursos patrimoniais existentes. 


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