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18-07-2018

UA em projeto sobre trabalho das mulheres portuguesas na música contemporânea.



Projeto internacional com participação da Universidade de Aveiro e que envolve 24 investigadores dá a conhecer trabalho das mulheres portuguesas na música contemporânea.

Não é fácil a tarefa quando se pretende enumerar mulheres que se tenham destacado na música, ao longo do século XX em Portugal. Para reduzir a penumbra que persiste sobre figuras e trabalhos, uma equipa de investigadores de várias instituições, coordenados por Helena Marinho, professora da Universidade de Aveiro (UA), tem vindo a fazer levantamento de dados e partituras em arquivos vários e com ajuda de colecionadores, músicos e estudiosos. Mais de 40 mulheres com trabalho relevante em composição musical já foram identificadas contra os oito singelos casos de compositoras referidos na Enciclopédia da Música em Portugal do século XX.

Os nomes de Elvira de Freitas ou de Berta Alves de Sousa dizem-lhe alguma coisa? Ambas foram compositoras portuguesas do século XX, mas muito pouco conhecidas do grande público, apesar do vasto e eclético trabalho da primeira e dos prémios e elogios da imprensa às diferentes formas de expressão da segunda.

Elvira de Freitas, filha do compositor Frederico de Freitas, tem o seu espólio na UA por decisão de seus filhos, na sequência de uma decisão anterior e semelhante de Elvira de Freitas em relação ao espólio de seu pai. O ecletismo do seu trabalho e uma extensa produção musical vocal são, talvez, as notas mais salientes do trabalho como compositora.

Desde a música erudita, ao fado e às marchas, diversos foram os estilos que inspiraram as composições de Elvira de Freitas que, para além de compositora premiada, foi também maestrina na Emissora Nacional e alargou a sua produção a outras áreas de expressão: escrita de ficção e artes plásticas.

Berta Alves de Sousa foi compositora, maestrina, pianista e professora do Conservatório de Música do Porto. Terá sido uma das primeiras mulheres

portuguesas a dirigir uma orquestra sinfónica, nomeadamente a Orquestra Sinfónica do Porto (1950) e realizou um relevante trabalho de divulgação da música portuguesa contemporânea através de conferências, palestras, crítica musical e recitais na Emissora Nacional.

Convenções sociais condicionam

O projeto designa-se “Euterpe unveiled: Women in Portuguese musical creation and interpretation during the 20th and 21st centuries” (“Euterpe revelada: as mulheres na criação e interpretação musical portuguesas nos séculos XX e XXI”). Na mitologia grega, Euterpe era uma das nove musas, a musa da música. Para além do levantamento das obras e subsequente edição crítica de partituras e de dados biográficos, o trabalho envolve ainda entrevistas com compositoras e mulheres intérpretes e, nos casos em tal não é possível, entrevistas com familiares e pessoas próximas, num formato próximo do documentário. Na UA, o projeto decorre no âmbito das atividades do polo de Aveiro do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md).

O trabalho realizado até agora indica que a notoriedade da mulher na música em Portugal atravessou três períodos, comenta a coordenadora do projeto: da implantação da República à década de 1930, o período do Estado Novo, e um último, de finais da década de 1960 até aos nossos dias. Helena Marinho explica que, segundo investigação de André Vaz Pereira, da equipa do projeto, no Sindicato dos Músicos havia registos de duas centenas de mulheres até 1934, número que cai abruptamente no período seguinte para 80, coincidindo com o Estado Novo. Regra geral,” no que diz respeito à música erudita, a participação das mulheres na criação musical, pelo menos até à década de 1970, foi difícil e limitada por convenções sociais”.

Houve, contudo, muitas mulheres que conseguiram ultrapassar as barreiras sociais, compondo, interpretando e mantendo carreiras nacionais e internacionais de relevo, como a maestrina e compositora Berta Alves de Sousa, que rapidamente caíram no esquecimento (sobretudo no caso das compositoras). “A falta de edições de partituras musicais neste período, por exemplo, é um fator a ter em conta, conjugado com uma certa tendência da musicologia portuguesa em centrar-se na atividade dos compositores e intérpretes masculinos”, considera a investigadora e professora do Departamento de Comunicação e Arte da UA.

Música ainda é marcada por diferenças de género

As diferenças de género no meio musical ainda são visíveis hoje em dia, assinala ainda Helena Marinho, referindo o exemplo da Casa da Música que programa apenas quatro obras de mulheres durante o ano de 2017 e prevê dedicar uma semana em 2019 às mulheres na música – prova de que o trabalho das mulheres na música em Portugal é pouco conhecido, comenta.

A equipa de “Euterpe revelada: as mulheres na criação e interpretação musical portuguesas nos séculos XX e XXI” integra 24 investigadores das universidades de Aveiro, Nova de Lisboa e La Rioja e do Instituto Politécnico de Lisboa, investigadores independentes e as unidades de investigação Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md) e Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM). O projeto começou em julho de 2019 e tem conclusão prevista para junho de 2019.

 

Texto e foto: UA

 


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