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23-02-2005

Futebolista virou farmacêutico


OBSC

Foi uma opção, decidida num curto espaço de tempo, mas não é radical. É verdade que o futebol não dura sempre. Primeiro há que acautelar a vida profissional e respectiva estabilidade. Foi isso que Edgar Bandeira fez, ao trocar o futebol pela profissão de farmacêutico.

UM ATÉ JÁ

Aos 23 anos, Edgar Bandeira, que fez praticamente toda a sua formação no Oliveira do Bairro, sobressaindo no escalão de juniores, o que o levou a rumar ao FC Porto, onde esteve dois anos, sem esquecer as passagens pelo Sourense e Valenciano, teve que optar em continuar ligado ao futebol ou seguir uma carreira de farmacêutico.

Há três anos que trabalha na Farmácia Gina, em Amoreira da Gândara. A saída de um colega condicionou a sua estratégia, sobretudo a proprietária da farmácia, que se viu a contas com a falta de um profissional.

Vai daí, propôs outras condições a Edgar Bandeira. Uma delas é que teria de deixar o futebol, até que encontrasse mais uma pessoa. O jogador bairradino optou pela via que lhe dava mais segurança, outra estabilidade futura.

No dia 23 de Dezembro, fez o último treino com a camisola do Oliveira do Bairro, despediu-se dos colegas, e está, de corpo e alma, na Farmácia Gina, porém, esperançado que vai voltar ao futebol na próxima época.

Instando a pronunciar-se sobre como é que se tem sentido fora do futebol, Edgar Bandeira disse o que lhe ia na alma: “Falta-me qualquer coisa. O futebol foi sempre a minha vida e, aos domingos, sinto falta de tudo, dos colegas, do balneário e do cheio da relva. Até me dá dores de barriga”. Mas com alguma nostalgia a toldar-lhe o rosto, o ex-jogador do Oliveira do Bairro diria que “tive que optar pelo meu emprego, pela estabilidade económica”.

Edgar Bandeira estava na sua segunda época consecutiva ao serviço do Oliveira do Bairro. Na presente época, jogou 215 minutos; somou treze pontos no prémio Regularidade, e foi admoestado com quatro cartões amarelos. Como se vê, jogou pouco, e sobre o balanço, comungou que “se calhar, não joguei aquilo que pretendia, mas sempre respeitei as opções do treinador”.

Depois uma confissão: “Estou na minha terra, defendo o clube da terra, só jogo no Oliveira do Bairro, deixo aqui um até logo, ou até já. Porquê esta posição? Gosto da minha terra e a posição privilegiada no meu emprego levam-me a pensar assim”.

Questionado se estava arrependido de algo, Edgar Bandeira deixou a sua opinião: “Dei sempre o meu máximo, mas reconheço que em certas alturas perdi a cabeça com atitudes menos dignas que não são do futebol. O querer ganhar sempre fazia com que eu fosse assim”.

Incompreendido, diz que não, que sempre respeitou as opções, e sobre as razões por que é que não foi um titular absoluto com a maior parte dos treinadores, Edgar Bandeira fez mea-culpa: “Se calhar, o defeito era meu, talvez por ser novo, e os treinadores querem resultados e optarem pelos mais velhos”.

O agora farmacêutico confessa o seu temperamento, que era impulsivo, mas, esta sua maneira de ser, segundo testemunhou, era por que sofria sempre para ganhar, a chamada tal mística.

As amizades que fez no futebol foram os aspectos que mais o marcaram, mas quando abordado para falar do lado negativo, Edgar Bandeira foi quase sepulcral. Da sua boca apenas saiu a palavra injustiça no futebol, e um “não sei”, quando questionado sobre o que se passou quando subiu de júnior a sénior no FC Porto. Esteve para ser emprestado ao União de Lamas e Famalicão, mas regressou às origens.

Atrás do balcão, sempre com as caixas de medicamentos na mão, numa comparação, Edgar Bandeira diz que é mais fácil lidar com uma bola, mas lá comenta que a responsabilidade na saúde é diferente.

A conversa terminou com um até logo: “Espero regressar na próxima época”. Manuel Zappa


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