A kiwicoop acaba de revelar, durante um seminário, os resultados do primeiro projecto de Experimentação e Investigação sobre a cultura do kiwi em Portugal, realizado na Bairrada.

Experimentar novas e diferentes técnicas de cultivo e conservação, compará-las com o que é tradição, foi o trabalho desenvolvido por uma vasta equipa de técnicos e investigadores, desde há cerca de três anos, e que agora foi dado a conhecer.

“Ferramenta essencial”

Segundo Fernando Pinhal, presidente da direcção da Kiwicoop - que conta com cerca de 200 associados e é a única empresa do país que comercializa exclusivamente kiwis e que detém uma quota de mercado de cerca de 25% - os resultados do estudo devem constituir uma ferramenta essencial à formação e aconselhamento dos kiwicultores.

Este responsável refere que “é importante que os produtores se apercebam que o sucesso da kiwicultura na Bairrada não é um dado adquirido e eterno. O sucesso só será uma certeza quando produzirmos com qualidade e em quantidade, preservando o meio ambiente. Só assim poderemos competir num mercado cada vez mais exigente, onde os produtos vindos do oriente começam a invadir os n/mercados”.

Kiwicultura, exemplo de sucesso

Para o presidente da Kiwicoop, “o projecto efectuado é um digno exemplo daquilo que pode ser feito, também noutras actividades, na procura de novas soluções, novas técnicas, que permitam inovar e melhorar o sistema produtivo com vista a alcançar resultados que garantam a sobrevivência das empresas e empresários”.

Fernando Pinhalrefere ainda que “há muitos anos se fala que a agricultura portuguesa está condenada ao fracasso. É um erro deixarmo-nos embalar nestas profecias e nada fazer para contrariar essa tendência. Bons exemplos de sucesso se têm visto por este país fora”. Aliás, “a kiwicultura, que há uma dezena de anos, tinha sido dada, por muitos, como uma causa perdida, é hoje um desses exemplos de sucesso”.

Mas logo alertou que os kiwicultores não podem adormecer à sombra dos bons resultados dos últimos anos. “A lei dura do mercado encarregar-se-á de eliminar os mais fracos e seleccionar os mais prevenidos que souberem aproveitar as oportunidades e conhecimentos que lhe são disponibilizados”, reforça.

Este estudo resultou de um trabalho efectuado ao nível de parceria que congrega diferentes entidades interessadas no desenvolvimento da kiwicultura em Portugal - produtores, técnicos das Centrais Fruteiras, Universidade do Algarve, Instituto de Biologia Molecular do Porto, Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva e Direcções Regionais de Agricultura da Beira Litoral e Entre Douro e Minho.

Melhorar o produto e o preço

Já Acílio Gala, presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, durante a abertura do seminário, recordou que actualmente a cooperativa é estável e credível e que o estudo tem, acima de tudo, o objectivo dos produtores melhoraren o produto e o preço, sublinhando que “os jovens se estão a aperceber que a kiwicultura pode melhorar a situação da agricultura”.

O autarca referiu ainda que “a abertura do interposto comercial na Zona Industrial de Vila Verde poderá dar uma ajuda ao escoamento dos produtos, apesar da produção ainda ser deficitária”.

Por seu lado, o subdirector regional de Agricultura da Beira Litoral, sublinhou ter acompanhado com interesse a fileira do kiwi, na sua área agrária, sublinhando que se tem esforçado com o sector da produção em criar condições com os desafios que se colocam.

“Há quatro anos iniciou-se uma nova entrada de agricultores que se dedicaram ao ramo da kiwicultura”, e, por isso, “reconhecemos todo o esforço que foi feito com o intuito de promover o nível técnico dos produtores para que o kiwi nacional possa percorrer um outro caminho que possa conduzir à qualidade”, referiu

Alguns dados

Colheita - Os kiwis devem ser colhidos em dias sem chuva para diminuir a incidência das doenças de conservação. A colheita deve ser feita com cuidado, de modo a evitar feridas ou que os frutos caiam com força nas caixas. Os frutos do chão e os que tenham feridas devem ser separados no campo.

Etileno - O Kiwi é um fruto que produz etileno à temperatura ambiente em cerca de 15 dias após a sua colheita. A temperatura inferior a 10ºC o kiwi não produz etileno. É por isso muito importante a eliminação das fontes de etileno no armazenamento, assim os frutos que chegam do campo devem ser colocados no frio separadamente, e calibrados e seleccionados o mais rápido possível.

Amadurecimento rápido -O kiwi também amadurece rapidamente se armazenado com frutos que produzem etileno como maças e bananas.

Amostras de terra - É fundamental que se faça a análise da terra antes da instalação do pomar e, de 4 em 4 anos, nos pomares já instalados.

Amostras de água de rega - A colheita de amostras de água dever ser efectuada de 4 em 4 anos, antes de se iniciar a época de rega, desde que no 1º ano os valores não excedam os limites máximos recomendados.

Amostras de folhas - É fundamental que se faça a colheita de amostras de folhas para avaliar o estado de nutrição de plantas, de modo a efectuar a fertilização racional.

Lenha da poda- Após a poda do Inverno e respectiva empa, o kiwicultor deverá retirar do pomar a madeira de poda velha, grossa e doente. A madeira de poda nova e sã deverá ficar no pomar procedendo-se ao seu destroçamento com ou sem incorporação.

Rega - A cultura do kiwi não pode ter sucesso se não tiver á sua disposição água em quantidade suficiente. É indispensável possuir uma rede de rega em toda a plantação. Em média cada planta precisa de 50 a 80 litros de água por dia destinados a suprir as suas necessidades hídricas e à manutenção de um ambiente húmido e favorável.

Dados estatísticos

- Dos pomares em plena produção, 80% produziram abaixo das 20 ton/ha; desses, 19% apenas produziram 8% dos kiwis entregues, com produções médias por hectare inferiores a 10 toneladas.

- Em contrapartida, 20% dos pomares produziram cerca de 34% da fruta entrada na Kiwicoop, tendo estes conseguido médias superiores a 20 ton/há.

- Destes, 9 produtores conseguiram mesmo ultrapassar as 30 ton/há.

Estes dados estatísticos referem-se às três últimas campanhas e, só por si, dizem-nos o quanto há a melhorar!