"Trata-se de uma espécie de retrospectiva, que abrange trabalhos criados entre 1998 e 2005", revelou a pintora à Lusa, acrescentando que a mostra vai incluir pinturas com figuras animais e alguns dos retratos do livro "Posso Entrar?", da Campo das Letras.

A obra, que terá uma sessão de apresentação paralela à abertura da exposição, inclui 30 histórias sobre animais da autoria de diversas figuras públicas, sendo cada uma delas ilustrada com um desenho de Graça Marto.

Na apresentação do volume na aveirense Galeria Morgados da Pedricosa vai também marcar presença Isabel Silvestre, que interpretará uma canção relacionada com a história de que dá testemunho em "Posso Entrar?".

Além da cantora, figuram também na obra nomes como José Saramago, Manoel de Oliveira, Jorge Nuno Pinto da Costa, Agustina Bessa-Luís, Álvaro Magalhães, Bárbara Elias, César Príncipe, José Jorge Letria e o padre Mário de Oliveira.

Miguel Moutinho, Urbano Tavares Rodrigues, Maria João Abreu, Mário Cláudio, Manuel António Pina e o bispo Dom Manuel Martins são outras das figuras que recordam episódios sobre os bichos que possuem ou com os quais se cruzaram por acaso.

"Posso entrar? 30 estórias com animais" ocorreu a Graça Marto após receber uma carta de Mário Cláudio em que este lhe contava o caso de uma cadela abandonada que encontrara em Itália e que não o largara até o escritor se decidir a enviá-la de avião para Portugal.

Esta missiva sugeriu à artista plástica uma recolha de relatos verdadeiros - engraçados, dramáticos ou surpreendentes - sobre os animais e as suas atitudes, o que a levou a procurar nomes das artes e espectáculos, do futebol, da religião e de outras áreas.

No livro, o leitor fica a saber que, para o realizador Manoel de Oliveira, "os animais são criaturas como os seres humanos, mas não têm como estes o gosto perverso da tortura" e que, para a escritora Agustina Bessa-Luís, os bichos são "os juros da nossa dívida para com a natureza".

A mesma obra revela que Pinto da Costa já se recusou a pernoitar num hotel por não poder aí entrar com o seu cão doente, preferindo dormir no automóvel toda a noite, e recorda como Saramago, ao discursar na recepção do Nobel, fez questão de falar na relação do seu avô com os animais, algo que o terá marcado.

A artista plástica, que organizou e ilustra a colectânea, revelou à Lusa que, no final dos anos 90, ao visitar um museu em Dublin, descobriu aí "uma instalação do irlandês Patrick O'Reilly em que este protestava contra as touradas".

"Ao deparar-me com o trabalho reparei como eu, apesar de ter preocupações semelhantes, nunca tinha pensado em usar a arte nesse sentido, de uma forma tão prática, apesar de já ter realizado várias exposições", afirmou Graça Marto, que viria a conhecer pessoalmente Patrick O'Reilly cerca de dois anos depois, em Inglaterra.

O encontro foi fundamental para que a pintora - formada em Belas Artes, docente de Educação Visual e com exposições em países tão variados como Brasil, EUA, Macau, Luxemburgo ou Espanha - passasse das intenções aos actos e criasse o MIDAS.

É precisamente para este Movimento Internacional em Defesa dos Animais que revertem agora os lucros da venda do livro.