Tinha jurado a mim mesmo, em frente de uma cerveja no café do Passos, em pleno Verão, que não me ia meter na política das próximas autárquicas, tal era o desapontamento em face de nomes, esquisitos apadrinhamentos de candidaturas, algum dia jamais pensadas, rumores, histórias, o prepositado bom humor do Costa, o meu barbeiro de há bons anos, tricas, revoluções, caneladas e traições, venenos. Por isso, não admira, pelo que ouço e vejo, que o maior partido do concelho é o PI. Não, não é o Partido dos Independentes que não chegou a ir avante, apesar do entusiasmo de Fernando Silva. É o partido dos Indecisos que, pelas minhas contas, não andará longe dos 40%. Nunca se viu tanto desencanto! Bué de mau, diriam os meus netos. Mas logo os companheiros da Praça da República disseram que não punham as mãos no fogo por mim, que mais cedo ou mais tarde, ia-me acender a alma, agitar-se-me a língua, desatar a palavra. O que corria na praça era, na verdade, pouco excitante e nenhum candidato reunia entusiasmos verdadeiros, rotundos vivas, redondos olés. Tinham razão os meus companheiros que me iam ateando o tema do alcatrão, ou melhor, a falta dele, nomeadamente na rua do professor Joaquim de Carvalho, (este é um exemplo de muitos outros), Joaquim de Carvalho, ainda meu remoto parente, que também foi presidente da câmara, num tempo de vacas tão magras que não davam leite para tanta mordomia e muito menos para qualquer monumentozito em pedra calcária de Vila Verde; que não dava para fazer museu, a não ser para guardar os chapéus de republicanos como Ferreira da Costa, António Simões Barata, Joaquim Francisco Figueiredo, ou para guardar simplesmente os instrumentos gloriosos da republicana Banda e a fotografia do seu maestro, José de Oliveira. Agora, é o que se vê. Tinham razão os meus companheiros. São perspicazes e conhecem-me bem. Tanto como o meu amigo Alípio Sol que está preocupado com as obras grandes. No seu tempo, nem sonhá-las e até me interrogo a mim mesmo: por que é que o meu amigo, agora com dois cursos, vida estável e melhor arcaboiço, com conhecimento de tanta coisa e avisado pela experiência, não sonhou voltar à câmara? Nem vai à câmara nem em lista nenhuma. Por isso, não o vi no dia de toda as condecorações. Mas os outros estavam lá todos, aos magotes, por cores e afinidades, cochichando vaticínios, contando a última adesão, derrotando o adversário mais próximo com insinuações e as últimas dos blogues que estão entrar na vida privada. Porcarias, está visto. Já não me admira que estivesse lá a tribo rosa em peso (por sinal a tribo com quem mais me identifico). Contra os meus falo. É que estava lá um membro do governo, não sei se da educação ou da cultura. Para o caso, também não importa, estava e isso é que é importante. Nestas ocasiões, a tribo mobiliza, mobiliza-se, ganha prosa, respira fundo. A tal tribo que vai levar Mário Soares ao colo ou em andas à cadeira de Belém. Neste ponto, a tribo desilude-me redondamente. Qualquer dia, ainda o Eusébio vai ser chamado à selecção nacional, como já se insinua para aí. Mas temos de convir que Mário Soares já provocou moda no mundo. Bill Clinton, por exemplo, embora mais novo, quer o terceiro mandato de presidente. Tudo por causa do exemplo de Mário Soares, imagine-se o peso que tem no mundo! Mas também todas as outras tribos, neste tempo de campanha, fizeram questão de subir aos palácios de Gala, cada vez mais rodeados de monumentos para seu gáudio. Eu andei por lá, petiscando conversa aqui, saboreando conversa além, muito calmamente e senti algum nojo. Embora eu não vá a todas as realizações da câmara, sei que a maioria dos candidatos a autarcas nunca puseram os butes em evento algum. Agora, são como formiga. Vão a tudo, uns meio comprometidos, outros sem vergonha nenhuma. É a nítida caça do voto. Se lhes cheira a porco no espeto a derreter gorduras em qualquer arraialzeco ou convívio, se há jogos sem fronteiras, uma moda nova na cidade, logo lhes cheira a votos, e vá de correr. Como vão correr para tudo quanto junte dois gatos pingados, porque estes agora já são lembrados, lá vão eles afagar-lhes o pêlo, desculpem, dar-lhes uma palmada nas costas. O pior de tudo isto é que nem todos vão alcançar o poder ou as suas margens (mas também nem todos terão estaleca para isso) e muitos não se livrarão de um naufrágio, com a glória à vista, e o resultado, passada esta alegria serôdia de campanha, é a desilusão, a desistência, o virar costas ao convívio, à cultura, aos eventos: já ninguém quer saber do porco no espeto, já ninguém apresenta remédio salvador para as mazelas do concelho, já ninguém vai a lançamento de pedra, de livro, à inauguração de uma bica de água. Quando muito, vão ao Passos matar a sede. Por isso, digo que muitos destes são os tais políticos de ocasião, que vão sobrar e coçar-se proximamente de lamúrias.
Pimenta de Oliveira |