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06-10-2005

Freguesia de Canelas (Douro) solidária com famílias desalojadas


Corgo de Baixo

Vários caixotes com roupa e calçado de homem, senhora e criança, louças, roupa e adereços para as casas, foram entregues, na última terça-feira, dia 4 de Outubro, às famílias desalojadas do Corgo de Baixo por um grupo de voluntárias da freguesia de Canelas, concelho de Vila Nova de Gaia, que entregou ainda, ao autarca de Avelãs de Cima, Armando Pereira - para a conta aberta pela autarquia -, 3.337,97 euros angariados ao longo de várias semanas de peditório, porta a porta, naquela freguesia gaiense.

Não podia ficar parada

Pouco passava do meio dia, quando a comitiva, constituída por quatro pessoas (Bernardino Cavadas Tavares, presidente da Junta de Freguesia de Canelas; assistente social da Junta de Freguesia e duas voluntárias, Gilberta Silva e Arminda Martins Oliveira), acompanhadas pelas assistentes sociais da Câmara Municipal de Anadia e vereadora Teresa de Belém Cardoso chegaram para uma visita ao lugar do Corgo de Baixo.

À sua espera estavam membros das quatro famílias desalojadas que, ansiosamente aguardavam pela chegada dos visitantes que, depois da tragédia que os atingiu, lhes vieram entregar uma pequena oferta com o intuito de minorar as carências e ajudar a refazer as suas vidas das cinzas.

A JB a grande responsável e impulsionadora pela campanha de solidariedade, Gilberta Silva, revelou como tudo começou: “sou uma pequena empresária do ramo da ourivesaria e, após ver toda esta tragédia, que, desde Agosto, assola o país, achei que também eu tinha de fazer alguma coisa. Não poderia ficar parada sem fazer nada. Tinha de ajudar a minorar tanto sofrimento”.

Aos 56 anos, Gilberta Silva, que já está habituada às andanças da solidariedade e às acções de bem fazer (é voluntária num Centro de Dia) decidiu encabeçar uma campanha de solidariedade que inicialmente até se destinava a ajudar as vítimas do incêndio da Pampilhosa da Serra, tendo, por isso, começado a fazer peditório, porta a porta, logo a partir do dia 8 de Agosto. No entanto, dada a dificuldade em entrar em contacto com os responsáveis daquele concelho e após assistir, por televisão, à tragédia que se abateu sobre o concelho de Anadia, contactou a Junta de Freguesia local no sentido de encaminhar e canalizar os donativos já angariados e a angariar, nos dias seguintes, para as famílias desalojadas do Corgo de Baixo.

Indiferente ao sofrimento

“Não consegui ficar indiferente ao sofrimento destas pessoas e a mim juntou-se um grupo de sete voluntárias que me acompanha incondicionalmente nesta árdua mas gratificante tarefa”, acrescentou Gilberta Silva, que, recordando também algumas más recepções, diz nunca ter desmoralizado: “conseguimos reunir bastante dinheiro, mas também muitas peças de vestuário, calçado e louças que embalámos cuidadosamente para trazer”.

Na realidade, a freguesia de Canelas enviou uma carrinha caixa aberta carregada de caixotes com os donativos destinados às famílias do Corgo de Baixo que foram agora, temporariamente, depositadas no Centro Cultural de Anadia.

“Foram 32 noites a percorrer a freguesia, a pé, porta a porta, solicitando a ajuda e colaboração de todas as famílias. Umas receberam-nos muito bem, foram muito solidárias, outras não. Mas é sempre assim. Por vezes é difícil conseguir a colaboração de pessoas que estão a mais de cem quilómetros da tragédia, até porque estas coisas tocam mais a uns do que a outros”, explicou Gilberta Silva que ao longo de várias semanas não recusou qualquer oferta. Na garagem de sua casa foram-se amontoando dezenas de caixotes de vestuário: “tivemos o cuidado de escolher, arranjadas, lavar e passar a ferro muitas peças, por forma a chegarem aqui no melhor estado”, destacou, sublinhando também ter chegado receber “peças de vestuário novas, ainda com a etiqueta de compra”, numa atitude de solidariedade sem precedentes naquela freguesia que já, em outros momentos de catástrofe e sofrimento se tem mostrado solidária.

“Ao longo destas semanas trabalhámos até às 3 horas da manhã a separar, escolher e embalar os vários donativos que nos foram sendo entregues”, disse Gilberta Silva, considerando ainda ter sido “muito reconfortante atingir os valores alcançados”.

Uma conta bancária

Paralelamente, aos donativos entregues, Gilberta Silva, o autarca Bernardino Cavadas Tavares e mais duas voluntárias abriram uma conta bancária onde conseguiram reunir 3337,97 euros agora entregues ao autarca Armando Pereira.

A JB Bernardino Cavadas Tavares, autarca de Canelas avançou que “logo que fomos contactados decidimos apoiar incondicionalmente a iniciativa, disponibilizando apoio logístico e pessoal”.

Autarca há 16 anos e presidente da Junta de Freguesia há 8, Bernardino Cavadas Tavares sublinha que “aderi a esta iniciativa porque, como não me recandidato, não me podem acusar de estar aqui para tirar qualquer dividendo político de toda esta situação”, no entanto destaca também que “esta é a primeira vez que a Junta de Freguesia se envolve numa iniciativa desta envergadura, onde também nunca antes as pessoas da freguesia se tinham envolvido tão fortemente numa causa destas, embora já tenhamos promovido outras campanhas de solidariedade”.

Ao ver à sua volta tudo calcinado no Corgo de Baixo, com as encostas serranas consumidas pelas chamas, Bernardino Cavadas Tavares disse lamentar ver tanta destruição que mostra “a inoperância e a indiferença dos governantes face à tragédia”, defendendo ainda que “nós, autarcas, temos que estar sempre disponíveis para ser solidários. É nossa obrigação”.

Em nome dos habitantes do Corgo de Baixo, Ovídio Rodrigues avançou estar muito sensibilizado e grato pelo gesto dos habitantes da freguesia de Canelas, uma vez que o gesto de solidariedade demonstrado é “uma grande ajuda” e “reconfortante”.

Catarina Cerca


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