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02-01-2006

Existência de análises com resultados contraditórios


Concentração barcos em Aveiro devido à interdição da apanha de bivalves

Centena e meia de pescadores em 60 barcos rumaram hoje a Aveiro para chamar a atenção para a situação do sector devido à interdição da apanha de bivalves na Ria, desde há quatro meses.

"Estamos há quatro meses sem trabalho, temos os filhos na escola e família para sustentar. Não viemos aqui para criar guerras, mas para ver se alguém ajuda, porque temos 200 famílias que dependem da Ria", disse Rui Rodrigues, um dos primeiros pescadores a acostar no canal central de Aveiro.

Os pescadores da Torreira seguiram depois para o Governo Civil, onde foram recebidos pelo governador, Filipe Neto Brandão, a quem expuseram a situação e pediram para sensibilizar o Executivo para que sejam accionados mecanismos de compensação pela inactividade.

António Macedo, do Sindicato das Pescas do Norte, disse à Lusa que "a situação está a levar as famílias ao desespero total, por uma interdição da qual não têm culpa alguma".

"No imediato, o Governo deve accionar os mecanismos de compensação que estão previstos, através do Instituto de Fomento das Pescas (IFOP) com as verbas da União Europeia", disse à Lusa o sindicalista.

A intervenção da Segurança Social através do rendimento mínimo social não chega para fazer face à situação, na perspectiva do Sindicato, porque "não resolve o problema e apenas irá abranger casos de quase indigência".

Segundo António Macedo, é igualmente urgente "uma alteração legislativa para que o Fundo de Compensação Salarial possa passar a abranger também as águas interiores".

Outra reivindicação da comunidade piscatória é que as análises periódicas que são feitas em Lisboa passem a ser feitas na região, nomeadamente nos laboratórios da Universidade de Aveiro, "para haver uma maior proximidade entre os investigadores e os pescadores e evitar este clima de desconfiança".

A existência de análises com resultados contraditórios, nomeadamente de amostras enviadas para a Galiza, tem suscitado dúvidas entre os pescadores sobre os motivos da interdição.

"O IPIMAR [Instituto Português de Investigação das Pescas e do Mar] faz análises todas as semanas e o percurso até Lisboa não é feito nas melhores condições, mas as análises para serem válidas têm de cumprir um conjunto de requisitos e não sei se isso aconteceu com as análises paralelas feitas na Galiza", disse à Lusa António Macedo.

Segundo dados da Associação de Pesca Artesanal da Região de Aveiro (APARA) existem 800 embarcações de pesca activas na Ria de Aveiro, 268 das quais estão licenciadas para a apanha de bivalves.

Até 11 de Agosto, quando foi declarada a interdição pelo IPIMAR, a lota da Torreira tinha registado vendas de 1,3 milhões euros que correspondem a mais de 50 por cento do total da Ria de Aveiro.


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