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03-01-2006

Sou um republicano convicto e por isso deveria estar mais empenhado


Editorial - Presidenciais

Ainda não tinha abordado nestes escritos semanais o tema das eleições presidenciais. Confesso que das várias vezes em que pensei rabiscar algumas palavras e arrumar algumas ideias sobre o tema, me faltou a vontade, o interesse, ou apareceram assuntos mais atraentes ou actuais.

Sou um republicano convicto e por isso deveria estar mais empenhado e motivado nestas eleições que plebiscitam o futuro chefe do nosso Estado. Mas, de facto, não estou porque estas eleições ameaçam estar um pouco desfocadas da realidade do nosso País e desenquadradas no nosso real estado como Nação.

As eleições presidenciais estão a ser apresentadas aos portugueses como aqueles programas de televisão anunciados insistentemente, com meses e meses de antecedência, e que depois se revelam um desaire, produzindo um sentimento de desilusão ou aparecem como um engano.

As presentes eleições presidenciais arrastam-se na vida política nacional, há meses demais. Consomem horas de televisão e rádio, páginas de jornais há quase um ano. Parece que agora nos querem anunciar um messias salvador desta III república, capaz de resolver todos os problemas e alavancar o nosso desenvolvimento. O presidente deverá, pasme-se, interferir nas deslocalizações das empresas, nos preços dos combustíveis, etc. O governo governará por influência do presidente e não por vontade própria. Um claro engodo político. Os poderes presidenciais tão debatidos por este regime não passam de mera e folclórica interferência na gestão parlamentarista em que vivemos. A possibilidade de virmos a mudar para um regime presidencialista como o francês ou americano é quase um golpe de estado e, portanto, não vale a pena vivermos a pensar em golpes palacianos de guardas pretorianas ou republicanas. Começo a achar, contra a minha republicana vontade, que se puserem o regime em plebiscito, o povo ainda vota no regresso da monarquia, tão triste que anda com este espectáculo republicano.

Desde o verão passado, que sabemos das tricas que consumiram a esquerda para arranjar um candidato - conseguiram cinco. Das manobras soaristas para tentar ser entronizado como rei desta festa, mesmo depois de ao melhor estilo futebolístico ter dito, em Dezembro de 2004, perante as suas cortes, que "de política, sinceramente vos digo basta! Tenho o direito de pensar e fazer outras coisas". Mas, para Mário Soares, a quem tudo se perdoa, (a descolonização exemplar), e a quem tudo se deve (a entrada para a CEE), o tempo ainda pode voltar para trás, o que seria um péssimo indicador para este nosso Portugal. Agora, temos de o aturar "sinceramente" ouvindo-o a queixar-se que a comunicação social só publica fotografias suas de costas, ou com o dedo no nariz, ou rodeado de cadeiras vazias e de gente VIP. A táctica é conhecida e aplica-se àqueles que se vêem a um mês de perder eleições! A esquerda socialista não conseguiu, por isso, arranjar um candidato forte embora alguns bravos se andem a esforçar por ultrapassar esse problema de ofuscação soarista. A direita resolveu mostrar o que tem de melhor embora o escolhido não reúna todas as sensibilidades e comprometa muitos eleitores da chamada direita.

Ficamos à espera da campanha mas não acredito que alguma coisa se altere.

António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada


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