Muitos restaurantes abandonaram já o tradicional galheteiro, antecipando um diploma que obriga a servir o azeite em embalagens invioláveis, uma medida aplaudida pelos defensores dos consumidores que apenas lamentam que o vinagre tenha sido deixado de fora. A Associação Portuguesa do Direito do Consumo (APDC) salientou que a portaria que entra em vigor quarta-feira "salvaguarda acima de tudo a saúde dos consumidores", uma vez que os galheteiros não são muito higiénicos e permitem adulterações ao produto. "Mas lamentamos que a medida não tenha sido estendida ao vinagre", comentou Pedro Domingues, da APDC, em declarações à agência Lusa. Embora possa ser mais tentador adulterar o azeite (por ser mais caro), as questões da higiene também se estendem, no entender da APDC, ao vinagre. A Casa do Azeite - Associação de Azeite de Portugal lembra que as novas regras surgiram pela constatação de que a utilização de galheteiro "não correspondia às regras básicas de higiene" e não dava informação ao consumidor. "O prazo de validade ou o tipo de azeite são informações necessárias que estão no rótulo e que o galheteiro não permitia passar ao consumidor", justificou a secretária-geral da Casa do Azeite, Mariana Matos. Referiu também que a portaria foi publicada há um ano em Diário da República, o que "deu tempo às empresas embaladoras e aos restaurantes para se prepararem" para as alterações. Segundo Mariana Matos, grande parte das empresas embaladoras e das marcas de azeite já estão adaptadas para cumprir a legislação. Para facilitar a adequação dos restaurantes, a Casa do Azeite promoveu vários cursos de formação gratuitos, onde se explicava a portaria e se fornecia informação mais vasta sobre o azeite. "Ao longo do último ano foi-se notando que existe uma larga faixa de restaurantes que foi adquirindo as novas embalagens para o azeite", disse. Os restaurantes devem agora apresentar aos consumidores garrafas de azeite invioláveis ou unidoses em saquetas ou em pequenas garrafas com tampa inviolável e com rotulagem, o que permite identificar a origem do produto. Apesar do trabalho de adaptação a que são obrigados os restaurantes, a associação do sector admite que o abandono dos galheteiros tem grandes vantagens para os consumidores. "Continuamos a sensibilizar os nossos associados para as vantagens das novas embalagens e da rotulagem do azeite", disse à Lusa Susana Ferreira, da Associação da Restauração e Similares de Portugal (ARESP). "Verificamos que a rotulagem tem a grande vantagem de o consumidor poder escolher o azeite e as embalagens invioláveis têm a vantagem de garantir as características do produto, como o sabor e o aroma iniciais", constatou a ARESP. Também os proprietários de restaurantes aplaudem o adeus ao galheteiro, embora assumam que é mais caro comprar as novas embalagens. No David da Buraca, em Lisboa, os galheteiros já saíram das mesas há mais de três meses. "Já só uso umas garrafinhas com azeite que são invioláveis. Acho que é mais higiénico, mas para nós sai mais caro. O azeite a granel sempre é mais em conta", comentou à Lusa o proprietário do David da Buraca. Também no restaurante Abadia, no Porto, as "garrafinhas de azeite em miniatura" ocupam já as mesas dos clientes há quatro ou cinco meses. Além de considerar as novas embalagens mais higiénicas, o dono do Real Feitoria, em Bragança, alerta que os galheteiros podiam prejudicar a qualidade do azeite e enganar os consumidores: "em muitos sítios não se sabe o que podem colocar lá dentro". Apesar de só ter posto de lado os galheteiros no mês passado, este proprietário também já sabe que pagará mais. "Não sei quanto ao certo, mas sei que fica mais caro, mas não será uma diferença de preço assim tão significativa", disse à Lusa. Não é a preocupação com o prejuízo que faz com que no Doce Pecado, em Lisboa, os galheteiros ainda estejam à disposição de todos. "Tenho conhecimento da portaria e sabia que entrava em vigor este ano, mas não sabia exactamente qual a data", contou o gerente deste restaurante. Embora ainda só use os tradicionais galheteiros, afirma concordar com a nova forma de apresentar o azeite: "Acho bem. Até porque nalguns sítios poderia haver gato por lebre". O gerente do Doce Pecado deixa ainda um recado às entidades fiscalizadoras: "o controlo agora tem é de ser feito nas empresas embaladoras". |