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11-01-2006

Suprimidos dez estabelecimentos de ensino


Anadia - Dez escolas não abrem no próximo ano lectivo

Dez escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico no concelho de Anadia não vão abrir portas no próximo ano lectivo. No Agrupamento Vertical de Anadia são quatro as escolas (Canelas, Vale de Avim, Alpalhão e Algeriz) que terminam, no final deste ano lectivo, a missão para a qual foram criadas. Já no Agrupamento Vertical de Vilarinho do Bairro as escolas de Pedreira de Vilarinho, São Lourenço do Bairro, Quinta do Perdigão, Sá, Couvelha e Espairo vão ter o mesmo destino.

Medida nada consensual

Assim, no concelho de Anadia vão ser suprimidos dez estabelecimentos de ensino, dando cumprimento à indicação do Ministério da Educação que pretende encerrar todas as escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico que deixem de ter frequência superior a 10 alunos.

Uma medida que não tem sido nada consensual no país e no concelho. Por um lado, os pais que, na grande maioria, indignados com a medida, não querem ver os seus educandos saírem das escolas das terras e lugares onde nasceram, assim como do seio das famílias; por outro, os professores que, divididos entre os prós e os contras da medida, temem pelo futuro e pela possibilidade de aumento do desemprego na classe.

No centro de toda esta polémica, está um “braço de ferro” de argumentação dos prós, dos contras, mas também das razões que conduziram a esta situação.

Uns apontam o dedo à progressiva baixa de natalidade, no entanto, muitos outros consideram que as causas do encerramento ficam a dever-se às opções políticas de sucessivos governos que conduziram a esta “inevitabilidade”. No entanto, todos parecem consensuais num aspecto: se os pólos já estivessem criados e a funcionar a situação do encerramento destas pequenas escolas seria encarada de maneira diferente, o que não acontece. Na verdade, a avançarem, os pólos ainda vão demorar, pelo menos, cinco anos a abrir portas, isto é, se não houver novamente mudanças nas orientações políticas.

Para já, a única certeza é que a maioria dos pais rejeita esta proposta, estando em curso, no concelho, um abaixo-assinado que acreditam poder “travar” o encerramento das 10 escolas.

Posição dos Agrupamentos

Contactado o Agrupamento de Vilarinho do Bairro foi-nos avançado que “pedagogicamente, escolas com dois, quatro e cinco alunos não têm lógica de existir e continuarem a funcionar”, como são os casos das escolas de S.Lourenço do Bairro, Sá, Quinta do Perdigão e Pedreira de Vilarinho, até porque, “em matéria de socialização e convívio, estas crianças, quando chegam ao 5º ano, provenientes de escolas com esta dimensão, têm muito mais problemas de adaptação e integração”.

Relativamente aos casos das escolas de Espairo e Couvelha - que poderiam não fechar de imediato - Eduardo Simões avançou que “o inevitável aconteceria dentro de um ou dois anos, uma vez que, em Espairo, já não há matrículas de meninos há dois anos, enquanto que, em Couvelha, as crianças desta escola, que já frequentam o ATL e o almoço, na Pedralva, ao passarem para aquela escola que mantém actualmente, dois lugares, vão permitir assegurar, por mais alguns anos, aqueles dois lugares e a escola aberta. Ou seja, sacrifica-se uma escola para que outra não venha a sofrer o mesmo (encerramento) dentro de um ou dois anos.

Eduardo Simões acrescenta ainda que “não se trata de uma medida meramente economicista do Ministério”, dando, como exemplo, os casos das escolas de Horta, Banhos e Levira, que encerraram, há já alguns anos, por falta de alunos, não tendo sido necessário qualquer decreto.

Este responsável explicou ainda ao nosso jornal que “as escolas encerram por falta de alunos mas porque os pais pedem transferências para outras escolas, pois, se analisarmos a estatística do concelho, verificamos que as escolas grandes são cada vez maiores e as mais pequenas cada vez menores”.

Embora não rejeite o modelo proposto pelo Ministério, este Agrupamento defende que várias situações têm de ser acauteladas, nomeadamente as que dizem respeito aos melhores interesses dos alunos e dos professores, admitindo que “a situação é inevitável” e com ela se dão os “primeiros passos para a criação dos pólos escolares onde poderá ser ministrado um ensino de qualidade desde que também não haja a massificação. Pólos que devem ter um corpo docente estável e turmas de 18 a 20 alunos no mesmo grau de ensino, devendo um professor acompanhar os alunos do 1º ao 4º ano”.

Fonte do Agrupamento de Anadia avançou-nos uma posição semelhante à avançada pelo Agrupamento de Vilarinho do Bairro, defendendo ainda que “o parecer da Câmara Municipal terá de assumir o transporte e a alimentação das crianças”.

Posições contrárias nas escolas

Numa visita às dez escolas que vão encerrar no concelho de Anadia JB ouviu vários professores e várias posições perante a medida. Assim, de acordo com alguns docentes, entrevistados pelo nosso jornal, embora seja verdade que se trabalha muito melhor com um grupo reduzido de alunos, o que permite um ensino mais individualizado, também não é menos verdade que reconhecem que, em matéria de sociabilização e convívio, estas crianças que frequentam escolas com muito poucos alunos, beneficiam mais, se estiverem integradas em escolas maiores e com melhores recursos materiais e tecnológicos, onde também é possível desenvolver outras áreas (expressões plásticas, música, ginástica).

Aliás, muitos dos docentes contactados consideram este tipo de escolas (com um, dois ou três alunos) desagradáveis e desmotivantes, não só para os professores como também para os alunos: “o tempo parece que não passa devido à rotina, à monotonia e à falta de motivação”.

No entanto, também encontramos posições diametralmente opostas, realçando serem mais os prejuízos do que os benefícios, considerando a medida prejudicial “pois as crianças perdem não só o elo com as suas raízes, a família (avós), mas também os laços afectivos e humanos que conseguem estabelecer com o professor neste tipo de estabelecimento, até porque muitas destas crianças, oriundas de famílias humildes e carenciadas, precisam de um acompanhamento permanente e cuidado”.

Um outro aspecto registado é que a grande maioria reconhece que estas escolas pequenas lutam com enormes carências, sobretudo materiais e tecnológicas. Mesmo assim (apesar das construções antiquadas, material envelhecido e poucos recursos para a realização de actividades como ginástica ou música) também encontrámos quem considerasse que: “nesta escola, temos tudo o que precisamos: telefone, televisão, aquecedores, computador, impressora, todos os recursos materiais e tecnológicos como os que existem nas escolas maiores”.

Mas, se esta questão pouco diz às crianças, a verdade é que os pais e encarregados de educação não têm aceite nada bem a medida. Segundo algumas opiniões, os maiores transtornos vão ser para os pais que, indignados, não vêem com bons olhos o encerramento destes equipamentos, admitindo que a autarquia terá de assegurar o transporte e o serviço de alimentação para estas crianças, uma vez que muitos lutam com grandes dificuldades económicas e de mobilidade: “situações difíceis e complicadas que terão de ser acauteladas”, a que acrescenta ainda a dificuldade (para muitos) em suportar os encargos, por exemplo, com um ATL.

Já os professores, como seria de esperar, temem pela instabilidade profissional e o quase inevitável aumento do desemprego.

Posição da Câmara

Contactado o vereador Jorge Sampaio, da Câmara Municipal de Anadia, este responsável apenas avançou, a JB, ainda não ter tido qualquer indicação para o encerramento daqueles estabelecimentos de ensino: “sabemos o que os órgãos de comunicação social sabem e aguardamos que nos sejam dadas, pelo Ministério, orientações sobre as medidas a seguir, em relação ao próximo ano lectivo”.


Catarina Cerca


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