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26-01-2006

Temos a mania das grandezas


Palavras (in) discretas - Pobreza nossa de cada dia

Nós, portugueses, em certas coisas, temos a mania das grandezas, se calhar, reminiscências de um império mal aproveitado. Por um lado, somos o país que tem mais carros de topo de gama, somos o povo que mais usa o telemóvel; por outro, vivemos a prestações, de fiados (a grande maioria) e, depois, com o peso damos com os burrinhos na água.

Os lugares cimeiros que ocupamos nas tabelas europeias nunca é por boas causas, pelo bom desempenho na economia, pelo bom aproveitamento dos fundos comunitários, pela melhor produtividade.

Por exemplo, agora, chegou-nos outra má notícia: somos o país mais pobre da União Europeia, o da tanga. Mais de dois milhões de portugueses estão no limiar da pobreza. Com esta dicotomia preocupante: cada vez temos mais ricos (o que não é mau) e, simultaneamente, cada vez temos mais pobres (o que é péssimo).

Entre uns e outros, o fosso dos remediados e mal remendados, o pão comido à míngua - uma classe média cada vez mais sugada pelos impostos, a definhar de ano para ano, restando um vazio explosivo.

Não é que a galinha da vizinha (Espanha) seja melhor do que a minha, mas a verdade é que é mesmo. Está gorda e invade, a cacarejar de arreganhada crista e de asa satisfeita, o nosso espaço. Em Serpa há espanhóis a fazer (vinha) o que à nossa coragem falta.

Este mal vem de trás. Libertados de um sistema político castrador, dizem os historiadores, logo nos acenaram, em Abril, com um mundo de facilidades e bacalhau barato. E, logo que vieram os fundos europeus, mal distribuídos e pior geridos pelos ministérios (veja-se o que ganhou a agricultura que continua de rastos...), todos exclamaram “estamos ricos” e, pior, sentaram-se à sombra de qualquer chaparro.

Quem ganhou com isso?

O país não foi.

Bom, sejamos correctos, sempre ganhou em estradas e pouco mais.

O resto caiu em saco roto.

Os milhões não chegaram à agricultura que, por deficiente informação ou desvios, se ficou a olhar a leiva antiga. Resultado: recebeu apenas tostões (hoje seriam cêntimos...) que não deram para cantar o ceguinho, enquanto, ao lado, os congéneres abriram os olhos e meteram aos campos máquinas modernas para uma leiva nova e menos suada.

Agora, a União Europeia aprovou para Portugal outro bolo de muitos milhões, que deverão render, nos próximos anos, muitos mais e sobretudo levedar melhor futuro a que se deve associar empenho, imaginação, trabalho, saber e suor. Sem isso, nada feito!

Espera-se, agora, que se corrijam desvios, linhas travessas, arranjos e desmandos, que se evitem todos os sacos rotos e mãos sujas, de modo que não cheguem ao sector, que mais pobres faz - a agricultura, apenas uns cêntimos.

Como se espera que o governo tenha êxito na campanha, que está a ser desenvolvida pelo Ministério do Trabalho e Segurança, com a criação do “ Dia do Emprego”, que se quer seja todos os dias.

Importante é que haja em cada dia o suave e gratificante pão nosso do emprego.

Ouro sobre o azul é que se fortaleça em cada dia a alavanca da nossa esperança

Mas é bonito como um slogan de chocolate.

Mas é aliciante como uma promessa.

Mas pode ser também vazio, pobre e demagógico “pra burro”.

Só para português ver.


Armor Pires Mota


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