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05-04-2006

Este ministro anda envolvido numa guerra


Editorial - “Interpolem-nos”

A demissão do director nacional da Polícia Judiciária não foi, por certo, o melhor momento do actual governo. Hoje, o dia em que escrevo esta crónica, estala nos jornais uma espécie de guerra de comunicados e declarações, para se tentar dar a entender que afinal, não foi o director nacional da judiciária que se demitiu, mas que, ao invés, na reunião que teve com o ministro Alberto Costa, este, em gesto de antecipação, qual defesa a cortar a bola ao avançado, zás - entregou-lhe um despacho de exoneração. Lindo! Educação e consideração não abundam lá por Lisboa. O ministro deve ter demorado tanto tempo a estudar a jogada que se esqueceu do essencial. O porquê da coisa ou seja da demissão e a origem do problema.

No fundamental este ministro anda envolvido numa guerra com o seu colega ministro António Costa, apenas porque não tem peso político perante o primeiro-ministro e deixa o falcão da administração interna usurpar-lhe poderes. Esta é uma guerra de capelinhas, tão usual em Portugal, e que já deveria ter sido anulada pelo primeiro-ministro. Mas como não o foi, deu no que deu. Talvez o nosso primeiro-ministro andasse mais ocupado a resolver a “calinada” da sua ministra da Cultura com a colecção Joe Berardo.

Alberto Costa foi pelo caminho mais fácil. No imediato, acha que resolveu um problema, mas, não, adiou-o. Muito à boa maneira portuguesa, resolve-se uma dificuldade, tirando-a da frente. A única coisa que o ministro decidiu foi a sua questiúncula pessoal com o magistrado que chefiava a polícia judiciária, mas decerto que, a prazo, não vai evitar a confrontação com o seu colega da Administração Interna António Costa. A talho de foice, o Primeiro-Ministro também adiou por 10 anos a resolução do problema que a Ministra da Cultura arranjou com Joe Berardo. Daqui a uma década, até já nem é ele que tem que solucionar o problema da colecção de arte.

É assim a vida, como lhe dizia o mentor Guterres. Não há nada a fazer.

Mas, voltando à judiciária. Esta lamentável actuação do ministro não vai evitar a já mais que latente tensão entre os ministérios da Justiça e da Administração Interna. Também não vai fazer esquecer as verdadeiras causas desta crise - uma polícia desmotivada e desgastada pela falta de tacto com que o ministro lidou com a necessidade e justeza de adequar os meios de investigação às dificuldades económicas do país. Se o ministro achava que este director não era capaz de executar a sua política, então, deveria tê-lo substituído antes de arranjar este conflito na praça pública.

Agora, tanto ele como o seu novo director partem duma posição de fragilidade evidente tanto aos olhos dos portugueses, mas sobretudo aos olhos dos profissionais da Judiciária que deveriam ter sido poupados a esta guerra intestina entre dois ministros que pelejam pela tutela da Interpol.


António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada


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