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13-06-2006

É importante avaliarmos a nossa capacidade


Editorial - 10 de Junho — Dia de Portugal

Passou mais um Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Mais do que as celebrações, as paradas militares (este ano, mais imponentes), as festas, as condecorações, fica o discurso do Presidente da Republica.

Usando uma frase semelhante àquela que celebrizou John F Kennedy; “perguntem-me não o que o vosso País pode fazer por vocês; perguntem-se sobre o que podem fazer pelo vosso País”, o Prof. Cavaco Silva interpelou cada um de nós dizendo; “Neste dia 10 de Junho, quero interpelar directamente os Portugueses, todos e cada um, exortando-os a reflectir sobre o que desejam e o que se dispõem a fazer pelo seu País.”

Acho que o Sr. Presidente da República tem razão ao provocar este debate no interior dos portugueses ou, pelo menos, a tentar impô-lo.

É importante avaliarmos a nossa capacidade de investimento pessoal ou de risco, a real quantidade de inconformismo individual, enfim, o que cada um pode contribuir para o bem comum. A reflexão deverá incidir sobre o projecto que cada um tem sobre o seu Portugal.

Como disse Cavaco Silva no sábado, “há uma certa tendência para atribuir aos outros muito daquilo que nos acontece. Damos a impressão de que não nos conformamos com as coisas e, no entanto, esmorecemos na vontade de as mudar. Acreditámos que as riquezas da Índia, do Brasil ou da África ou que os fundos da União Europeia seriam suficientes para trazer o progresso por que ansiávamos.”

Enganámo-nos, ou talvez não.

No fundo, todos sabemos que, sem trabalho, sem esforço ou sacrifício individual, não vamos lá. Os dotes, sejam eles quais sejam, só adiam os nossos problemas. Sabemos isso desde o século XVI e, mesmo assim, ainda não aprendemos.

Mas não basta, como disse o Professor, interiorizarmos as mudanças que preferimos, nem inspirarmo-nos na diáspora dos nacionais que venceram fora de portas. Já não é mau pararmos para reflectir, mas temos que fazer mais, muito mais.

É preciso sermos consequentes nas acções, intervenientes e críticos na nossa sociedade para melhor a construirmos. Como escreveu o recentemente falecido filósofo, Fernando Gil no seu livro ‘Portugal, Hoje - O Medo de Existir’ é necessário “inscrever”, ou seja tomar partido sobre as coisas, fazê-las acontecer. Isso, aliado ao processo de reflexão, proposto pelo Presidente da República, seria já um grande avanço para o nosso País.

Por isso, é importante também repensar os políticos que permitimos que nos liderem. O recente exemplo dos líderes que endividaram autarquias a níveis insustentáveis, para construírem estádios de futebol, deveria merecer uma consequência mais directa que a simples perda de mandato pelo voto popular. Afinal, a comparticipação do Estado, que deveria ser de 25% foi de apenas de 13% no volume da obra, em consequência das derrapagens orçamentais consentidas. Mas este não é, infelizmente, um caso isolado.

Esta é também uma vertente do inconformismo que os Portugueses devem fazer inscrever na sua agenda diária contra o imobilismo que apenas serve os fazedores do nada ou do caos para que caminhamos.

António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada


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