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04-07-2006

A Igreja de Cristo não é uma empresa


Exame de consciência em final de ano

Celebram-se neste tempo de encerramento do ano pastoral, o Dia da Igreja Diocesana e o Dia da Comunidade Paroquial, convocando para a sua celebração festiva todos os diocesanos e paroquianos para que convivam, partilhem, cresçam no conhecimento mútuo das suas pessoas e actividades apostólicas e revejam o caminho andado e vivam uma experiência eclesial. Tão grande significado têm estes dias que, na Diocese e nas suas comunidades, não se programam outras actividades que possam dispersar os cristãos e, na própria paróquia, o “Dia da comunidade” permite alterar o ritmo dominical normal, a fim de convocar a todos para um mesmo local e celebração.

Os acontecimentos eclesiais que marcam o sentido comunitário da Igreja, merecem sempre uma especial atenção. São importantes para assinalar, pelo contributo que dão, a mudança de mentalidade e de atitudes, em relação à Igreja de Cristo, visível na Igreja Diocesana, confiada ao ministério do Bispo, seu pastor, o qual, pela força do Espírito, a conduz no amor, segundo critérios essenciais, como são o Evangelho e a Eucaristia.

A nenhum cristão bem informado passa despercebido que a concepção conciliar da Igreja tem o seu acento fundamental na Igreja de Comunhão.

A hierarquia, que durante séculos, por razões históricas, que quase abafaram as evangélicas, apareceu como referência eclesial, aparece agora, no Concílio Vaticano II, como um serviço essencial à missão da Igreja, Povo de Deus chamado a reconhecer Jesus Cristo como seu fundamento e empenhado em aumentar e comunicar a vida que dele recebe. O desígnio de Deus realiza-se numa comunidade de fé e fraterna que é sacramento ou sinal deste desígnio e, ao mesmo tempo, instrumento da união íntima dos crentes com Deus e da construção da unidade no mundo.

Comunhão e unidade são expressões que ajudam à compreensão da Igreja, no que ela tem de essencial, e ao seu crescimento, dando sentido de verdade e de consistência à sua missão.

Todos os acontecimentos marginais, que minimizam ou escurecem o sentido destes dias, eminentemente comunitários pelo que exprimem e fomentam, significam uma perda na acção pastoral e um voltar atrás no sentido e na urgência de construção, em unidade, da Igreja de Comunhão.

O Dia da Comunidade Paroquial tem sentido e futuro se parte de uma participação alargada no Dia da Igreja Diocesana ou a ele conduz, como experiência eclesial, maior e mais significativa. A razão é óbvia. A Diocese não é a soma das paróquias, mas a Igreja particular em que está e opera a Igreja de Cristo e na qual todas as comunidades, paroquiais ou outras, encontram a sua verdade, na comunhão e na unidade. Os padres são colaboradores necessários do Bispo que preside à comunhão, e a sua acção pastoral só encontra uma total legitimidade, que de outro modo não existe, na união com ele e com os projectos comuns de edificação da comunidade e de vivência da comunhão

A Igreja de Cristo não é uma empresa onde cada um dos responsáveis tem os seus objectivos próprios e as suas estratégias pessoais ou grupais. Qualquer expressão, por generosa que seja, que não traduza a comunhão eclesial e a não fomente é pastoralmente espúria e negativa. Também na Igreja o individualismo cheira a cisma e divisão e nele não se pode comprometer o Espírito, que congrega na unidade, dá a Vida e a renova.

Neste final do ano pastoral, é necessário que todos os responsáveis, clérigos ou leigos, nos interroguemos sobre os passos dados em ordem à visibilidade da Igreja Comunhão, bem como à sua edificação com critérios teologicamente certos. O Dia da Igreja Diocesana e o Dia da Comunidade Paroquial são momentos propícios para avaliar, neste sentido e nas suas diversas expressões, o trabalho pastoral e apostólico de todo o ano.

António Marcelino*
*Bispo de Aveiro


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